Espantou-me os variados entendimentos que as pessoas possuem acerca do significado do culto. Uns o imaginam como o “repetir longas séries de gestos rituais”; outros, “participar dos atos litúrgicos”, o que implica em alguns momentos de comunhão; e ainda, esforçam em “erigir altares, erguer templos e construir capelas”; e finalmente, os que imaginam que “exercícios espirituais: leituras, orações, hinos, jejuns, devoções e vida disciplinada”, refletem o que é cultuar a Deus.
Primeiramente é imperioso saber que o culto não é um meio de se alcançar favores divinos nem a busca de dons espirituais a fim de aplacar a ira de Deus, ainda que alguns o fazem; e, pior, esperam tirar vantagens imediatas, como a prosperidade nos negócios. Deus rejeita assembléias solenes, dias santos, não suporta os cânticos de louvor, Ele se recusa a ouvir as súplicas e ignora os seus insistentes sacrifícios e ofertas, quando há contradição com o viver diário.
As reuniões litúrgicas (cultos) têm seu devido valor quando expressam a realidade da vida inteira do adorador. Deus não quer que departamentalizemos nossas vidas, ou seja, que vivamos de uma maneira (com hipocrisia, desatentos com os oprimidos, e perpetuando o mal) e nos apresentemos para o culto litúrgico, como se nada disso estivesse ocorrendo. Deus não quer o “dualismo que dissocia a celebração cúltica do compromisso de vida, do caminhar com Deus”. Deus quer que transformemos “todos os gestos em prol da vida em culto e adoração ao Deus Eterno”. Liturgia é comunicação, meio pelo qual o homem busca e é encontrado por Deus.
Impressionante como a liturgia, pelas vias racionais próprias das palavras e pelas vias sensoriais próprias dos gestos, além das vias subjetivas das emoções, alcança e atinge a consciência das pessoas. Essas vias por estarem guardadas (fechadas) no interior de cada pessoa, ao serem tocadas, são abertas e desembocam em liberações emocionais que resultam em riso, choro, ira, ternura, indignação ou compaixão, onde resultam intensos êxtases conscientes e não racionais. A comunicação, através de liturgia, alcança, pelo método “de fora para dentro”, e numa comunicação eficaz, molda, de alguma forma (se temporário ou não), essa pessoa, fazendo-a manifestar-se, expondo suas emoções. Questiona-se, se o conteúdo vindo de “fora” é edificante ou apenas persuasão.
O exagero na ênfase ao emocional é a grande mola propulsora pela qual a mídia se utiliza para que suas programações tenham grande audiência e seus objetivos alcançados. Explorando as experiências emocionais em detrimento dos argumentos racionais, a mídia, dá uma dose extra e inclui, em todas as atividades da vida, o entretenimento, como áreas principais de suas vidas. Assim, com as emoções manipuladas, em certos cultos, o entretenimento, o espetáculo do culto é a forma de alcançar as pessoas, mas na verdade estão dando um parêntese entre as realidades de suas vidas. A comunicação nos cultos, nesses casos, torna-se vazia e servem mais de terapias do que comprometimento de vida cristã e do caminhar com Deus. Evidentemente que as terapias têm seu valor, mas não resulta em compromissos.
Por entender que o culto é a forma litúrgica onde, através de uma comunicação equilibrada e séria, pode-se abranger o ser humano por completo, deve ser feita com denodo. Utilizar-se da comunicação que alcance as emoções não é de todo errado, ao contrário, somos seres emocionais. O errado é esquecer-se de outros aspectos, tão importante quanto os emocionais, tais como o sensorial e o racional. Ter esse equilíbrio é abranger todo o espectro comunicacional humano. A tônica aqui é o equilíbrio na adoração congregacional.
Deixo aqui a reflexão: Como são os cultos em sua igreja? Eles são conduzidos ao compromisso ou ao entretenimento?
A Deus, toda a glória!!