Jó não tinha sua vida preciosa a seus próprios olhos, não buscava honra para si mesmo, e ainda assim, em sua inocência em relação a isto, estava sendo destruído por Deus, e então somente poderia concluir que Ele destrói tanto o reto quanto o ímpio (v. 22).
Nem mesmo o seu sofrimento poderia purificá-lo tornando-o justo perante Deus.
Então todo o trabalho, todo o esforço no sentido de buscar ser julgado por Deus para ser inocentado, se revelaria no final, um trabalho vão, porque Deus não o tomaria por inocente. Então o seu livramento não seria baseado na sua inocência, porque ninguém é inocente perante este Deus terrível e santo.
Ainda que se lavasse com a água pura extraída da neve, e que limpasse suas mãos com sabão, Jó estava convicto que Deus mesmo assim o submergiria no fosso.
Ele sabia que Deus não é homem, como ele era, para que pudesse lhe falar de igual para igual em juízo, e que não há ninguém que possa se colocar como árbitro entre Deus e os homens.
Então, se buscar ser achado justificado por Deus baseado em sua própria justiça, a causa do homem já se encontra desde o início, perdida.
Para que pudesse falar com Deus, sem temor, seria necessário que Deus tirasse primeiro a vara da disciplina que havia colocado sobre ele, e que removesse o terror que havia trazido sobre ele.
Por isso Jó disse a seus amigos que a única coisa que lhe restava como direito era poder dar livre curso à sua queixa e falar da amargura da sua alma, porque estava cheio de tédio pela sua própria vida (Jó 10.1). Ele esperava que ao menos com isso, achasse misericórdia diante de Deus, movendo a Sua compaixão em favor dele.
Se devesse dizer algo a Deus, somente lhe pediria que não o condenasse, e que lhe fizesse saber por que estava contendendo com ele, porque afinal Deus e a Sua vontade era tudo para ele.
Jó estava convicto da sua integridade perante o Senhor, e sabia que Deus também sabia que ele não era ímpio (v. 7). Então por que estava tendo prazer em oprimi-lo e em desprezá-lo, favorecendo o desígnio dos ímpios que lhe estavam desprezando e zombando dele? (v. 3).
Afinal, Jó sabia que Deus não vê e não avalia e julga conforme fazem os homens, de modo que não poderia deixar de ser misericordioso para com as nossas faltas eventuais e que não temos prazer de cometer por sabermos o quanto entristecem o Seu Espírito.
Jó reconhecia que ele, como todo homem, era obra das mãos de Deus. Foi o Senhor que o tecera no ventre da sua mãe e que colocara nele o espírito, conservando-o em Sua providência, para que não se desfizesse como o corpo natural que torna ao pó na morte (v. 10 a 12).
Contudo, Deus guardou para Si o modo como criou o homem, porque isto foi da Sua vontade. Mas revelou ao homem que o criara para ser santo e responsável perante Ele, de maneira que nenhuma iniquidade pode ser absolvida por causa da justiça perfeita de Deus.
Por isso Jesus teve que morrer na cruz, porque Deus não pode absolver o culpado, senão perdoá-lo. Cristo sofreu a condenação, de modo que não houve absolvição da culpa, mas pagamento da pena de modo perfeito por Cristo na cruz.
De modo que o incrédulo não poderá achar misericórdia no juízo, uma vez que não pode ser absolvido da culpa que tem perante Deus, por que não tem depositado sua fé em Cristo, que foi o único que carregou sobre Si a nossa culpa.
O próprio justo, como tem sido justificado pela graça que há em Cristo, e por ser ainda pecador enquanto estiver neste mundo, não pode levantar a cabeça perante o Senhor por sua própria justiça, porque está farto de ignomínia, e de contemplar a sua própria miséria (v. 15).
Por isso, mesmo ao justo altivo que andar na soberba, Deus o caçará como um leão feroz para abatê-lo em sua exaltação.
Há miríades de testemunhas de Deus (anjos) que podem no acusar perante Ele dos nossos pecados.
Jó não tinha a esperança e o consolo do céu que nós temos, porque isto não havia ainda sido revelado por Deus, na plenitude em que foi revelado a nós.
Ele pensava que o espírito, mesmo do justo, iria depois da morte, para um lugar de escuridão e densas trevas, juntamente com o seu corpo (v. 22).
Então, quando estava pedindo a Deus que o matasse estava apenas querendo um pouco de alívio das suas presentes condições, mas não para ir para um lugar de descanso e glória, porque considerava que tão grande era a justiça e a santidade de Deus, que não lhe seria permitido, como pecador, estar em Sua presença nas alturas do céu.
Havia, portanto, este deficiência de conhecimento de muitas coisas relativas à pessoa de Deus que somente nos foram clara e diretamente reveladas por meio de Cristo.
A teologia de Jó não poderia ser perfeita, apesar de ser muito superior à dos seus amigos.