Depois que Jó pediu a Deus que o matasse, Bildade começou a falar também repreendendo a Jó por causa das palavras que ele havia proferido, às quais chamou de vento impetuoso que havia saído da sua boca, conforme vemos no oitavo capítulo de Jó.
O argumento de Bildade era basicamente o seguinte:
Jó não tinha o direito de se queixar e de falar daquela maneira, porque Deus é sempre justo, e jamais perverterá o direito, ou seja, Ele sempre julgará com justiça, de forma que tudo o que ocorrer na terra, terá sido o resultado de um julgamento perfeitamente correto da parte de Deus.
Então ele citou como exemplo o fato de Jó ter sido poupado em vida, enquanto seus filhos haviam sido mortos por causa da iniquidade deles.
Se Deus havia matado os filhos de Jó é porque eles o mereciam por causa da maldade que certamente haviam praticado contra Ele, e sabia que não se arrependeriam de seus pecados.
Mas Jó, deveria considerar que tendo sido mantido em vida, é porque Deus sabia que ele poderia buscá-lo e procurar achar lugar de arrependimento perante Ele, para ser curado de todo aquele mal, e ser livrado da morte.
Então, segundo Bildade, Jó estava errado em pedir que Deus o matasse, porque o alvo de Deus era que ele se arrependesse de seus pecados para que pudesse lhe restaurar a saúde e mantê-lo em vida saudável e próspera.
Para dar respaldo à sua teologia, na qual não havia qualquer espaço para a graça e longanimidade divinas, Bildade apelou ao testemunho dos antigos, como a dizer, que não falava por si mesmo, mas do que aprendera da sabedoria dos seus antepassados.
Ele apelou também para as evidências que são apresentadas pela própria natureza, de maneira que nenhum ser pode se desenvolver bem, a não ser no seu habitat que seja propício a tal desenvolvimento.
Ele queria convence Jó que assim como o papiro não pode crescer fora de um pântano, de igual modo o junco não pode se desenvolver sem um grande suprimento de água.
Então Jó deveria considerar por estes exemplos o seu próprio caso, porque se fosse de fato justo, seria como um junco junto à água da bondade divina, e não estaria perecendo daquela forma terrível.
Que esperança Jó poderia ter como ímpio, longe de Deus, que é a fonte da verdadeira vida?
Ele não poderia ter segurança em sua própria casa, e por isso lhe sobreviera todo aquele mal.
Ele deveria, portanto, clamar a Deus, buscar a Deus, e se arrepender dos seus pecados.
A gente chega a tremer quando percebe quantos Bildades há na Igreja com sua teologia rápida e rasteira de derrubar quem está ferido apenas com argumentos de justiça e santidade, sem qualquer espaço para perdão ou misericórdia.
Eles apagam os pavios fumegantes e quebram as canas quebradas.
Não são reparadores de brechas e restauradores de veredas para caminhar, conforme a promessa do Senhor para a vocação da Igreja, em Isaías.
Não são embaixadores em nome de Cristo oferecendo a reconciliação dos pecadores com Deus. Antes, são os seus exatores, os seus condenadores, sob a capa da falsa consolação de que devem apenas buscar a Deus e confessarem seus pecados, que tudo o mais irá prosperar sempre em suas vidas, segundo a expectativa do mundo, quanto àquilo que eles consideram um viver abençoado.
Falsos consoladores desprovidos de qualquer misericórdia.
Homens religiosos que falam em nome de Deus e da Sua justiça e santidade, sem que a conheçam de fato, manifestada na pessoa de Cristo morrendo pelos pecadores na cruz.
Mandam o pecador que está morrendo ir para casa e ficar em oração e lendo a Bíblia para que possa achar a salvação, em vez de levarem o mesmo a confessar a Cristo como Senhor para o perdão imediato de todos os seus pecados, e para a salvação instantânea da sua alma.
Este caminho de graça e misericórdia é muito fácil e rápido para o legalismo deles, porque gostam de se sentir em melhores condições diante de Deus do que aqueles que eles pensam estar consolando, amarrando os fardos pesados da justiça própria que atam nos ombros dos pecadores, e que eles não se dispõem a ajudá-los a carregar, sequer tocando um só dedo nestes fardos.
Na teologia dos Bildades Deus jamais rejeitará somente os retos, mas nunca tomará pela mão os malfeitores (v. 20). No entanto, Jesus não veio para os justos e para os que são sadios, mas para os pecadores e para os que são enfermos. Ele os curará e salvará, tão somente caso se acheguem a Ele, porque não rejeitará a nenhum que o busque para ser salvo.