Definições de caráter do dicionário Aurélio e da Wikipédia:
Caráter é o termo que designa o aspecto da personalidade responsável pela forma habitual e constante de agir peculiar a cada indivíduo; esta qualidade é inerente somente a uma pessoa, pois é o conjunto dos traços particulares, o modo de ser desta; sua índole, sua natureza e temperamento.
Caráter é o conjunto das qualidades, boas ou más, de um indivíduo lhe determinam a conduta e a concepção moral; seu gênio, humor, temperamento, este, sendo resultado de progressiva adaptação constitucional do sujeito às condições ambientais, familiares, pedagógicas e sociais.
Caráter é a qualidade inerente a uma pessoa; o que a distingue de outra pessoa. Traços psicológicos, o modo de ser, de agir de uma pessoa; Índole.
A verdade em que você acredita determina seu caráter.
Define-se a personalidade como tudo aquilo que distingue um indivíduo de outros indivíduos, ou seja, o conjunto de características psicológicas que determinam a sua individualidade pessoal e social.
A formação da personalidade é processo gradual, complexo e único a cada indivíduo. O termo deriva do grego persona, com significado de máscara, designava a “personagem” representada pelos atores teatrais no palco. O termo é também sinônimo de celebridade. Pode-se definir também personalidade por um conceito dinâmico que descreve o crescimento e o desenvolvimento de todo sistema psicológico de um indivíduo, outra definição seria: a organização dinâmica interna daqueles sistemas psicológicos do indivíduo que determinam o seu ajuste individual ao ambiente. Mais claramente, pode-se dizer que é a soma total de como o indivíduo interage e reage em relação aos demais.
Até aqui as definições encontradas na Internet.
Tanto o caráter quanto a personalidade por fazerem parte inerente do ser, não constam como palavras separadas no texto bíblico, tanto no original hebraico do VT, quando no grego do NT.
Assim, deve ser visto de modo subentendido quando os traços de caráter e personalidade são citados na Bíblia.
Por exemplo; em Provérbios 16.27-29, onde se lê:
27 O homem vil suscita o mal; e nos seus lábios há como que um fogo ardente.
28 O homem perverso espalha contendas; e o difamador separa amigos íntimos.
29 O homem violento alicia o seu vizinho, e guia-o por um caminho que não é bom.
Podemos ler:
27 O homem de caráter vil suscita o mal….
28 O homem de caráter perverso espalha contendas…
29 O homem de caráter violento alicia o seu vizinho…
Em Isaías 32.7, onde se lê:
7 Também as maquinações do fraudulento são más; ele maquina invenções malignas para destruir os mansos com palavras falsas, mesmo quando o pobre fala o que é reto.
Podemos ler:
7 Também as maquinações do homem de caráter fraudulento são más…
Em Atos 2.22, onde lemos:
22 Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus, o nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis;
Podemos ler:
22 Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus, o nazareno, varão de caráter aprovado por Deus…
Em Filipenses 2.22, onde lemos:
22 Mas sabeis que provas deu ele de si; que, como filho ao pai, serviu comigo a favor do evangelho.
Podemos ler:
22 Mas sabeis que provas deu ele de seu caráter…
Em 2 Timóteo 2.15, onde lemos:
15 Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
Podemos ler
15 Procura apresentar-te diante de Deus com caráter aprovado…
Vemos assim que tanto traços viciosos, quanto virtuosos podem compor o caráter de uma pessoa, e tanto mais puro e bom é o caráter quanto maior é o número de virtudes que se possui, e um comportamento que seja condizente com as referidas virtudes.
Não basta portanto crer num sistema de valores e aprová-lo, pois o caráter não é determinado somente pelo que se crê e se aprova, mas sobretudo pela prática de nossas crenças, estando nossa personalidade moldada e definida pelas mesmas.
A bem-aventurança, conforme podemos ver nas palavras de Jesus no Sermão do Monte, não depende das circunstâncias da vida de uma pessoa, mas dos traços do seu caráter conforme são destacados por ele especialmente no começo do quinto capítulo do evangelho de Mateus.
Este caráter é definido como um estado interno de ser.
Esse caráter cristão deve ser formado na própria estrutura da natureza moral.
Todas as formas de comportamento que Jesus destacou no Sermão do Monte revelam que o caráter deve ser forjado na estrutura da natureza moral – não de uma moralidade formal e externa, mas interna, vital e espiritual.
É a posse de tal tipo de caráter que vai determinar que nossas ações sejam feitas com base em motivos corretos.
O caráter aprovado é portanto um dom de Deus, concedido àqueles que se se consagram a Ele e ao Seu serviço, àqueles que buscam com toda a diligência conhecer e fazer a Sua vontade.
E como tudo o mais que cresce no Reino de Deus, o caráter cristão também se tornará cada vez mais puro e forte, à medida que fizermos progresso em santificação pela Palavra aplicada pelo Espírito Santo às nossas vidas.
Mas isto não é possível sem consagração.
A consagração é um ato da vontade de trazer nossas faculdades, especialmente da alma e do espírito, sob a influência de um santo propósito. Ela consiste sobretudo em nos submetermos à instrução, direção e poder do Espírito Santo.
O refino da fé pelas provações também é outro fator importante na formação do caráter cristão, porque o homem de coração dobre nada obterá do Senhor, de modo que aquele que confia no Senhor há de receber dele um caráter firme e inabalável que o manterá fiel à Sua Palavra em todas as circunstâncias.
O crente deve ter como o propósito supremo de sua vida, a obtenção de tal caráter. Para isto deverá se esforçar, buscar e orar sem cessar. É do agrado de Deus formar em nós progressivamente o caráter de Cristo, mas ele determinou que isto deve ser buscado com toda a diligência, e para tanto devemos pedir-lhe que o forje em nós.
O caráter se comprovará bom e forte à medida que resista às provações e tentações, ou seja, sem sombra de variação em nosso comportamento quando a elas submetidos.
Muito do nosso caráter e personalidade é fortemente impactado e reorientado quando nos convertemos a Cristo e nascemos de novo do Espírito Santo. Todavia, há de se completar, pelo mesmo processo de operação sobrenatural do Espírito, o trabalho do aperfeiçoamento da nossa personalidade e caráter, pela remoção progressiva dos hábitos e comportamentos inerentes ao velho modo de vida, e pela implantação também progressiva das virtudes de Cristo.
Convicções arraigadas, e ainda que coerentemente determinantes no nosso modo de proceder, e que nos tenham conferido um caráter firme, deverão ser desarraigadas caso não se conformem ao padrão bíblico e divino.
Veja que o caráter cristão não é própria e necessariamente o tipo de caráter que é aplaudido pelo mundo, pelo simples fato de alguém ser firme e coerente com suas convicções, ainda que aparentemente boas. Este era o caso típico dos fariseus dos dias de Jesus, que eram considerados como pessoas santas pela sociedade judaica de um modo geral, pela forma determinada com que defendiam suas tradições religiosas, e, no entanto, Jesus os denunciou como sendo hipócritas e adulteradores da Palavra de Deus. Eles não praticavam as coisas que eles ensinavam.
Os fariseus não podiam dar uma resposta favorável à demanda religiosa verdadeira porque não criam em Cristo – não tinham, por conseguinte, a habitação, direção e instrução do Espírito Santo, e estando mortos espiritualmente não podiam refletir a vida e o vigor da verdadeira espiritualidade.
O caráter do crente não é formado por um mero esforço unilateral da sua parte, mas sobretudo pela infusão de poder que recebe do Espírito Santo que nele opera implantando a lei de Deus em sua mente e coração (Jeremias 31.33).
Assim, o grande ponto de partida para a formação do caráter cristão se encontra na regeneração, ou seja, no novo nascimento pelo Espírito Santo.
O caráter cristão é determinado portanto pela constância em se andar no Espírito (Gálatas 5.16) de modo que se tenha a mente e o caráter de Cristo. Este caráter não se encontra propriamente em nós – ele é recebido e moldado a partir do céu – daí o apóstolo afirmar que já não vive mais o crente pelo seu ego, mas por Cristo que nele vive.
É de Deus que se recebe o aprendizado de se ter firmeza na verdade em face de oposições, sejam elas de qual natureza for. É dele que recebe o desapego ao mundo e à própria vida, e a não temer a face do homem quando importa obedecer à Sua vontade. Isto não nos vem da noite para o dia, mas na longa jornada da vida cristã, crescendo em estatura espiritual diante de Deus e dos homens.
Mas como vivemos em dias em que é comum a busca do prazer pelo prazer, conforme afirmação do apóstolo que nos últimos dias os homens seriam mais amantes dos prazeres do que de Deus, quando a filosofia reinante na sociedade é de caráter hedonista, devemos lembrar continuamente das palavras de nosso Senhor de que aquele que não renunciar a tudo o que tem, inclusive à sua própria vida, não pode ser seu discípulo, ou seja, não poderá aprender dele o que convém.
O alvo da vida cristã não é proporcionar prazer, não é o de aumentar nossos níveis de serotonina e dopamina, para que tenhamos a sensação de bem-estar, pois isto pode ou não estar presente em nossas vidas, nos combates que temos que travar contra a carne, o diabo e o fascínio do mundo.
Um crente pode ser melancólico, como era David Brainerd, e tantos outros, e no entanto, sustentar um caráter santo e justo admirável.
Veja que nas bem-aventuranças Jesus destaca como motivo de grande regozijo espiritual o fato de sofrermos perseguições por amor do Seu nome. Ele afirma que bem-aventurado é o que chora, e certamente o choro ali referido não é o de alegria, mas o de contrição pelo pecado e de arrependimento.
O que vale no caráter do cristão é o sim, sim, não, não, o que passa disso é de procedência maligna.
E este “sim” e este “não” são respectivamente, o sim para o que é verdadeiro santo e justo, e o não para o que é falso, ímpio e injusto, não apenas refletido em palavras, mas sobretudo na prática da vida; pois é pelo tipo de fruto que produz que o caráter da árvore é conhecido.
Pr Silvio Dutra