O profeta Jeremias havia perdido tudo neste mundo, sua liberdade e seu sustento, e quase a própria vida, contudo, não havia perdido seu interesse em Deus.
Porções da terra perecem e desaparecerão mas o Senhor é a nossa porção para sempre.
Enquanto eu tiver um interesse em Deus, então eu terei o bastante, o suficiente para contrabalançar todas as minhas dificuldades e compensar todas as minhas perdas. Porque nada pode se comparar à Sua doce presença, e à manifestação da Sua graça que me consola.
Quando todos os demais apoios se forem, Deus continuará sendo a força e o apoio da minha alma, e o meu conforto em todas as minhas aflições.
Por isso Jeremias disse que todos aqueles que confiam no Senhor jamais o farão em vão (Lam 3.25) porque provarão as Suas misericórdias.
Feliz portanto é a alma que espera no Senhor e que o busca.
E enquanto nós o esperamos com fé, nós temos que fazê-lo através da oração. Porque se não o buscarmos, não o acharemos. Nossa busca ajudará a manter a nossa espera. E para aqueles que assim esperam e buscam a Deus, Ele dará a Sua graça, e lhes mostrará a Sua misericórdia (Lam 3.26).
E é bom esperar pelo socorro do Senhor estando quietos, em silêncio, não propriamente com os lábios fechados, porque poderão ser abertos para o clamor e para a oração. Mas no silêncio do coração, que não mais murmura e se inquieta por causa das aflições. O coração que foi acalmado pela graça de Deus, deve permanecer assim perante Ele, porque não criou nossa alma para estar atormentada, senão sossegada.
É fácil entender isto, porque quem pode estar intranquilo quando sente a presença de Deus? É somente nEle que podemos achar descanso e paz, porque somos contristados e nos achamos aflitos em muitas ocasiões não somente pelas lutas externas como também pelas interiores que temos com o nosso próprio pecado.
Então o suportar o jugo na mocidade, ter experimentado dificuldades e aflições, serão de grande proveito para nos ensinar esta lição, porque aprenderemos a dar o devido valor às consolações do Senhor, que geram em nós um espírito quieto, manso e sossegado, e uma correta compreensão do quanto necessitamos da graça de Jesus, pelo conhecimento adequado da nossa própria miséria espiritual, quando não somos movidos pela Sua graça.
Como somos totalmente desmerecedores destas misericórdias divinas, é nosso dever manter uma expectativa humilde em relação a elas, em nossa esperança debaixo de nossas aflições. Devemos ser modestos em nossas expectativas, sabendo que somos totalmente desmerecedores destas misericórdias divinas.
Há um espírito correto para se buscar ao Senhor debaixo de aflições, a saber, com o coração contrito e em humildade. Não cai bem a transgressores se apresentarem diante do Juiz de toda a terra com ares de arrogância, e com reclamações ou petições ousadas.
Ao contrário, convém-nos abaixar a cabeça e dobrar os joelhos, até que o Senhor nos tenha levantado.
Quando Deus nos causa aflições é para fins santos, porque Ele não tem prazer nas nossas calamidades. Deus não aflige de boa vontade. Por isso Ele nunca nos afligirá a não ser que nós Lhe tenhamos dado causa de fazer isto, ou então que seja necessário para o aperfeiçoamento da nossa fé.
Lembremos que quando Deus se levanta para castigar, o lugar do qual Ele se levanta é o Seu trono de graça e misericórdia, para o qual Ele sempre retorna. O trono é de graça para Seus filhos, e é importante sabermos isto, e trazê-lo sempre em memória para que tenhamos confiança em buscá-lo e Suas misericórdias, mesmo em nossas aflições, sabendo que por fim há de se mostrar favorável a nós.
Deus afirma expressamente que não tem prazer na morte dos ímpios, quanto mais em afligir os Seus santos.
É por isso que Ele se diz também aflito em toda a nossa aflição, porque o faz com relutância, porque não tem prazer em afligir senão em mostrar misericórdia.
Daí requerer que sejamos também misericordiosos tal como Ele é misericordioso, e não juízes implacáveis, prontos a afligirem a outros.
Contudo, devemos lembrar também que apesar de não ter prazer em afligir e corrigir o Seu povo, que Ele está longe de estar contente com a injustiça que o Seu povo pratica (Jer 3.34 a 36), porque esta é a principal causa de nossa alma não poder achar nEle alegria e paz. Afinal fomos criados para a comunhão alegre com Ele, mas isto não pode existir quando não praticamos o que é justo perante Ele.
Nós somos castigados por causa dos nossos pecados? Então será sábio de nossa parte nos submetermos debaixo da potente mão de Deus, e beijar a vara da disciplina que nos corrige, porque, se caminharmos de modo contrário ao Senhor, Ele nos castigará sete vezes mais, para que não sejamos condenados juntamente com o mundo.
É nosso dever orar ao Senhor, com a expectativa de receber a Sua misericórdia, e não de permanecermos em nossos pecados, ou murmurando por causa de nossas aflições, e aqueles que esperam em Deus, devem esperar com a expectativa de receberem livramento e retorno à plena comunhão em alegria com Ele.
Nossa expectativas de felicidade não devem ser a de uma felicidade mundana, mas aquela que é espiritual e decorrente da nossa comunhão com o Senhor, e que será perfeita somente no céu.
Aqui temos que batalhar em prol do evangelho. Temos que lutar o bom combate da fé em prol da salvação de almas para Deus. E quanto isto requer choro, intercessão, e tristezas pelo pecado.