Deus é Rei. Na Bíblia, sempre que as janelas dos céus são abertas, Ele está reinando sobre Seu universo. Isaías vê o Senhor em Seu trono, exaltado nas alturas; a orla de Seu manto enche o templo (a casa ou palácio de Deus na terra). Os serafins, Seus guardas angelicais, O adoram: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos, a terra inteira está cheia da Sua glória” (Isaías 6:3b).Isaías está atônito: “ai de mim!”. Seu motivo? Era um homem de lábios impuros, no meio de um povo de impuros lábios. Como ele sabe disso? “Os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos exércitos” (Isaías 6:1-5).
Macaia revela o Senhor “… assentado em Seu trono, como todo o exército dos céus ao Seu redor, à Sua direita e à Sua esquerda” (I Reis 22:19). A visão que Ezequiel teve do céu inclui um trono, com uma figura divina como que vestida de fogo sobre ele (Ezequiel 1:26-27). Para Daniel, Deus se assenta em um trono envolto em chamas, entregando todo o domínio sobre um reino eterno ao Filho do Homem (Daniel 7:9-10; 13-14). No Novo Testamento, João é levado aos céus, diante do trono do Criador, onde anjos O adoravam (Apocalipse 4:1- 11). E assim segue.
O que é verdade para a Bíblia em geral, é verdade para os Salmos em particular. Neles, no livro de orações da Bíblia, nós encontramos adoração ao Rei, digna do Rei. Isso inclui altos louvores, petições ferventes, celebrações no templo, testemunhos audaciosos, sabedoria sã, chamadas à batalha, renúncias íntimas, quebrantamento e corações curados, profecias impetuosas, esperanças seguras. Essas são as formas pelas quais o povo de Deus louva e ora, e é através dessas expressões que somos formados. Quando a revelação de Deus como Rei cai sobre nós, a Adoração se eleva. Essa é a essência dos Salmos.
Visão do Rei
Nos Salmos, Deus é proclamado Rei: “Pois o Senhor É o Grande Deus, o Grande Rei acima de todos os deuses” (Salmo 95:3). Ele senta em Seu trono: “O Senhor reina! As nações tremem!” (Salmo 99:1a). Suas vestes são reais: “O Senhor reina! Vestiu-Se de majestade; de majestade vestiu-Se o Senhor e armou-Se de poder!” (Salmo 93:1). Um estrado está diante do Seu trono: “Exaltem o Senhor, nosso Deus, prostrem-se diante do estrado dos Seus pés. Ele É Santo!” (Salmo 99:5). Em, Suas mãos, Ele segura um cetro: “O Teu trono, ó Deus, subsiste para todo do sempre; cetro de justiça é o cetro do Teu reino” (Salmo 45:6). Ele é cercado pela milícia celestial: “O Seu trono está sobre os querubins! Abala-se a terra!” (Salmo 99:1b). Ele é adorado por um mar de anjos: “Bendigam o Senhor, vocês, Seus anjos poderosos, que obedecem à Sua Palavra. Bendigam o Senhor todos Seus exércitos, vocês, Seus servos, que cumprem a Sua vontade” (Salmo 103:20-21).
Visão de nós mesmos
Como Calvino diz, conhecer a Deus é conhecer a nós mesmos. Nos Salmos, nossa humanidade é revelada no próprio ato da adoração. Nós descobrimos corações que abandonaram a Deus, soterrados pelo pecado, lutando contra convicções e culpas, nas garras do medo, enraivecidos contra seus inimigos, repletos de dúvidas, esmorecendo na presença de Deus, ansiosos pelo Lar, sofrendo com a fraqueza, doentes e debilitados, aguardando pela morte, esperançosos por vida. Assentamos-nos sozinhos na guarita durante a guarda noturna. Deitamos-nos em camas de dor. Antecipamos as lutas de amanhã. Experimentamos o abandono, a decepção, as fofocas e a difamação. Nós meditamos sobre a lei de Deus. Nós subimos o Sião com alegria e satisfação. Aprendemos o novo canto da salvação. Vemos as bênçãos de nossos filhos. Sabemos que Deus é quem governa as nações. Nós sentimos seu coração de Bom Pastor. Nós declaramos suas promessas e alianças. Nós ansiamos pelo triunfo do Messias. Nós descansamos Nele.
Adore ao Rei
Como então nós aprendemos a adorar essa Soberania dos Salmos? Em primeiro lugar, nós vamos até Ele e nos rendemos, em ato de submissão.
Em hebraico, a palavra “adorar” (shakah) significa se prostrar, se curvar: “Venham! Adoremos prostrados e ajoelhemos diante do Senhor, o nosso Criador” (Salmo 95:6). Se prostrar é se entregar, desistir, se tornando fisicamente menor que o Rei. Isso é humilhação. Nós estamos desamparados, na misericórdia do Soberano. É aí que a adoração começa. Ela destrói nosso narcisismo: “o que eu ganho com isso?”. Na adoração, não se fala em receber, se fala em entregar. Nós entregamos nossas vidas a Deus. Se conter é se Revoltar. Se entregar é Adorar: “Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás”. (Salmo 51:17).
A vida cristã começa com a adoração (submissão) e confissão: Jesus É Senhor, e eu não (Romanos 10:9). Paulo diz que devemos entregar nossos corpos como sacrifícios vivos, pois “… este é o culto racional de vocês” (Romanos 12:1). É holístico, incorporado e intencional. Quando nós entregamos nossos corpos perante Deus, Ele nos tem.
Em segundo lugar, Deus ensinou Israel a nunca vir a Ele de mãos vazias. Assim como líderes de estado honram uns aos outros com presentes, nós devemos trazer nossos presentes a Deus. Nós trazemos a nós mesmos como presentes. Nós trazemos nosso louvor como presente. Nós cantamos a Ele; nós gritamos a Ele (um sonoro grito de vitória): “Aclamem o Senhor todos os habitantes da terra! Prestem culto ao Senhor com alegria; entrem na Sua presença com cânticos alegres” (Salmo 100:1-2). Nós honramos e exaltamos a Ele como o objeto de nossa adoração. Isso expressa amar a Ele com todo o nosso coração. Nós falamos de sua grandeza, Sua bondade e Sua fidelidade. Maravilhamos-nos sobre Seu caráter e Suas obras. Aqui, a adoração se transforma em testemunho.
Lembramos-nos dos feitos poderosos de Deus. Lembramos-nos de Seus milagres, A libertação do Egito, o resgate das mãos do inimigo, o perdão de nossos pecados, Suas curas e Seu triunfo sobre a morte. Enquanto nós proclamamos Seus feitos poderosos, as nações escutam. Eles vêm a temer e honrar o Único e Verdadeiro Deus: “Cantem ao Senhor, bendigam o Seu nome; cada dia proclamem a Sua salvação! Anunciem a Sua glória entre as nações, Seus feitos maravilhosos entre todos os povos!” (Salmo 96:2-3).
Enquanto adoramos, nós também trazemos nossos presentes, nossos sacrifícios, nossos dízimos e nossas oferendas. Nós fazemos nossas promessas. Esses são atos de obediência. Eles mantêm o templo e seu sacerdócio. São também atos de amor e devoção quando nós entregamos a Deus o que Lhe é devido: “Ofereça a Deus em sacrifico a sua gratidão, cumpra seus votos para com o Altíssimo” (Salmo 50:14).
Em terceiro lugar, a adoração inclui o nosso pedir, nossos pedidos a Deus. Dallas Willard diz que os pedidos são a essência da oração. Nós os trazemos ao Grande Rei. Vamos a Ele decididos. Vamos a Ele como filhos e filhas.
Enquanto pedimos, fazemos isso em nosso nome e em nome de outros. Nós representamos que não conhecem ao Rei. Pessoas que estão tão presas às suas idolatrias e descrenças que não podem ir a Deus por si mesmas. Nós entregamos nossos pedidos, sabendo que a face de Deus está virada em nossa direção. Deus está ansioso em recebê-los e respondê-los pelo nosso bem e pela Sua glória.
Digno de um Rei
O centro da fé bíblica não é somente que Deus é Rei, mas também que Ele tem Seu Reino, Ele reina e Ele governa. Na Vineyard, nós estamos especialmente afinados na mensagem de Jesus, que o Reino de Deus está ao alcance de nossas mãos. Sabemos que Deus interveio decisivamente através de Seu Filho para tomar esse planeta do reino caído de Satanás. As curas e libertações de Jesus fazem os avanços do inimigo se desfazerem.
Os Salmos são repletos de batalhas espirituais. Os clamores de Davi por vitória e por vingança não denotam apenas uma vitória sobre os inimigos, mas também uma vitória de Jeová sobre os ídolos de seus inimigos. Esses Salmos apontam para o tempo do cumprimento das promessas encontradas no Antigo Testamento. Eles estão repletos do tema Messiânico, falando da vinda do Cordeiro, que é o tema principal da adoração do povo de Israel. O Rei-Guerreiro irá se levantar, sobrepujar seus inimigos, se identificar conosco em Seus sofrimentos e restaurar totalmente Seu povo, trazendo as nações a Sião e vingando a Si mesmo, Sua própria morte em Cristo. Como a queda de Jericó, é através da adoração que essa insurreição contra os ídolos e sua escuridão será lançada e sustentada.
A adoração nos traz à presença de Deus, Seu Espírito se move entre nós e Seu poder é revelado em nós. A adoração é uma arma de guerra, pois ela complementa o primeiro mandamento (“não terás outros deuses além de Mim” Êxodo 20:3), traz de volta o foco no Deus vivo e nos dá uma pequena mostra de nosso destino final: deleitarmos-nos Nele e na vinda do Reino prometido. Como C.S. Lewis descreve no livro O Peso da Glória, nós estaremos com Cristo, seremos como Cristo, seremos glorificamos com Ele (recebendo beleza e louvor), tomaremos parte do banquete e seremos entretidos e exerceremos Sua autoridade sobre os novos céus e nova terra.
Adiciono ainda uma coisa: nós também seremos elevados em êxtase, adorando através de nossos corpos aperfeiçoados e transformados. Lá, Deus será tudo em todos, e nós seremos completados por Ele, sabendo então como nós somos conhecidos por Ele, conhecendo a amor de Cristo que ultrapassa o conhecimento, e sendo preenchidos pela completude de Deus.
Enquanto adoramos através dos Salmos, aprendemos mais e mais sobre o que isso tudo pode significar e ser para nós. Os céus se abrem, a revelação desce e nossa adoração se eleva – digna de um Rei.
Por Don Williams
Don Williams é um dos teólogos mais respeitados da Vineyard ao redor do mundo.
Artigo extraído do site www.vineyardmusic.com.br