Calvin é um garoto de seis anos de idade cheio de personalidade, que tem como companheiro Hobbes (ou Haroldo), um tigre sábio, que para ele está tão vivo como um amigo verdadeiro, mas para os outros não é mais que um tigre de pelúcia. Criada por Bill Watterson e publicada em mais de 2000 jornais do mundo inteiro, as tiras trazem as fantasias mirabolantes de Calvin que constituem frequentemente uma fuga à cruel realidade do mundo moderno. Sempre fui um moleque no melhor estilo Calvin. Tudo era uma aventura, uma fantasia. A simples tarefa de lavar a louça se transformava num conflito interplanetário, com discos voadores brancos gigantes sendo atingidos por uma espuma cósmica.
Eu e o meu irmão Vitor tínhamos o dom de transformar qualquer objeto em brinquedo. Uma caixa de pasta de dente poderia ser o caixão de vampiro, um case com armamentos pesados ou uma coluna de concreto para a base dos aliados. A mágica do simples nos fazia ter comunhão. A partir do momento em que davamos sentido e indentidade àquelas coisas, criávamos um código de valor entre nós, um laço de identificação. Aquele objeto, por mais simples que parecesse, para nós naquele momento, era muito importante. E porque acreditávamos naquilo, brincávamos um dia inteiro, e vivíamos verdadeiras aventuras das quais, ainda hoje, sentimos saudades. Infelizmente, por algum motivo, o tempo passa, e o dia-a-dia enfraquece esse poder que o ser humano tem de viver mágicamente o cotidiano. De sermos reis narnianos numa terra dentro do guarda-roupas.
Trocamos nossa espontaneidade pela política corruptível, nossa verdade por metiras convenientes, nossos sonhos pelas reduzidas possibilidades impostas todos os dias por limites sociais e econômicos.
Trocamos quase sempre a nossa fé, pela razão dos outros. Assim, conseguimos matar uma das capacidades que faz de nós os seres dominantes neste planeta: nossa capacidade de sonhar. Nada realiza aquele que não sonha. Redescobrir esta capacidade a cada dia é um grande desafio. Valorizar cada momento, fazer do simples o especial. Guardamos nossas taças por anos no armário, e usamos copos de requeijão para beber água. Vamos tirar as taças do armário, vamos usar as roupas mais bonitas, vamos rir, vamos cantar, e quando for pra chorar, vamos chorar! Vamos demonstrar o que sentimos, falar francamente, olhar nos olhos. Vamos viver!
Vamos abraçar os nossos amigos, nossa família, nossos colegas de trabalho e nunca deixar de dizer quem eles são para nós e o quanto realmente são importantes. Antes que o Ângelo me chame de sonhador, eu digo: vamos ao menos tentar… quando possível! Ninguém, claro, vive só de amores. Nós trabalhamos, temos projetos, compromissos, estudos. Mas se o moderno cotidiano nos faz esquecer nossa própria finitude, precisamos as vezes nos lembrar de viver intensamente cada dia como se fosse o último… Afinal, um dia a gente acerta!!! (risos)