Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. João 1:17.
Não há na Bíblia uma divisão mais evidente e distinta do que a estabelecida entre a lei e a graça. Esses princípios, de tantos contrastes, caracterizam as duas dispensações: o judaísmo e o cristianismo. Isso não significa que antes de Moisés não havia lei alguma, e muito menos que, antes de Jesus Cristo, não havia nem graça nem verdade.
A lei foi dada por intermédio de Moisés – a lei perfeita de Deus. Naquele tempo Deus estava “oculto” e, por isso, envia a lei indicando o que o homem devia ser. Mas, agora, Deus tinha Se revelado em Jesus, não para exigir do homem o que ele deveria ser porquanto, o Deus-Homem veio para ser “no homem” o que Ele é: Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo. I Pedro 1:15-16.
A lei explicita tudo o que o homem devia ser diante de Deus. A verdade mostra a natureza corrupta do homem em contraste com o caráter Santo de Deus. E, como a graça é um atributo inseparável do caráter Divino, Ele, sem nada exigir, traz ao homem tudo aquilo que ele precisa. O verbo vir no grego está no singular, isto significa que Cristo é: graça e verdade. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. João 1:14.
A Lei e a Graça sempre existiram. A primeira, revelando a vontade de Deus. A segunda, revelando a bondade de Deus. Estas verdades são abundantemente testificadas pelas Escrituras. Mas “a lei”, frequentemente mencionada nas Escrituras, foi dada por intermédio de Moisés e, definiu o tempo desde o Sinai até o Calvário. De igual modo, a graça caracterizou a dispensação que começa no Calvário e permanecerá por toda eternidade. Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê. Romanos 10:4.
Como, então, Cristo é o fim da lei? Cristo é o fim da lei no sentido de que Ele a cumpriu por aqueles que crêem Nele. Ele é o fim da lei no sentido de que Ele executou os ditames da lei de forma perfeita, em todos os aspectos. Tudo quanto a lei requer em função da justiça perante Deus, Cristo realizou.
Entretanto, é de vital importância observar que as Escrituras nunca, em nenhuma dispensação, misturam esses dois princípios. A lei tem lugar e propósitos distintos dos da graça. A lei é Deus proibindo e exigindo; a graça é Deus admoestando e concedendo. A lei mata, a graça vivifica. A lei fecha toda boca diante de Deus; a graça abre toda boca para adorá-Lo.
A lei estabelece uma grande distância entre: o homem culpável e Deus, enquanto que a Graça coloca o homem culpado diante de Deus. A lei ordena: faça isto para viver; a graça diz: vive porque tudo já foi feito. A lei diz: paga o que me deves; a graça diz: tudo já foi pago. A lei exige santidade; a graça dá santidade. À lei foi dada para reprimir o homem velho, a graça veio para nos fazer novas criaturas. A lei condena completamente o melhor homem; a graça justifica gratuitamente o pior.
A carta do apóstolo Paulo aos Gálatas é um tratado em defesa da liberdade espiritual. Paulo pregou a graça na Galácia. Depois, os judaizantes foram dizer aos gentios convertidos que não lhes bastava crer em Jesus, e que só a fé em Jesus não salvava ninguém. Diziam que era necessário adicionar ou submeter-se à circuncisão e observar a lei judaica.
Sem dúvida, aqueles judaizantes lhes disseram que era boa coisa crer em Jesus Cristo, mas que não deviam parar neste ponto. Precisavam ir além, e cumprir tudo, tornando-se Judeus em sua religião. O apóstolo Paulo na carta aos Gálatas torna claro que: voltar à circuncisão e à lei era uma forma de escravidão: Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão. Gálatas 5:1.
Em todas as partes, as Escrituras apresentam a lei e a graça em grande contraste. A mistura destes elementos significa negar a total suficiência do sacrifício do nosso Senhor Jesus Cristo. Pois, deste modo, a lei é privada de seu terror e a graça de seu frescor. O problema dos crentes da Galácia foi exatamente este: a mistura da lei e da graça. Misturar a lei e a graça, ensinando que a justificação é em parte pela graça e, em parte pela lei, assim como, ensinar que a graça foi dada para capacitar os nascidos de novo a guardarem a lei, é negar o sacrifício do nosso Senhor Jesus.
O homem não pode livrar-se de seu estado e, é justamente do seu estado de frustração que ele precisa ser liberto. Portanto, ele precisa de ajuda, e ela deve derivar de um poder maior do que o homem – não pode vir da lei. A lei pode ordenar, pode exigir, mas não pode provisionar o poder para realizar, cumprir ou fazer. O ego (eu), o ser, precisa ser substituído.
Não é pela força da vontade humana que se obtém a vitória sobre o pecado. O homem precisa – pela revelação da palavra de Deus – ter a consciência de sua inteira inabilidade e fraqueza e, se render, sair de cena, desistir de si mesmo, se entregar por completo aos cuidados de Deus. O homem necessita ter os “olhos iluminados” para o fato de que, em Cristo, temos graça sobre graça.
Contra tal erro, temos a resposta terminante de Deus em Suas solenes advertências, na lógica incontestável e nas declarações enfáticas da epístola aos Gálatas: Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne? Gálatas 3:1-3.
No sexto capítulo da epístola aos Romanos, depois da grande revelação da doutrina da nossa identificação em Cristo – Sua morte e ressurreição e nossa morte e ressurreição juntamente com Ele, o Espírito Santo nos revela que a graça é o princípio que deve governar o andar daqueles que estão em Cristo: Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. Romanos 6:14.
No sétimo capítulo de Romanos, O Espírito Santo reafirma o princípio que governa os filhos de Deus: Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus. Romanos 7:4. Antes, sob o domínio da lei; agora, sob o governo da graça. Antes, escravos do velho homem, agora, sob o andar do novo homem.
Exigir do homem o que ele devia ser era uma exigência justa. Mas, graças damos ao Senhor porque Nele somos justificados. A Sua glória vista pela fé, a glória do Filho Unigênito com seu Pai. Ele veio cheio de graça e de verdade: E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. João 1:14.
. O Senhor Jesus trouxe na Sua própria natureza e caráter, algo inteiramente diferente a tudo o que a Lei dada por Moisés denunciava. Portanto, eis o Senhor, com todo o Seu resplendor, manifestado em um mundo mergulhado em profundas trevas. O Senhor é aqui revelado como sendo o Verbo, como Deus e com Deus, como Luz e Vida. Da Sua plenitude todos nós temos recebido. Temos tudo ou, Aquele que tudo é vivendo em nós, com toda a Sua plenitude. Que plenitude! Que abundância! A graça salva, justifica, edifica, redime, perdoa, confere uma herança, posição e um trono ao qual podemos nos aproximar confiadamente em busca de misericórdia e socorro.
Cristo assumiu a vida humana em graça e sem pecado. Ele não conheceu pecado, mas sendo inteiramente humano, tomou sobre Si o que contaminou e corrompeu toda a raça – o pecado. Ele foi feito pecado por nós: Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus. II Coríntios 5:21. Cristo ali morreu. Deixou esta vida. Morreu uma vez por todas para o pecado. Acabou com o pecado, acabando com a vida à qual esse pecado se ligava.
Ressuscitado pelo poder divino, o Senhor está assentado à direita de Deus, no qual não entra a morte. E nós estamos com Ele por meio da fé e pela graça. Somos seus filhos, somos regenerados e justificados pela Palavra que Ele já aplicou às nossas almas. E, nesta nova posição somos restaurados à comunhão com Deus, segundo o modelo do nosso Senhor Jesus.
Amém…