Sei que os filhos de Deus vivem momentos diferentes em suas caminhadas. Mas penso que é quase unânime no coração de todos que O tem buscado, o sentimento forte de que estamos iniciando um tempo diferente, marcante.
Ontem comecei um propósito de ler livros bíblicos especificamente direcionados pelo Espírito Santo e o primeiro é a carta do apóstolo Paulo aos Gálatas. Logo no primeiro capítulo me deparei com mais uma confirmação (ou testificação) para o que tenho refletido:
“Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho… Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema.” (Gl 1:6-8)
A essência da verdade do Senhor é a mesma em todo o tempo. Quem muda é o homem, que tem dificuldade de permanecer nos mesmos princípios, na mesma visão.
A Cruz de Cristo nunca pode deixar de ser o centro da nossa vida. A glória de Cristo está em Seu amor vivido, praticado, eternizado na Cruz do Calvário. E a glória do homem está em reconhecer e responder a essa Cruz.
“Pois longe esteja de mim gloriar-me senão na Cruz de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Porque nem a circuncisão nem a incircuncisão é alguma coisa, mas o ser nova criatura” (Gal 6:14-15)
Hoje eu vejo que Jesus chama Sua igreja a um entendimento sobre a essência Sua glória, a essência de Sua missão. Habacuque foi profundamente sábio em suas palavras ao declarar:
“A terra se encherá do CONHECIMENTO da glória do Senhor como as águas cobrem o mar” (Hb 2:14).
Deus quer mais do que exibir manifestações do que Ele pode fazer. Deus quer gerar algo mais sério do que uma sensação. Deus quer que nós CONHEÇAMOS Sua glória. O verbo ver traz a idéia de algo instantâneo, porém o conhecer traz o entendimento de tempo gasto em absorver, compreender e aprender.
Em todos os seus 33 anos de vida terrena, Jesus combateu a visão de honra e glorificação humana que Sua geração tinha para com o Messias prometido. Ao nascer numa estrebaria, crescer em Nazaré, conviver com os pobres e doentes, tocar em leprosos, entre outras situações como pedir segredo sobre seus milagres, Jesus mostrava a todo instante que Seu reino não tinha nada a ver com os reinos deste mundo (Jo 18:36). Sua glória não estava em uma coroa de ouro!
Interessante para mim foi encarar a realidade de que nem mesmo Seus companheiros mais próximos haviam entendido, até então, que Jesus não buscava glória alguma aqui. E a glória que já se manifestava Nele, tinha uma beleza que ninguém conseguia ver. No Capítulo 20 de Mateus vemos a mãe de Tiago e João pedindo que, “no reino de Jesus”, seus filhos se assentassem um de cada lado de seu Trono! A resposta de Jesus é doída: “Sabeis o que pedis? Podeis vós beber do cálice que eu estou para beber?”.
As palavras daquela mulher eram uma declaração de total desconhecimento do que era o reino de Deus. Participar da vitória de Cristo para ela era garantir um lugar de destaque na “futura Corte de Israel”. Será, amado, que muitas vezes os nossos corações, tão influenciados pela lógica vaidosa deste mundo, não tem visão semelhante?
A glória do Senhor que tanto desejamos não está necessariamente em projetos grandiosos de uma igreja, em cultos com períodos extensos de louvor, em mensagens bem preparadas. A glória de Deus sobre nós não está em um cargo de liderança, uma função na igreja local, o nome em um cd, um convite para ministrar num evento. A glória do Senhor sobre nós não se reflete no fato de algumas ou muitas pessoas nos acharem “uma benção”.
Comparando (a uma casa) uma igreja, um ministério, uma pessoa, família e até mesmo uma empresa, o derramar da glória do Senhor está nos alicerces de tudo o que é feito e não na fachada. Os holofotes são figuras vegetativas no contexto do verdadeiro e genuíno mover de Deus.
Eu venho clamando muito por ser cheia da glória do Senhor Jesus e Ele tem respondido às minhas orações operando uma grande obra em meu interior. E esse “encher-me” de Sua glória não pode ficar preso a experiências interiores. Isso precisa fluir! Jorrar abundantemente como rios de água viva “molhando” a todos ao meu redor.
Deus tem falado muito ao meu coração sobre isso. As nossas experiências com o sobrenatural de Deus precisam quebrantar o nosso coração e nos trazer à mente mudanças que precisam ser feitas para agradar o Senhor. Não adianta somente ficar emocionado ali. É preciso dar um passo prático de manifestar aquela capacitação para mudar que recebemos na presença do Senhor, porque toda unção derramada tem um propósito.
Uma vez ouvi de um pastor querido, Gerson Ortega, que o crente só tropeça no óbvio. E é a mais pura verdade! A escada que nos conduz às promessas de Deus é tão alta que se ficarmos sempre caindo do mesmo degrau nunca vamos terminar a subida.
Eu tenho observado a linguagem dos evangelhos e percebo que o de João é o que mais traz esclarecimentos. Em João, vemos um Cristo que faz milagres, abençoa, mas não passa a mão na cabeça. Um Jesus que fala duro com Seus seguidores, verdades profundas como o fato de que é preciso “comer de Sua carne” e “beber de Seu sangue” (Cap 5), “Quem não permanece em mim é lançado fora” (15:6), ”Como podeis crer, vós que recebeis GLÓRIA UNS DOS OUTROS e não buscais a glória que vem do único Deus?” (5:44) e assim por diante.
Mas de todas as mensagens de despertamento feitas pelo Senhor descritas em João, nenhuma me toca tão profundamente quanto a mensagem viva de João 13: JESUS LAVA OS PÉS DOS SEUS DISCÍPULOS.
Nessa passagem, Jesus resolve então mostrar com atitudes o ensino que está em Seu coração. Até nisso Ele foi exemplo pois nos encoraja a falar menos e praticar mais! Enfim, vale a pena ler cada linha (e muitas vezes) deste texto. Eu o fiz. E chorei. Chorei muito. Fiquei me imaginando sentada com Jesus lavando os meus pés e me amando, me servindo. A minha reação talvez não seria diferente da de Pedro: “Tu me lavas os pés a mim?… nunca me lavarás os pés.”
Pedro rejeitou a idéia por não se achar digno. Correto? Talvez. Talvez haja mais por trás dessa atitude. Para os discípulos, Jesus era O mestre. Até hoje nas culturas orientais os discípulos servem, honram, reverenciam o Mestre. Aparentemente, era Jesus se despindo de seus “direitos”. Agindo em discordância com Sua posição entre eles. O coração dos discípulos como já falei acima, não via beleza numa atitude como essa. Onde estava toda a glória do Filho de Deus???
Por isso resolvi escrever e compartilhar o que estou vivendo com o Senhor. Um tempo de esvaziamento dos conceitos mundanos do que é ter vitória, ser próspero e ser honrado. A glória do crente é a cruz que nos fez filhos do Pai Celeste. Ser cheio da glória de Deus é abraçar a totalidade da mensagem e transmití-la com TODA a minha VIDA!
Eu me emociono a cada vez que fecho os olhos e me imagino ali, com Jesus lavando meus pés. Eu quero amar esse Jesus! Eu não quero precisar imaginá-lo brilhante, com uma linda veste de pedras para enxergar Sua beleza, Sua santidade,
SUA GLÓRIA.
Um dos nomes mais falados nos últimos anos foi o nome de Davi, em virtude de seu exemplo de adorador e de homem segundo o coração de Deus. Em I Samuel 16, quando Samuel vai à cidade de Belém ungir o sucessor de Saul, ele vê o irmão mais velho de Davi, Eliabe e imediatamente declara: “Certamente está perante o Senhor o seu ungido” (v 6). Mas não batia no peito do forte e belo Eliabe o “coração segundo o coração de Deus”. Este coração estava no peito do adolescente ruivinho Davi.
Samuel foi um grande, mas um grande mesmo homem de Deus. Mas até ele, se enganou. Até ele viu beleza e glória num padrão humano que não condizia com os padrões de Deus. Às vezes a gente acha que sabe muito sobre Deus. Mas o Deus que vê o coração nos aponta o coração de Jesus. O que está ali é o que precisamos buscar, aprender, imitar, absorver e viver. Ser cheio da glória de Deus não garante que as pessoas verão algo especial em nós. Mas com certeza, Deus verá. E não precisaremos sair de detrás das malhadas. O próprio Senhor nos tirará de lá. Ao Seu tempo!
Que venha sobre nós a glória do Senhor Jesus Cristo. Que seja revelada a nós a beleza da cruz, a beleza da humilhação, a formosura incomparável da morte do eu. Que o viver como a nova criatura que somos seja a nossa maior motivação.
“Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual… esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo… humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.” (Fp 2:5,7,8)