Jeremias 2.1-13; 3.1
Se um homem repudiar sua mulher, e ela o deixar e tomar outro marido, porventura, aquele tornará a ela? Não se poluiria com isso toda aquela terra? Ora, tu te prostituíste com muitos amantes; mas, ainda assim, torna para mim, diz o Senhor
(Jr 3.1).
Jeremias profetizou durante o período em que a Babilônia e o Egito lutavam para dominar o mundo conhecido da época.
Seu ministério profético durou mais de 40 anos.C durante todo esse tempo, Jeremias conclamou o reino do sul, tendo Jerusalém como capital, a um arrependimento dos seus adultérios espirituais.
A semelhança de Oséias, Jeremias retrata Deus como o legítimo esposo da nação; e a nação na época mergulhada na idolatria, e retratada como uma esposa infiel que havia adulterado com vários amantes; com vários deuses.
Jeremias advertia duramente a nação dizendo que a sua infidelidade levaria inevitavelmente a um divórcio ou exílio, ao cativeiro na Babilônia. Por outro lado, ele dizia que se houvesse arrependimento esse processo de divórcio poderia ser interrompido, não haveria exílio, não haveria cativeiro.
O texto lido, relata um dos momentos em que Deus, o esposo traído, vai em busca da nação, a esposa infiel, tentando convencê-la da sua insensatez ao trocá-lo por outros deuses (seus amantes), e oferece-lhe perdão, aceitação.
Gostaria que pensar com você sobre “a busca apaixonada de Deus pelo seu povo, apesar do seu povo”.
Em primeiro lugar, o texto mostra que…
1. O Senhor relembra os velhos e bons tempos vividos com o seu povo (v.3,4)
O Senhor introduz a sua mensagem para o seu povo falando das boas lembranças que ele guardava do início do relacionamento. Aqui Ele se coloca como um marido que em diálogo com a esposa relembra os tempos de namoro, do clima de paixão que havia nos tempos de noivado, amor esse que nem mesmo a aridez e improdutividade do deserto fora capaz de apagar.
O Senhor relembra que no início do relacionamento havia amor, afeto, paixão e compromisso.
Além disso, o Senhor relembra que como os primeiros frutos de uma colheita, Israel era consagrado a Ele; o seu povo era intocável; era a menina dos seus olhos; ninguém que tocasse nele saía impune.
A impressão que dá ao lermos esse texto é que o Senhor sentia saudades (antropopatia – atribuição de sentimentos humanos a Deus) daqueles velhos e bons tempos vividos com o seu povo no início do relacionamento.
O Senhor aqui não está vivendo de passado, Ele está tão somente compartilhando com o seu povo as boas lembranças que guardava.
À semelhança do que fez com o povo de Israel, talvez, o Senhor queira compartilhar conosco, relembrar juntamente conosco os velhos e bons tempos que vivemos com Ele no início da fé.
Talvez, Ele queira relembrar o tempo em que…
– Éramos mais apaixonados por Ele,…
– Servi-lo, era um prazer e não um fardo pesado,…
– Vir à sua casa era motivo de alegria e não uma obrigação constrangedora,…
– Víamos a Igreja como local de culto, de adoração e não como”point” de encontro com a galera,…
– A nossa fé era menos racional; era simples, porém eficiente,…
– Servi-lo era a nossa maior obsessão,…
– Ouvir a sua Palavra era uma satisfação e não uma seção de tortura eclesiástica.
Talvez, Ele queira relembrar o tempo em que…
– Éramos tidos por loucos por compartilharmos a fé a tempo e fora de tempo,…
– Éramos chamados de “baratas de Igreja” por não querermos perder nenhum culto,…
– O “andar em Espírito” era uma realidade de vida e não um mero conceito,…
– Em nosso relacionamento com Ele havia mais paixão, brilho nos olhos, desejo de estar juntos usufruindo da sua presença.
Talvez, Ele queira relembrar o tempo em que, como esposa fiel, que ama o marido, estávamos dispostos a segui-lo na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza, na riqueza ou na pobreza, na abundancia ou em escassez.
Talvez, Ele queira relembrar os velhos e bons tempos que vivemos com Ele e Ele conosco.
No entanto, amados, depois de relembrar os velhos e bons tempos vividos com o seu povo, o Senhor o conclama a refletir sobre os seus atos. (ler v.5,10,11)
2. Afastar-se de Deus e buscar satisfação em outras coisas é uma insensatez sem precedentes (v.5,10,11)
No decurso da caminhada, algo aconteceu que fez com que os bons momentos vividos entre Deus e o seu povo se tornassem apenas meras lembranças.
O fogo da paixão inicial se apagou, o afeto acabou, o amor esfriou, e, como resultado disso, o povo de Deus o traiu; a noiva outrora apaixonada buscou outros amantes, tornou-se infiel, afastou-se de Deus e buscou satisfazer os seus anseios em outros deuses.
Para sua época, o povo de Deus cometera uma loucura sem precedentes; trocara de deus. (v.10,11)
O Senhor conclama o seu povo a fazer uma pesquisa, nas extremidades do mundo conhecido na época. Ele disse:
Façam uma pesquisa nas ilhas ocidentais do mar de Chipre; procurem saber em Quedar, entre os povos árabes do oriente.
Nenhum povo jamais havia trocado os seus deuses por outros. Ou seja, o que vocês fizeram; a atitude de vocês foi sem precedentes.
Além de ser uma atitude sem precedentes, era uma atitude insensata, estúpida. (v.11c,13)
Disse o Senhor: Trocaram a mim, a Glória do seu povo, por ídolos inúteis, o Manancial, a Fonte de onde jorra águas vivas, águas puras e cristalinas, e optaram por cavar cisternas rotas, rachadas, incapazes de reter as suas próprias águas. Ou seja, vocês deixaram a mim e buscaram deuses incapazes de suprir suas mais profundas necessidades espirituais.
Essa atitude do povo de Deus era de uma estupidez e insensatez tamanha que era capaz de espantar, horrorizar e deixar estupefados os céus. (v.12)
Não raras vezes, cometemos insensatez semelhante! Abandonamos a Deus após conhecermos outros deuses.
Não raras vezes, afastamo-nos de Deus e o substituímos na Igreja e em nossas vidas pessoais pelo “deus intelectus”; consultamos ao Senhor para tomarmos decisões apenas para alívio de consciência, mas de fato, o fator determinante de nossas escolhas é o nosso intelecto, nossa razão e raciocínio lógico.
Não raras vezes, afastamo-nos de Deus e o substituímos pelo “deus ego”; ou seja, quem comanda as nossas vidas são as nossas vontades, os nossos anseios e a nossa satisfação pessoal.
Alguns se aprofundam mais, e trocam Deus por deuses mais inferiores e mais sujos.
Há aqueles que optam por seguir ao “deus Dionísio”. No panteão grego, era o deus do vinho, da fertilidade e da vida alegre. Era símbolo de uma vida dissoluta. Alguns optam por Dionísio porque preferem viver mais em estado de embriaguez do que em estado de sobriedade.
Há aqueles que optam por seguir a dupla de deuses “Eros e afrodite”. No panteão grego, eram os deuses do amor carnal, do sexo livre, da beleza e da sensualidade. Os que optam por “Eros e afrodite” tornam-se escravos do sexo livre, da beleza, da sensualidade e da vida promíscua.
Diante de tamanha insensatez o Senhor tem uma pergunta para nos fazer: (v.5)
Que injustiça vocês acharam em mim? Que mal fiz contra vocês? Em que vos decepcionei? Que prejuízo causei em suas vidas? Pensemos sobre isso, sobre essas perguntas!
Por último após ter compartilhado as boas lembranças que guardava do seu povo; após tê-lo conclamado a refletir sobre a insensatez de afastar-se dEle e ir em busca de outros deuses,…
3. O Senhor faz um apelo apaixonado ao seu povo. (3.1)
Através do profeta Jeremias o Senhor cita de forma resumida o texto de Dt 24.1-4. Esse texto diz que um homem divorciado de sua esposa não poderia casar-se novamente com ela, se durante o período de separação ela tivesse se casado com outro homem.
A pergunta feita pelo Senhor ao seu povo tinha uma resposta óbvia: Não. Ou seja, uma esposa repudiada que havia se casado com outro homem não podia voltar a ser esposa do seu antigo marido.
É se o Senhor estivesse dizendo: Assim determinava a lei. Mas, por amor de vós, eu vou ultrapassar essa lei; eu vou além do que a lei determina; não vou agir com vocês com base na lei, mas vou agir com base na graça perdoadora… “Tu te prostituístes com muitos amantes… por causa dessa sua atitude a lei veda qualquer possibilidade de um retorno pra mim, o seu antigo marido… “mas, ainda assim, torna para mim, diz o Senhor”.
O Senhor não quer viver de passado; Ele não quer viver de velhas e boas lembranças, Ele quer viver, no presente, novos e bons momentos com cada um de nós.
Talvez, Você se afastou do Senhor e se tornou fiel seguidor do “deus intelectus”, da razão, do raciocínio lógico; talvez se tornou adepto do “deus ego” e continuam no comando de suas próprias vidas; talvez você optou por seguir “Dionísio” deus do vinho e da vida dissoluta; talvez você optou por seguir “Eros e Afrodite”, deuses do sexo e da beleza sensual.
No entanto, a palavra do Senhor para você é: Mesmo que isso tenha acontecido, torna para mim, volta para mim, diz o Senhor.
Amado (a), o Senhor não quer viver conosco de velhas e boas lembranças! Mas, através do seu apelo apaixonado, do seu perdão e da sua graça, Ele quer reacender em você a paixão, restaurar o afeto e reavivar o amor. Ele quer ver novamente o brilho em seus olhos, o prazer de estar junto d\’Ele.
Pr. Paulo César Nascimento
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