Esta é a segunda parte do estudo bíblico sobre vida de louvor, ministrado por Ana Paula Valadão durante a I Conferência de Louvor e Adoração “Tocando a Trombeta”, em Agosto deste ano, no Japão Há também o termo pelah, que significa servir, adorar, reverenciar, ministrar. Este termo diz respeito ao serviço religioso e aparece em Daniel 3.17, trazendo a determinação dos amigos de Daniel em não servir – ou não adorar – a outros deuses. Para eles, a idolatria era algo tão errado que não adorariam nem serviriam a um deus falso, mesmo que Deus decidisse operar um milagre especial (como fez tantas vezes no passado). Eles não aceitaram cometer idolatria nem mesmo para salvar suas próprias vidas.
O emprego mais curioso da raiz tem a ver com o nome de um dos companheiros de Daniel. Esses 4 jovens foram para o cativeiro babilônico tendo nomes claramente hebraicos, cada um deles com sentido simbólico relacionado à adoração de Iavé, o Deus de Israel. Hananias e Azarias são nomes que contém a forma abreviada do nome Iavé e significam, respectivamente, “Yah tem sido gracioso” e “Yah tem nos ajudado”. Seus captores babilônicos, porém, rapidamente alteraram seus nomes hebraicos (ou “iavísticos”) para nomes babilônicos – em especial, o novo nome dado a Azarias, “Abede-Nego”, tem um significado muito claro, parecendo uma dissimulação de “Abede-Nebo”, ou “escravo de Nabu”, deus babilônio da sabedoria. Era uma forma de humilhação no cativeiro, que simbolizava a vergonha de ter o seu nome verdadeiro trocado.
Um aspecto importante do livro de Daniel é mostrar que Iavé ainda está no controle da história, a despeito do seu povo estar exilado e parecendo derrotado. Para confirmar isso, o clímax do livro está no relato do episódio na fornalha de fogo ardente, em que a mensagem objetiva é demonstrar a fidelidade de Daniel e seus companheiros em adorar somente a Iavé. Nenhum deus babilônio merece a adoração ou devoção do povo de Deus. Assim sendo, embora aqueles tivessem mudado o nome de Azarias para Abede-Nego, sua fé permaneceu firmada unicamente em Iavé.
Existe ainda um outro termo para estudarmos, que é ’ãtar (orar, suplicar), com o derivado ’ãtãr (suplicante, adorador). Este termo tem o sentido de fazer uma oração ou súplica sincera, pedir ou implorar graça. Ele traz uma característica muito interessante: não possui nenhum vestígio de emoções falsas ou de “adulação”; pelo contrário, suas características são de simplicidade, sinceridade e confiança infantis em relação a Iavé.
Este termo denota uma coerência e não uma disparidade entre a oração na adoração pública coletiva e a oração particular do indivíduo. A oração bíblica é espontânea, pessoal, motivada pela necessidade e não restrita e uma hora nem local. Significa que é possível chegar-se a Deus em todo local e toda hora do dia. Isso fica claro porque, na adoração de Israel, apesar das minuciosas instruções quanto aos sacrifícios, não existe uma liturgia rígida de oração. Esta devia ser espontânea.
Das 20 ocorrências de ’ãtar, 8 aparecem no contexto das pragas do Egito (Êxodo 8.8,9; 8.28-30; 9.28; 10.17,18). Em Êxodo 8.28 estabelece-se um relacionamento entre sacrifício e oração de súplica. Atos sacrificiais aparecem associados a súplicas também em II Samuel 24.15, onde Davi oferece holocaustos e ofertas pacíficas para interromper a praga. Portanto, ’ãtar diz respeito a uma oração feita a Iavé numa súplica sincera e fala também da resposta favorável a esta súplica através da demonstração maravilhosa de sua graça e favor, como vemos em Gênesis 25.21.
Temos ainda, no hebraico, outras 2 palavras que significam adoração: sãgad (prostrar-se em adoração), que é empregada em Isaías 44.15,17,19 e 46.6, e hãwâ (prostrar-se, adorar), encontrada em Neemias 8.6. Nestas passagens, “adoraram” seria melhor traduzido como “prostraram-se até o solo”. Esse ato era bem comum como prova de submissão diante de alguém superior. Os muçulmanos realizam sua oração, salah, com um gesto elaboradamente prescrito, chamado sugûd, em que a testa deve encostar no chão. Encontramos ainda referências a este gesto em Gênesis 22.5; 24.52; Êxodo 11.18; 34.8; Josué 5.14; I Samuel 15.25,30,31; 28.14; I Crônicas 29.20; Ester 3.2; Jó 1.20. Há exemplos de adoração comunitária de prostração em Êxodo 4.31; 12.27; 33.10; II Crônicas 2.18; e também ordens e convites a esta adoração em Deuteronômio 26.10 e em Salmo 95.6. Prostrar-se era um ato comum de auto-humilhação, realizado diante de parentes, estranhos, superiores e, principalmente perante a realeza (Gênesis 18.2; 19.1; 23.7,12; 42.6; 43.26,28; Números 22.31).