“Adiante deles enviou um homem, José, vendido como escravo;” – (Salmo 105.17)
Uma marca do herói de Deus é que ele é capaz de vencer a tentação. Ele tem que passar por várias tentações sujas, mas ele se mantém limpo. Ele tem que peregrinar num mundo mau, mas ele guarda a si mesmo da corrupção do mundo. Ele tem que enfrentar terríveis e fortes tentações exteriores e interiores, mas o Senhor o livra de todas. Assim fez José nos velhos tempos, e assim qualquer um de vocês hoje.
A primeira lição que eu retiro da vida de José é que a pessoa que tentar fazer o que é certo a qualquer custo não será popular entre os seus irmãos.
Tal é a perversidade da natureza humana, que os homens têm ciúme e inveja daqueles que são mais puros, mais santos, mais sábios do que eles. Todo homem tem que fazer a escolha solene entre a amizade de Deus e a amizade do mundo. Nós não podemos ter ambas. O povo de Deus se ama mutuamente, mas os ímpios são sempre inimigos da santidade e da verdade. Se um homem quer ser popular com todos os tipos de pessoas, ele deve desistir de seu dever para com o seu Deus.
“Ai de vós quando todos os homens falarem bem de vocês; sereis odiados de todos por causa do meu nome.” O homem de mente pura não pode ser popular com o maldizente e o homem de vida impura. O homem sóbrio não pode escolher o viciado por companheiro. O homem religioso nunca deve fazer amizade com aquele, cujo lema é: “Eu não sei, e eu não me importo, e nada significa.” Todo homem que escolhe deliberadamente a Deus, que escolhe o caminho estreito do dever, encontrar-se-á com algum ódio, abuso e desprezo da parte de seus irmãos descuidados. Tem sido sempre assim desde que o mundo começou, Noé e Ló foram alvo de zombaria e escárnio. Os profetas que falavam da vinda do Salvador sempre foram desconsiderados, e muitas vezes mortos. Quando o Filho de Deus veio ao mundo para trazer luz e verdade, eles disseram que ele tinha um demônio, e o penduraram num madeiro. Aqueles que primeiro seguiram seus passos santos ou eram ridicularizados como loucos, ou cruelmente torturados e mortos.
Assim tem sido com quase todos os verdadeiros reformadores na religião, ou da ciência, ou da moral pública. Eles foram chamados de ateus, ou sonhadores, e sua porção tem sido, por vezes, a prisão.
A retidão de José lhe custou o ódio de seus irmãos, custou-lhe perseguição, prisão, escravidão, mas o Senhor estava com ele. Então, se você tentar fazer o certo, você deve esperar se encontrar com a oposição, com o ridículo, talvez insultos. Alguns o chamarão de hipócrita, ou servo de ocasião, ou estraga-prazeres, porque você evita o caminho da impiedade, e busca a Igreja do seu Deus. O que importa isso? Se você tem o testemunho de uma boa consciência para com Deus, se você pode sentir que o Senhor está com você no caminho pelo qual você está indo, você saberá que é melhor sofrer perseguição com o povo de Deus do que desfrutar o salário do pecado por um certo tempo.
Eu também aprendo da história de José, que nossos problemas e desgraças muitas vezes são bênçãos disfarçadas. Deus nos leva para Si mesmo e para o Céu por caminhos diferentes. Um homem é provado pelas tentações da riqueza, outro pelas provações da pobreza. Mas, para cada cristão o caminho da fé é um caminho difícil, cheio de dificuldades e provações e obstáculos, mas sempre nos leva mais alto, mais perto de Deus. Antes que Moisés pudesse olhar as belezas da Terra Prometida, ele teve que escalar a íngreme subida do Monte Pisga, e antes que possamos ver claramente as coisas concernentes à nossa paz, e as coisas boas que Deus tem preparado para nós, devemos viajar na estrada pedregosa, e suportar as dificuldades como bons soldados de Cristo.
Em José, vemos um tipo de cada cristão. Ele foi odiado por seus irmãos porque ele amava o seu pai, e abominava a iniquidade. Então, se nós amamos o nosso Pai Celestial, haverá uma abundância de nossos irmãos na terra que irão nos odiar por isso. Para José houve a inveja de seus irmãos, o poço significava a sua própria destruição, escravidão, terrível tentação, uma falsa acusação, uma prisão. No entanto, este caminho de sofrimento, de provação, de decepção, de cativeiro, levou-o a um trono, e fez dele governador do Egito; aquele calabouço foi o trampolim para o palácio, os grilhões de ferro estavam levando José para a cadeia de ouro, e para o sinete da mão de faraó. Se José nunca tivesse sido lançado na cova ou vendido aos ismaelitas, ou preso no Egito, ele nunca poderia ter sentado à direita de faraó, e seu pai e irmãos teriam perecido pela fome. Mas essas mesmas dores abriram o caminho para a sua grandeza, e fez dele o salvador, não somente do Egito, mas da casa de seu pai.
Meus irmãos, não murmurem, porque a forma pela qual Deus lhe conduz é uma maneira áspera. O caminho de cada homem verdadeiro através da vida está manchado com sangue e marcado por lágrimas. Deus nos traz em baixas condições, como ele fez com José para ser lançado numa cova. Devemos nos encontrar com as tentações de fogo, para que a nossa fé possa ser provada como num forno, é preciso às vezes sofrer a prisão de homens e falso julgamento, ou a ignorância, ou a injustiça, mas enquanto o Senhor estiver conosco, como foi com José, não precisamos temer nenhum mal. O Senhor, que liberta os homens da prisão nos libertará, se não nesta vida, pelo menos quando a Morte, o Amigo, abrir a porta da prisão, passaremos, como Jesus, nosso Mestre, pelo caminho da tribulação para a glória que será revelada.
“Doces são os usos da adversidade;
Que, como um sapo, feio e venenoso,
não obstante usa uma jóia preciosa em sua cabeça.”
E ainda, eu aprendo da história de José, que uma mudança de fortuna muitas vezes traz uma nova tentação.
José, quando era um simples pastor entre as planícies de Canaã, e habitando entre o seu próprio povo, não foi colocado face a face com a terrível tentação que o esperava na luxuosa casa do egípcio Potifar. José nunca estivera sob tal perigo antes. Quando ele foi lançado na cova ele corria o risco de perder sua vida, mas agora ele estava em perigo de perder a sua alma; quando ele foi levado por seus irmãos para o ismaelitas ele foi vendido como escravo a inimigos, agora ele estava em perigo de ser vendido para ser escravo de maus desejos e paixões e perder a liberdade de inocência que ele nunca poderia recuperar.
Todo jovem quando sai para o mundo, deixando um silêncio, numa boa casa, talvez, para um grande cidade, e na companhia de pessoas, boas, ruins, e indiferentes, se encontrará com uma nova e mais feroz tentação do que ele jamais encontrou antes. Deixe o exemplo de José ajudá-lo a se manter impecável, imaculado pela carne, invicto pelo diabo. O Senhor estava com José em sua hora de provação, Ele estará com você também. José gritou: “Como vou fazer isso, e pecar contra Deus? “
Ah, lembrem-se disto, meus irmãos. Quando você peca, você não somente faz o mal para si mesmo e para outros, mas você peca contra Deus. José fugiu para longe da tentação; na hora da provação devemos fazer o mesmo. Fugir da má companhia, da conversa suja, da bebida forte, dos vícios de toda sorte, da visão impura, do livro e dos entretenimentos vis, afastemo-nos destas coisas como Ló fugiu das ruas da condenada e amaldiçoada Sodoma. Não se permitam procurar lugares de má fama; ou ouvir maledicências; muitos têm morrido como viciados arruinados, sem esperança, que começaram suas carreiras com um olhar sobre as fontes de suas tentações. Você não pode tocar o campo do pecado mesmo com a ponta do seu dedo, sem ser contaminado, você não pode ouvir uma palavra ruim, ou olhar para uma coisa má, sem perder algo de sua pureza. Por isso, eu digo, quando você puder, fuja da tentação, quando isso é impossível, mostrem-se heróis lutadores de Deus, na força de Deus, contra o pensamento mau e o desejo indigno.
“Bravos conquistadores! É para vocês,
essa guerra contra seus próprios afetos,
e o enorme exército dos desejos do mundo.”
Ainda, a história de José nos ensina que a riqueza e prosperidade não fazem um bom homem esquecer seus amigos dos dias menos prósperos. José era um bom filho e um bom irmão, quando ele vivia a simples vida de pastor em Canaã. Ele ainda era um bom filho e irmão, quando ele se sentou no seu trono no lindo palácio egípcio, a altura vertiginosa que ele tinha galgado não tinha virado a sua cabeça, ou fez com que não se importasse com a família de onde ele viera. Ele pensou em seu pai, o velho Jacó, que estava de luto por ele entre as tendas de Canaã. Ele se lembrou e perdoou seus irmãos que haviam conspirado contra a sua vida, e lhe vendido como escravo.
Agora, irmãos, poucas pessoas podem experimentar prosperidade súbita e inesperada no caminho certo. Muitos que levavam uma boa vida numa condição humilde, foram estragados por serem transplantados para uma posição de riqueza e influência. A prosperidade tenta um homem muito duramente. Se ele é um bom homem, se o Senhor sempre estiver com ele, como foi com José, está tudo bem, senão, riqueza, posição, poder, geralmente estragam um homem, e o tornam orgulhoso, ocioso, egoísta, injusto. É uma coisa ruim para um homem quando ele se torna muito próspero e não se lembra de onde ele veio, e quando ele se envergonha de seu pai e amigos dos dias anteriores.
José, o grande governante do Egito, não teve vergonha de enviar provisões para o simples velho de cabelos brancos morador em tendas, a quem ele amou e honrou como seu pai. José, que viveu em meio aos luxos da coorte de faraó, enviou alimentos para a família faminta de sua casa.
Finalmente, aprendemos com a história da beleza e da bem-aventurança do perdão. Que imagem no Velho Testamento é mais bonita em sua comovente simplicidade do que a de José chorando pelos seus culpados, mas arrependidos irmãos, e lhes dando as boas coisas do Egito em troca das coisas más que lhe haviam dado? Nós nunca poderemos ser felizes, nós nunca poderemos estar em paz, não poderemos ser prósperos no verdadeiro sentido, a menos que perdoemos livremente todos aqueles quem nos têm ofendido.
Ao longo desta história de José, vemos a sombra de Jesus, o tipo desta compaixão divina que o levou a orar por seus assassinos, que o fez enviar as coisas boas do céu a seus irmãos que passavam fome num mundo de pecado, o que proporciona para nós, que tantas vezes pecamos contra Ele, contra a boa terra de Gósen, Sua Igreja na terra, e o melhor da terra além do “mais querido país que ansiosamente nossos corações esperam.”
Tradução e adaptação de um sermão em domínio publico de Harry John Wilmot – Buxton