“ Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus;” – Colossenses 1:9-10
Necessitamos de revelação e instrução de Deus, uma vez estando convertidos, para que possamos conhecer qual é a Sua boa, perfeita e agradável vontade, em relação a nós e particularmente à sua Igreja, e por este motivo Paulo orava incessantemente por todos os crentes. Muito da vontade de Deus é definido pelo seu eterno propósito em relação às nossas vidas, em razão da condição de sermos seus filhos amados, por meio da fé em Jesus.
Este propósito é tanto geral quanto particular. Há um propósito geral e comum que se refere a todo o corpo de crentes quanto especialmente à salvação, no que tange à justificação, regeneração, santificação e glorificação futura. Enfim, em tudo aquilo que Cristo conquistou para nós na cruz. E quanto ao propósito particular isto se refere sobretudo à nossa chamada ministerial e os dons que nos são reservados pelo Espírito Santo, conforme lhe apraz e para um fim proveitoso relacionado ao progresso do Reino de Deus.
Trata-se do propósito de Deus em nossas vidas, e não propriamente os nossos propósitos e sonhos, que não raro teremos que renunciar para que não a nossa, mas a vontade do Senhor seja feita. Vocação e talentos naturais serão não raro pedidos por Deus para que possamos nos consagrar inteiramente a Ele.
A Bíblia está repleta de exemplos que ilustram esta verdade. Moisés, sendo príncipe no Egito teve em sua mão não o cetro mas o cajado do pastor.
Amós que era cultivador de sicômoros, abandonou a lavoura para ser profeta, e de igual modo Eliseu que lavrava a terra com sua junta de bois. Pedro e João tiveram que abandonar as redes. Martyn Lloyd Jones abandonou o exercício da medicina, por determinação do Senhor, para se dedicar integralmente ao pastorado. David Owuor também teve que deixar para trás a sua vocação para a ciência médica que exercia com tanta paixão e zelo, para exercer seu ofício profético.
E os exemplos se multiplicam em todas as esferas, para que o propósito de Deus se cumpra na vida daqueles a quem tem chamado. E todos estes foram pessoas de um só livro (não que não lessem outros livros), mas foram aperfeiçoados em santidade para o exercício do ministério pela Palavra de Deus, e se dedicaram tão somente a ela, que é insubstituível não somente para a santificação dos líderes quanto daqueles que se encontram debaixo dos seus ministérios.
A noção presente em nosso tempo que o ensino da exata Palavra de Deus e sobretudo do Evangelho não é mais necessário como no passado, e que apenas os feitos dos crentes é o que conta nesta hora, é a mais grosseira mentira satânica, porque quando nosso Senhor orou em favor da Igreja de todas as épocas em sua oração sacerdotal em João 17, ele rogou ao Pai que todos eles fossem santificados na verdade, e definiu esta verdade como sendo a Palavra de Deus revelada.
Não há outro meio designado para a nossa santificação pelo Espírito Santo. Como podemos abandonar o Sermão do Monte? Como podemos deixar de lado as instruções práticas que visam ao comportamento aprovado por Deus que devemos adquirir como sendo o fruto do Espírito Santo? Onde haveria longanimidade, misericórdia, bondade, justiça, paz, verdade, alegria espiritual, domínio próprio, entre tantas outras virtudes se não fossem forjadas em nós sobretudo nas muitas provas que experimentamos, e das quais devemos ter por motivo de grande alegria, conforme o dizer do apóstolo Tiago, porque é por este meio que somos amadurecidos e aprovados e confirmados por Deus?
Filadélfia não negou ao Senhor e nem a sua Palavra, apesar da sua pouca força, e por isso é achada no Apocalipse sendo elogiada por Ele. Já Laodiceia, esta mega igreja de nossos dias, que se espalha por todas as partes e que se considera rica e abastada e que não precisa de coisa alguma, não sabe contudo, que aos olhos do Senhor é infeliz, miserável, pobre, cega e nua.
Laodiceia tem sido guiada por falsos profetas que lhe falam de coisas agradáveis, uma vez que os falsos profetas são comerciantes de almas conforme Pedro a eles se refere em sua segunda epístola. Eles falam coisas que estão na 8iblia, mas ocultam aquelas que são desagradáveis para a carne. Não repreendem, não exortam, não disciplinam. Não confrontam o pecado em todas as suas formas. Não requerem, como o Senhor deles requer, uma santificação genuína baseada na renúncia ao ego e às paixões carnais, e o carregar diário da cruz. Eles não confrontam o pecado sexual e todas as demais formas de pecado que exigem muita determinação para serem deixadas. Eles, quando não apontam para prosperidade terrena por amor ao dinheiro, fazem da felicidade pessoal o grande propósito da vida do crente neste mundo; quando o Senhor ensinou claramente que aquele que amar a sua vida vai perdê-la.
Filadélfia persevera falando como para um deserto, como uma gota de verdade caindo num grande oceano de engano, pois tem pouca força. Sofre e padece por ver a condição de seus irmãos na fé sendo iludidos pela velha Serpente. Fica entristecida por vê-los enganados pensando que estão agradando ao Seu Senhor, que por eles sofreu e morreu, para que seguissem os seus passos, suportando com paciência os mesmos sofrimentos e perseguições que Ele sofreu por sustentar a verdade no meio de uma geração incrédula. Certamente, a geração em que vivemos não é em nada melhor do que aquela em que Ele realizou o seu ministério terreno.
Que o Senhor tenha misericórdia de nós, e que nos desperte para a necessidade de comprar nEle o colírio espiritual pelo qual poderemos ver e entender a nossa real condição, e a necessidade que temos de sermos enriquecidos pela Sua graça, para que possamos adquirir a veste de justiça de Sua mãos para cobrir a nossa nudez espiritual, da qual deveríamos nos envergonhar diante de Deus, e dela nos arrependermos.
Quão enganoso é o coração. Quem o conhece senão somente o Senhor. Pois podemos pensar que estamos vivendo para o propósito de Deus, quando na verdade ainda nos encontramos vivendo para realizar os nossos próprios propósitos.