Fui indagada por um jovem cantor da minha Igreja sobre o “estrelismo” de alguns cantores mais conhecidos da Igreja Católica e Evangélica. Não sabia o que dizer a ele, também sou jovem demais e tive medo de falar algo que não o ajudasse.
Enquanto conversávamos, discutindo sobre a importância do estudo musical, tanto quanto da oração nos ministérios, pedia a Deus que me enviasse Seu Espírito e que me ajudasse, pois até mesmo eu tinha um certo preconceito sobre este assunto: ser melhor implica em aparecer mais. Isso é bom?
Deus sempre nos usa no que mais precisamos.
Durante minha vida no serviço a Deus, eu pude conviver com um Mestre que me ensina mandando que eu ensine os irmãos. Muitas vezes o assunto em que eu mais estou em dúvida é o escolhido pelo Senhor para que eu fale em retiros, grupos de oração ou, até mesmo, em conversas casuais com os irmãos.
Dessa vez não foi diferente. Deus sempre colocou em nosso coração, Comunidade Adorai, que deveríamos dar tudo a Ele, incluindo qualidade no que fazemos. Chega de trabalhos medíocres, sem fundamento, feitos por fazer. Era hora de se gastar pelo Evangelho (“Vê se desempenha bem o ministério que recebeste do Senhor” Col 4, 17 ). Tudo fazemos por obediência a Deus, mas os resquícios de uma mentalidade errada na Igreja ainda afligia meu coração: Será que eu não sou estrela demais?
Conversando com aquele rapaz pude perceber a hora exata em que o Senhor veio em meu socorro e cumpriu, mais uma vez, a Palavra que diz: “Não temas. .. Eis que ponho as minhas palavras em tua boca” (Jer. 1, 8s).
O Senhor levou – me a contemplar o Seu nascimento. E naquele momento o véu se rasgou mais uma vez na minha vida, agora ministerial.
Comecei a enxergar um fato que eu nunca tinha reparado antes: Quem levara os magos até Jesus? Ora, uma ESTRELA!
Meu Deus, por que nunca percebi isto?
A estrela precisava ser estrela naquela hora, para que pudessem Ter certeza do caminho e do lugar certo. Ela não brilhou menos por que iria ofuscar Jesus. Como uma pequena estrela ofuscaria o Sol?
Ao chegarem até o Senhor, os pastores nem ligaram mais para a estrela, pois esta já tinha cumprido seu papel. (Mt 2, 1 – 11)
A estrela foi motivo de alegria para os homens que buscavam o Senhor, sabiam que onde estava a estrela, lá Ele estava também. Como é valioso e importante lembrarmos sempre disso: onde estava a estrela eles sabiam que o Senhor estava…
A Palavra diz que “ De fato, Cristo é o Senhor: estai a Seu serviço” (Col 3, 24).
Ser estrela requer cuidado, cautela e muita humildade em saber que brilhamos, sim, mas não somos o centro do universo. Nossa luz não é e nunca será mais forte que a do Sol. Nossa função é, simplesmente, mostrar o caminho. Brilhar neste mundo cheio de trevas e revelar Jesus.
É muito bom saber que quando alguém olha para nós sabe que conosco está o Senhor! Se isso não acontece, aí sim, precisamos nos preocupar. O que estamos mostrando? A que caminho estamos levando aqueles que nos escutam?
Estrelas sempre mostraram caminhos. Homens se guiavam por elas para chegarem a algum lugar, para saberem onde estão. Por que então os magos perceberam que aquela estrela, em especial, era o Sinal prometido? Talvez ela tenha brilhado mais forte do que as outras. Ou, então, seu brilho era apenas diferente. Diferente de tudo o que tinham visto, de todo brilho que conheciam. Mas o mais importante, eu creio, que a maior diferença daquela estrela para as outras era o objetivo que ela tinha, a missão que estava cumprindo. Ao olharem para a estrela os magos entenderam, em seus corações, que era o Sinal do Senhor. Puderam ver além da estrela, não ficaram somente admirando a estrela e sua beleza, por que sabiam que havia algo mais por trás de todo aquele brilho.
Mas o brilho foi necessário.
“Cada um use o Dom recebido a serviço dos outros, como bons administradores da multiforme graça de Deus”
(I Ped. 4, 10)
Deus nos escolhe para o seu serviço, quer nos fazer estrelas, mas não quer fazer tudo sozinho.
Nos dá sabedoria para escolhermos de que maneira administraremos os dons recebidos. Nós escolhemos se investimos e aumentamos o Dom ou se o enterramos e deixamos que ele morra sufocado dentro de nós. Conhecemos muito bem a frase que diz “ Cantarei com o espírito, mas cantarei também com minha inteligência” (I Cor 14, 15).
O Dom está a serviço dos outros. Deus quer atrair a todos através dos vários ministérios dados à Igreja. Então, como atrairemos alguém se não nos empenhamos em melhorar no que fazemos? Se precisamos atrair quem está longe de Deus, é necessário sermos melhores do que aqueles que estão atraindo seus olhares agora. Existem muitas estrelas que chamam mais atenção para si do que as estrelas que deveriam estar chamando a atenção para Deus. Por que? Por que temos medo!
O medo de ser chamado de estrela faz com que muitos artistas da Igreja não dêem seu máximo para o Senhor ou, pior ainda, saiam da Igreja para darem seu máximo como artista para o mundo.
A causa desse afastamento é que muitas vezes declaramos que esses músicos são orgulhosos por fazerem sempre algo diferente, por ensaiarem arranjos instrumentais e vocais sofisticados e preferimos aqueles que não se empenham nem em aprender músicas novas e cantam sempre as mesmas, “é melhor por que todos já conhecem” – pensam eles e nós também – mas esquecemos que estas músicas um dia também foram ensinadas e que só as sabemos hoje por que alguém teve coragem de tocar algo diferente.
Deus merece o melhor em tudo, na ornamentação do altar e da Igreja, nas vestes dos ministros da Eucaristia e da Palavra, no desempenho destes ministérios (quem gosta de escutar uma leitura mal feita que não dá para entender …), na presidência da Celebração, feita pelo sacerdote ou pastor (Quantas vezes escolhemos a Missa que vamos por que aquele ou este padre ou pastor prega melhor o Evangelho, ou é mais descontraído, mais ungido). Por que Deus não merece músicos bons? Por que todos os outros ministérios podem ser estrelas e o ministério de música não? O Senhor merece excelencia em nosso ministerio.
É preciso medir pelo que ouvimos e sentimos e depois dizer se estão sendo estrelas que levam a Deus ou que atraem olhares para si mesmos. Quando Deus está presente contemplamos a qualidade musical como veículo da unção. Alguns dizem que Deus usa do que temos para tocar Seu povo, mas não devemos usar disso para nos acomodarmos no pouco que temos, mas implica em desejarmos dar sempre mais para Deus, mais e melhor. Aí seremos considerados estrelas, sim, estrelas que mostram o Caminho. Estrelas que chamam atenção, sim, por que precisam brilhar, mostrar que são diferentes e que vale apena ser assim. Vale a pena ser estrela para Deus.
Vale a pena nos desgastarmos no estudo para dar tudo ao Senhor e recebermos a alegria da Salvação, nossa e daqueles que escutam a nossa música.
Eu sou estrela, sou artista e Deus é digno da minha arte por inteiro, sem medições. Quero me esforçar para brilhar e mostrar cada vez mais nítido o caminho que leva ao Céu, a Deus. Que outros possam ser estrelas também para mim, aí eu não vou me perder em rotas estranhas, juntos caminharemos e mostraremos caminho.
Hoje percebo que aparecer as vezes é necessário, ser estrela, mesmo que por alguns instantes, é preciso quando Reino está em jogo. Chamar a atenção pela qualidade é o primeiro passo para fazer voltar a Deus os que saíram de perto Dele por buscarem “algo melhor” que ofuscávamos pela falta de zelo pelo serviço a qual Deus nos chamou. Se interessando pela nossa arte, muitos terão a oportunidade de se encontrar com o Senhor, pois é o próprio Senhor quem usa de nós para atrais os homens.
Se o Senhor quiser seremos mais e mais estrelas a cada dia e o Seu Caminho ficará mais e mais iluminado. Aleluia!
No Amor do Amado,
Carol