Naturalmente, com o poder de nossas próprias faculdades é impossível ter qualquer apreciação pelas aflições.
Mas, no poder do Espírito Santo, e com o fruto da paciência do mesmo Espírito, é possível até mesmo ter prazer interior enquanto debaixo delas, assim como o apóstolo Paulo tivera no passado (II Cor 12).
As aflições nos vêm através de deliberação. Elas são ordenadas por uma deliberação de Deus para serem meios de provimento de bem espiritual aos santos. Por isso Jesus recomendou a termos bom ânimo nelas para que possa ser cumprido o propósito do nosso aperfeiçoamento em paciência e aumento de fé, por mantermos a confiança em Deus enquanto passamos por elas. Especialmente por este meio serão purgadas as nossas iniquidades. Elas são servas de Deus para baixar o nosso orgulho e segurança carnal, de maneira a aprendermos a não confiarmos em nós mesmos, ou na nossa capacidade e poder, bem como nos demais homens, senão somente no Deus que ressuscita os mortos. A graça fará o seu trabalho em meio às nossas fraquezas e ela nos bastará.
Assim, se têm sido muitas as nossas aflições, grande deve ser a nossa alegria, conforme diz Tiago, porque Deus está fazendo um grande trabalho em nós, para grandes propósitos. E isto será um sinal de que Ele tem aceito de fato a nossa consagração ao nos contemplar com estes meios poderosos que visam ao nosso aperfeiçoamento espiritual.
Conhecedores desta verdade deveríamos nos aplicar a remover do nosso vocabulário expressões que são muito comuns de serem ouvidas como estas:
“Apesar de tudo o que tenho sofrido, sei que Deus me ajudará”.
“Mesmo sabendo que terei aflições devo continuar confiando em Deus”.
Este “apesar de tudo” e o “mesmo sabendo…” e expressões equivalentes não honram a fé genuinamente cristã, pois trazem embutidas, ainda que ligeiramente, uma queixa íntima contra as aflições que experimentamos, como se fossem algo estranho à vida cristã ou mesmo contra ela.
Todavia não são coisas estanhas e nem devem ser assim consideradas conforme ensino de Jesus e dos apóstolos, pois acompanham a fé verdadeira.
O fogo ardente da tribulação não era considerado como algo estranho pelos apóstolos de Cristo.
Eles sabiam que todos os crentes verdadeiros estão destinados ao trabalho de refino do ouro da fé pelo fogo do grande Ourives.
Não se tratando de um fogo de destruição do que é bom, senão somente do que é pecaminoso, e visando à nossa purificação, deve ser algo digno da nossa consideração e exultação, e não propriamente algo que devemos repudiar, evitar e do qual devemos nos queixar.
Não pode ser algo ruim para nós porque são deliberações provindas da soberania do próprio Deus que servimos.
Queixarmo-nos destas deliberações corresponde portanto a nos queixarmos da pessoa do próprio Deus que nos submete à provação da nossa fé.
Porque em vez de colaborarmos com o Seu santo e bom propósito para conosco, nos opomos a ele.
Daí importa aprendermos juntamente com Paulo a nos gloriarmos nas tribulações, e com Tiago, a ver nelas um motivo para uma grande alegria, e não para tristeza.
Que o Espírito Santo nos ajude a compreendermos e a lembrarmos desta verdade, especialmente quando nos encontrarmos sob tribulações e aflições.
Pr Silvio Dutra