O cotidiano as vezes nos faz prisioneiros de nós mesmos, de nossas necessidades passageiras, nossas ilusões. Nossos desafios tornam-se maiores do que realmente o são e assim acabam por atrair toda a nossa atenção, energia e disposição. “Matamos um leão por dia” e ainda assim, muitas vezes, não temos a recompesa que consideramos justa. O “mundo” que construímos com tanto suor, dedicação e sacrifício, vemos ruir num piscar de olhos. E antes que se possa explicar algo, o que se explicaria já não existe, e portanto nem precisa mais ser explicado. Essa é a terra dos homens!
Então eu era jovem e destemido, Quando os sonhos eram sonhados, realizados e desperdiçados. Não havia preços a serem pagos, Nem canção não cantada, nem vinho não provado. Mas os tigres vêm à noite, Com sua voz suave como o trovão, Como se despedaçassem suas esperanças Como se transformassem seus sonhos em vergonha (I Dreamed A Dream – Les Miserables)
Como é difícil, em meio a tudo isso, perceber a presença de Deus. Ele parece tão distante, tão abstrato. É como se fosse apenas uma idéia. Fica tão difícil entender seus pensamentos. Mas uma frase encontra eco em meu coração, como a primeira gota de chuva em um terreno seco. Uma pequena jaculatória, que por tanto tempo passou desapercebida. Mas nos últimos anos tem me aproximado do “Reino”:
ELE está no meio de nós!
Repetimos isto sempre, mas não saboreamos a verdade escondida por trás destas palavras. Lia agora pouco um aritgo sobre Irmão Yun, um líder chinês cristão, membro da igreja clandestina. O artigo do Cristianismo Hoje falava sobre sua trajetória, conversão e ministério. Sobre um país onde possuir uma Bíblia é considerado crime contra o Estado. Onde as pessoas se reunem escondidas para poder ouvir falar sobre Jesus. Para ouvir falar que Ele está vivo, que “Ele está no meio de nós”. Eles apanham, são presos, tem seus bens confiscados, muitos até são condenados a pena de morte, mas suportam com alegria tudo isso, porque tem certeza que sua fé é real. Tem certeza que “Ele está no meio de nós”. Esta frase me abala profundamente. Me faz tremer. Me faz rever tudo o que tenho, faço e sou. Porque nela está escondida uma das características mais relevantes do cristianismo enquanto movimento: seu líder e fundador, um jovem condenado a morte por suas idéias revolucionárias, após ter sido constatado morto e sepultado, voltou a viver. “Jesus died and rose again” (Jesus morreu e levantou-se novamente) diz a canção “Hosanna” da Hillsong.
Aqui faço um parêntese. Se você já foi a um velório, conhece o amargor daquela realidade. A total impotência humana diante da escárnia da morte. O corpo, já assaltado de seu sopro de vida, é então somente matéria. É frio. Mas não tanto quanto a dor, inenarrável que te esmaga, ao receber em seu entendimento, a invasão do indesejável fato daquela existência humana, tão amada, ter chego ao seu fim. Agora pense novamente nisto: Jesus morreu… e voltou a viver.
O corpo de Jesus, desfalecido, tão somente matéria, foi reassumido pela vida. Foi restaurado. Nossos olhos ainda não podem ver este corpo porque ele foi elevado por um instante para junto do Pai, mas a força tremenda de sua vida, emanada deste corpo glorioso ainda “está no meio de nós” e assim será até “o final dos tempos”. Isto é tremendo. Jesus circula em nosso meio. Pessoas morrem todos os dias por esta verdade que eu tantas vezes deixo trancada nas gavetas da minha alma para chorar minhas misérias humanas!!! “Ele está no meio de nós”. Nos amigos que nos consolam e suportam quando mais precisamos deles. Nos fatos e acontecimentos que se entrelaçam e correm para o nosso bem. Nos beijos e abraços que recebo de carinho e inspiração de minha esposa. Do “vamos em frente”! Do “não desista”! Do “Você supera!”. “O Reino de Deus já está entre vós”, Ele disse certa vez. Porque Ele era e é a pedra fundamental deste Reino. É um projeto ousado do qual eu e você fazemos parte. A implantação do Reino de Deus na terra dos homens.
Tocar com minha mente esta realidade de que “Ele está no meio de nós” faz arder um sentimento de desejo por seguir seus passos. De amar como Ele amou, de sentir o que Ele sente, de querer o que Ele quer. Convido você a terminar este artigo, fazendo esta pequena oração logo abaixo. Enquanto a escrevo eu a faço, querendo em comunhão estar com todos que por ela forem atingidos.
Deus, minha vida para mim ainda é um grande mistério. Não sei para onde seus caminhos me levam. Não posso prever as tempestades que virão, os frutos que colherei, e aqueles que se perderão. Por vezes me sinto ao teu lado, por vezes, abandonado. Sinto e vejo que nada sei. Quero o que não conheço. Se hoje me for possível um favor, quero apenas ouvir a voz que por teus lábios me chega em silêncio. Que os tecidos mortos da minha esperança sejam reassumidos pela vida de tua poesia. Que teus versos me ensinem a plantar as sementes que teu Filho deixou. Que a sedutora melodia de teu Espírito se faça em mim canção, e o projeto do Reino de Deus na terra dos homens se faça verdade, a começar por meu próprio coração.