Foi no dia 11 de março de 1937, no Terceiro Distrito de São Luiz Gonzaga das Missões, interior do Rio Grande do Sul, que nascia o primeiro filho de Horácio e Margarida Gonçalves de Oliveira. Arolde foi o nome escolhido. O menino, que teve mais quatro irmãos, foi criado no campo, conheceu o trabalho na lavoura e na enxada. Mas, acima de todas as coisas, recebeu do pai a lição mais importante: o valor do estudo. P { margin: 0px; text-indent:30px; }
E foi para alcançar uma melhor formação escolar que, aos oito anos, Arolde mudou-se para a cidade, a 30 quilômetros de sua casa natal. Sofreu com a separação da mãe, mas ganhou em aprendizado. Naquele tempo, já era um empreendedor. Para obter seu próprio sustento, começou engraxando sapatos e ainda organizou uma minicooperativa para a venda de ovos pela vizinhança.
Arolde crescia e, com ele, a sua dedicação ao conhecimento e a convicção de que não seria expectador ou coadjuvante na vida, mas protagonista de grandes decisões. O ingresso na Escola Preparatória de Cadetes do Exército aos 16 anos foi uma delas, o que o levou a uma bem-sucedida carreira militar. Cursou a Academia Militar das Agulhas Negras na área de Engenharia e Comunicações e, no Instituto Militar de Engenharia, diplomou-se em Engenharia Eletrônica, além de cursar a Escola Superior de Guerra.
Aquele gaúcho, sempre instruído pelo pai a buscar o melhor do binômio trabalho e estudo, tornou-se Arolde de Oliveira, capacitado no que fazia e decidia e especializado em Telecomunicações. Durante seis anos, dedicou-se ainda mais à formação acadêmica e cursou Economia na antiga Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, fez mestrado em Matemática Moderna, pós-graduação em Mecânica Quântica e ainda formou-se em Engenharia Econômica.
Em 1967, pediu dispensa da carreira militar, pois já vislumbrava outros projetos, agora na área executiva, como profissional de telecomunicações. Já havia cumprido sua missão e conquistado importantes relacionamentos. Sendo assim, foi convidado a atuar na Embratel como diretor de desenvolvimento. Sua competência o levou a ser vice-presidente da Telerj, diretor do Departamento Nacional de Telecomunicações, governador da Organização Internacional de Telecomunicações por Satélite – Intelsat, e chefe do Escritório Permanente da Embratel em Washington D.C. (EUA).
Visionário a favor do Brasil, Arolde de Oliveira escolheu a carreira política como condutora dos alvos que possuía para fazer o país crescer, principalmente no setor de telecomunicações. Hoje em seu sétimo mandato como deputado federal (desde 1983), ele fala com orgulho de suas conquistas e de sua atuação na Assembléia Nacional Constituinte. Integra também o grupo de fundadores do Partido da Frente Liberal (PFL). Atualmente, atuando como secretário municipal de transportes do Rio de Janeiro, pensa grande e sinaliza suas metas.
O casamento com Yvelise de Oliveira já dura 46 anos, quase 50 – mais um projeto pessoal que deu certo. Sua parceria com aquela que hoje preside o Grupo MK de Comunicação é também reflexo do companheirismo que conjuga sentimento e visão de futuro.
A conversão ao Evangelho veio em 1981, o que mudou a vida do parlamentar, executivo importante, redefinindo hábitos, potencializando a fé em Jesus que faltava.
Esse homem, que é mais que um político, um empresário, um profissional de alto nível, um chefe de família, um seguidor de Deus, reconhece que fez bom uso de todas as boas oportunidades que a vida lhe deu. Conservou a simplicidade, a simpatia, os bons relacionamentos. Fez questão de manter a ética e competência, sem inimigos. E onde quer que atue, está sempre à frente de seu próprio tempo, que para ele continua cheio de possibilidades, como no dia em que seu pai o orientou: trabalhe e estude. Assim tem sido a vida do homem Arolde, filho de Seu Horácio e Dona Margarida.
Como foi sua infância no Rio Grande do Sul?
Minha infância foi no campo. Naquele tempo, em meados do século passado, as pessoas iam buscar o sustento na agricultura e na pecuária, mas sem tecnologia para intensificar a produção. Fui uma criança criada livremente, tinha uma vida de artesanato, até na fabricação de brinquedos, de doces. Tudo vinha do que a terra dava, do que a gente plantava. Enfim, era uma vida caseira e natural. Fui um menino pobre. Meus avós tinham terras, mas não tinham recursos. Porém, nunca passei fome. Fui feliz e ainda tive um pai determinado a ver seus filhos estudando para que saíssem daquela situação. Eu aprendi a ler à luz de velas fabricadas em casa. E meu pai sempre nos incentivou a estudar e trabalhar.
Depois de mudar para a cidade a fim de estudar, como se adaptou?
Eu me dei muito bem na cidade. Fazia meu curso e trabalhava. Fui engraxate, vendedor de legumes. Montei uma oficina e virava a noite engraxando sapatos de caixeiros viajantes. Eu era o menino pobre mais rico da cidade. Tinha sempre um dinheiro para ir ao cinema, para tomar sorvete, comprar revista em quadrinhos. Depois, montei um negócio no campo – eu tinha uns 11 anos – junto com alguns companheiros, filhos dos peões da roça. Coletava ovos e vendia por encomenda na cidade, indo apenas entregar e faturar. Eu sempre dava meu jeito de sobreviver.
O senhor pode dizer que tinha uma visão comercial?
Não diria isso. Eu trabalhava dura e pesadamente. Trabalho e estudo eram duas alternativas que poderiam melhorar a minha vida. E eu buscava isso. Depois fui para Porto Alegre, estudei no Colégio Sallesianos e fiz vestibular para a Escola Preparatória de Cadetes do Exército, onde tive muitas dificuldades no início. Mas um major, professor de química, percebeu que eu acabaria sendo desligado e investiu em mim. Durante 15 dias, ele me ensinou a interpretar textos, organizar a mente para apresentar soluções, usar uma nova metodologia. E eu acabei aprendendo mais ainda com aquele professor, que foi um anjo em minha vida. A partir daí, nunca mais deixei de ser primeiro e segundo aluno em todos os cursos.
E por que escolheu a carreira militar?
Naquele tempo, os jovens tinham duas opções. Ou ingressavam na escola militar ou faziam concurso para o Banco do Brasil. Eu precisava ajudar meu pai com relação às despesas, já que tinha os outros irmãos que estavam crescendo e vindo também para a cidade. Estudar sem custo era importante para nossa família. Mas eu também sempre fui muito disciplinado, sempre gostei da vida com hierarquia. Logo, a vida militar foi muito bem-vinda.
Como foi a sua trajetória nessa área?
Depois da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, fui para a Academia Militar das Agulhas Negras e cursei Engenharia. Saí oficial, passei um período em Itajubá, no sul de Minas Gerais, já casado, e voltei para o Rio de Janeiro como tenente. Por volta de 1964, passei os seis anos seguintes focado exclusivamente na minha formação acadêmica. Fiz Engenharia Eletrônica no Instituto Militar de Engenharia, mestrado em Matemática, pós-graduação em Mecânica Quântica, Engenharia Econômica e Ciências Econômicas. Tive uma carreira militar bastante intensa. Fiz ótimos relacionamentos, tinha suporte de meus superiores e, ainda com menos de 30 anos, acabei percebendo que estava assumindo competências até acima de minha patente. Foi quando um coronel amigo fez uma avaliação comigo e vimos que o melhor caminho era pedir dispensa do Exército para cumprir livremente, sem hierarquias, as habilidades que eu tinha condições de assumir, principalmente em telecomunicações. Fui, então, convidado para trabalhar na Embratel.
Assim começou sua nova fase como executivo?
Sim. Na Embratel, comecei minha carreira profissional em telecomunicações. Com o co
nhecimento que possuía, tive a oportunidade de rapidamente assumir funções de chefia em empresas grandes, como Telerj e Intelsat. Como diretor da Embratel na área de engenharia, por exemplo, eu decidia aonde, o que, como e que tecnologia adotar. Fiz mais cursos profissionalizantes no Japão, Estados Unidos e Europa.
Mas, a partir dos anos 80, concluí que nosso modelo para o setor de telecomunicações já estava esgotado, ultrapassado. Antes disso, o sistema implementado pelo governo militar era considerado um dos mais modernos do mundo. Estávamos na frente da França e de vários outros países. Como o Fundo Nacional de Telecomunicações foi extinto praticamente no último governo militar, com o presidente Figueiredo, o setor perdeu seu desenvolvimento. Portanto, para mim, já era hora de acontecer uma privatização. Foi quando fiz outra grande decisão em minha vida: sair da área de telecomunicações e migrar para a política, onde eu poderia ajudar o país a melhorar aquela situação.
Começa, então, sua terceira carreira, agora como político?
Exatamente. Quando concorri a deputado federal em 1982, o foco era privatizar os setores de telecomunicações. Quando eu trabalhava nos Estados Unidos, tinha muito contato com brasilianistas, pessoas que fazem estudos sobre o Brasil, e eu também os ajudava com informações. Eles concluíram que o Brasil, no início dos anos 80, iria iniciar um processo de abertura política. Assim, decidi me candidatar e ajudar também nesse novo processo. Em 1983, assumi meu primeiro mandato.
Como foi sua atuação na Assembléia Nacional Constituinte, em 1988?
Na Constituinte, trabalhei como presidente de uma das subcomissões mais importantes, que foi a de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática e Minorias. Além de todos os estudos que fizemos naquele momento político, foi preciso definir conceitos e preceitos nessas áreas. Lamentavelmente, o movimento de esquerda prevaleceu e fomos derrotados no aspecto privatização.
Que ações foram feitas até que acontecesse a mudança no setor de telecomunicações?
Depois de 1988, houve uma previsão de que uma revisão constitucional fosse feita em 1993. Mas tivemos vários episódios desfavoráveis, como o impeachment do presidente Collor, e a revisão não aconteceu. Mais tarde, com o sucesso do plano econômico de Fernando Henrique, quando introduziu o Plano Real, ele acabou se tornando presidente da República, e reuniu alguns partidos a fim de fazer o projeto chamado “Mãos à Obra”, um programa que possibilitaria fazer todas as modificações na Constituição que não tinham sido feitas.
Então, em 1994, iniciamos a quebra de monopólios de telecomunicações e de energia elétrica e demos abertura para a privatização. Nessa área, tive um desempenho bastante participativo. Fico feliz quando vejo hoje que o Brasil tem cem milhões de telefones celulares; é um dos países com maior desenvolvimento em telefonia celular. Isso significa popularização do acesso à informação, o que por meio das empresas públicas jamais aconteceria.
O senhor sempre esteve à frente de seu tempo, antevendo desafios e até soluções. Qual de suas facetas – como político, empresário e cristão – acha que mais contribuiu?
Acho que minha grande contribuição foi como profissional no setor de telecomunicações, onde pude levar facilidade a lugares onde não existia nada, como foi o caso da Amazônia. Fiquei lá por quatro anos, com toda a família, de onde gerenciava a Amazônia inteira, implantando sistemas de difusão, levando telecomunicação para as vinte principais cidades. Cinco anos depois, tive o privilégio de levar as estações de satélites para as mesmas cidades. Eu era especializado na área de comunicação com satélites e, até por essa razão, fui depois para a Intelsat. Creio que de 1967 a 1979 foi o período de minha vida em que mais contribuí nessa área.
No mesmo nível, eu menciono minha participação na luta pela privatização do setor de telecomunicações. Acho que isso foi um grande benefício para nosso país. Antes, uma pessoa pagava até 5 mil dólares para ter um telefone, que era uma espécie de patrimônio. Hoje, uma família tem vários telefones fixos e móveis. Contribuir com esse avanço já valeu a minha vida. Em tudo o que fiz, sempre tive uma grande preocupação: retornar à nação, ao país, tudo o que recebi do próprio país, porque toda a minha educação foi praticamente custeada pelos cofres públicos. Fui bancado nos estudos pelo governo e pelo imposto dos brasileiros. Então, sempre desejei dar retorno disso.
Acredita que a reforma da Segurança Pública vai acontecer em breve e de forma eficaz, assim como uma reforma política?
Creio que temos que fazer uma reforma em nossos códigos processuais, principalmente no código criminal. Temos leis muito benevolentes, que dão muitas vantagens para quem comete o crime. A reforma política é importantíssima porque, na medida em que você a concretiza, melhora o nível de representatividade, fortalece o poder legislativo, que passa a ter mais condições de fazer boas leis e coibir o crime. Por meio de uma pesquisa feita pela Prefeitura do Rio, sabemos que em 95% dos países do mundo, a imputabilidade criminal começa aos oito anos de idade, outros aos 10 e outros aos 14 anos. Somente aqui no Brasil temos essa mentalidade de que somente após os 18 anos uma pessoa se torna responsável por seus delitos.
É óbvio que precisamos de uma revisão geral em vários códigos, mas não estou bem certo de que o governo Lula tenha essa vontade política, pois foi justamente o partido do presidente Lula que lá na Constituinte prejudicou tremendamente a classificação de certos crimes. Seqüestro, por exemplo, não foi classificado como crime hediondo. Hoje, acho que nós, como oposição, temos que fazer o maior esforço possível para mudar essa legislação e torná-la mais atual e rígida.
O que pensa sobre a justiça ecológica? Vê soluções para as perspectivas trágicas do aquecimento global?
É notório que estamos vivendo uma fase de desequilíbrio climático, pluviométrico. Já tivemos no passado a identificação da destruição da camada de ozônio e sentimos hoje as conseqüências. Mas essas seqüelas acontecem lentamente ao longo de um processo, de um período. As pessoas têm a tendência de não se preocupar porque os efeitos podem chegar quando já terão morrido. Como a maioria não pensa a longo prazo, os problemas se agravam. Ainda mais quando existe também a pressão econômica que faz o homem explorar a natureza até de uma forma anárquica. É preciso que haja um entendimento internacional, um fortalecimento de justiça ecológica e até a criação de um órgão que venha julgar crimes ecológicos. Por enquanto, as leis são ainda muito imaturas. No entanto, com tudo o que está acontecendo, os principais crimes ecológicos vão ser identificados e regulamentados dentro de cada país, com certeza.
Como atual secretário de Transportes do município do Rio de Janeiro, que soluções acha viáveis para a racionalização e melhoria dos serviços de transporte urbano, logística de trânsito e tecnologias?
No transporte urbano, temos que dar um foco moderno. Oferecer um transporte que seja barato, tenha conforto, rapidez de deslocamento e segurança, são fatores básicos para os passageiros. Acredito que estamos vivendo hoje uma transição entre os serviços de transportes de massa, como o metrô, o trem urbano, passando para um novo tipo de transporte chamado BRT (Bus Rapid Transit), o metrô sobre rodas. Ao invés de ser um metrô via trilho, em que é preciso fazer buraco e que custa dez vezes mais para implantar, será um metrô de superfície, que usa uma faixa seleti
va. Centenas de cidades no mundo já usam esse sistema.
Estamos trabalhando com dois projetos muito interessantes. Um é de integração das estações do metrô com o sistema normal de ônibus. Agora vamos integrar e substituir pelo sistema BRT. Outro projeto é uma ligação do bairro da Penha para os de Madureira, Jacarepaguá e Barra da Tijuca, que já está pronto; vamos fazer a licitação este mês, também via BRT. Na área de trânsito, estamos utilizando tecnologia de informação com sistemas digitais, sistemas inteligentes, com uma programação de controle por câmeras em toda a cidade. O sistema que já existe será intensificado com maior controle semafórico e estabelecimento de registro de infrações. Estamos aprimorando tudo no sentido de reduzir acidentes.
O senhor está no seu sétimo mandato como deputado federal e sempre demonstrou seriedade e transparência no propósito de defender valores como a família, a ética na política e a moral pública. O que mais marca a sua legislatura?
Minha legislatura sempre foi muito marcada na área de atuação do meu conhecimento profissional, que é na área da tecnologia. Como sou economista, também ajudo na área de ciências econômicas, na comissão de economia e tributação. Sempre trabalhei dentro das comissões, na preparação dos textos legais, como relator, dando sugestões. É muito bom trabalhar nas comissões, onde você tem uma interação maior com todos os partidos, com os representantes. Quando a lei sai dali, ela vai direto para o plenário. Nunca dei prioridade à tribuna, ao microfone, ao blá-blá-blá, porque aquilo não constrói. Discurso de parlamentar não muda voto e nem o comportamento de ninguém. É a ação dele nas comissões que influencia, nas discussões internas partidárias. Ou seja, minha participação sempre foi muito operacional dentro das comissões técnicas, e não no plenário.
Olhando para a sua caminhada, viu os evangélicos melhorarem sua visão da política, ou ainda permanece o clientelismo na relação?
Houve uma grande evolução no comportamento do evangélico como eleitor nesses últimos 24 anos. Quando comecei como deputado federal, não se falava de política nas igrejas. Aliás, os pastores nem tocavam nesse assunto. Havia um grande bloqueio por parte das lideranças e nem existia uma participação muito grande de candidatos evangélicos no Parlamento. Nos meus primeiros mandatos, tinham apenas dois ou três evangélicos na Câmara, como o Daso Coimbra e Fausto Rocha.
Com o passar do tempo, a liderança evangélica foi se afastando do comportamento mais conservador, que não aceitava essa intromissão da política na igreja. Depois, foram surgindo líderes que haviam passado por escolas de formação intelectual e tinham um conhecimento de coisas importantes, o que foi afrouxando esse conservadorismo da igreja em relação à política. Hoje, chegamos ao ponto de denominações se transformarem em verdadeiros partidos políticos, onde candidatos são indicados e bancadas evangélicas são criadas.
Ora, na realidade, a religião não pode ser distintivo de uma bancada. Bancada é algo que se aplica a um partido político. Bancadas são compostas por políticos que possuem uma filosofia, têm programas políticos que estão filiados àqueles partidos. Não se pode chamar uma bancada de evangélica porque igreja não é partido político. E quando um parlamentar que é evangélico comete um ato ilícito, todos os evangélicos são enxovalhados. Durante esses anos, vi irmãos em Cristo, com suas convicções declaradas, naufragarem em lamaçais que nenhum crente ou político poderia colocar o pé. Isso porque houve uma politização irracional da igreja, que vejo associada ao mercantilismo religioso. E quando se pratica esse mercantilismo, está pressuposto compra e venda de coisas materiais, ou de bênçãos, ou de prestígio. Então, ocorreu uma politização torta no imenso segmento que é nossa igreja.
O senhor tem um casamento que já dura 46 anos. Fale sobre sua relação com Yvelise de Oliveira e que fatores foram essenciais para que vocês continuassem juntos até hoje.
Posso afirmar que o mais fundamental foi uma forte consciência de família, de unidade familiar, tanto da parte da Yvelise como da minha parte. Mas isso não bastaria se nós não nos amássemos e, principalmente, se não fôssemos tão diferentes como somos. Sendo assim, não temos um dia igual ao outro e as coisas também não ficam monótonas. Eu costumo dizer que as pessoas muito iguais não se complementam. Há coisas que eu tenho que fazer e há coisas que só ela pode fazer. Sempre foi assim. Mesmo na MK, ela tem as funções que só ela sabe e pode fazer, e eu tenho as minhas.
Embora, muitas vezes, aconteçam circunstâncias que desunem, como estar fora em Brasília por tantos dias na semana, há sempre a busca do entendimento. E eu dou a Yvelise 2/3 da responsabilidade pela nossa permanência como casados. Eu agradeço a Deus pela vida e amor dela, pois sei que não é fácil viver junto por tanto tempo. Mas estamos aqui, e que venham mais anos juntos.
Como cristão, o que mais o restaura e fortifica para seguir firme e correto em todas as suas atribuições?
Tenho alguns princípios que me foram passados por meus pais dentro da sua formação moral e que depois foram fortalecidos pelas minhas convicções religiosas. Quando me converti, eu já tinha 40 anos, tinha vivido muito, mas foi quando encontrei um certo equilíbrio, uma paz que me faltava, uma segurança maior e um fortalecimento de todos os meus princípios. Eu comecei bem lá de baixo, com a mão na enxada. Mas depois de uma certa fase na vida, tive o privilégio de ter uma vida mais abastada, mais confortável. Quando se tem uma boa formação moral, as oportunidades de errar, as tentações, são enfraquecidas, pois você já não é tão vulnerável. Creio que tudo isso fez diferença na minha vida em todas as áreas.
E como foi sua conversão?
Foi quando estava cursando a Escola Superior de Guerra, em 1981. Conheci dois pastores batistas que me influenciaram: Nilson Fanini e Irland Azevedo. Yvelise e minha sogra já estavam freqüentando a Igreja Nova Vida, em Botafogo. Às vezes, eu ia lá e achava uma coisa importante para mim. Fiquei muito amigo do Irland, um homem culto, com quem conversava sobre tudo, sobre valores e necessidades humanas etc. Eu sempre tive muito respeito por pastor, achava que eram quase santos, e então me distanciava. Também fiquei muito amigo de Fanini, um excelente orador, homem convicto, e passei a freqüentar sua igreja, na época, a Primeira Igreja Batista de Niterói. Minha conversão não aconteceu como um choque. Ela seguiu um canal consciente e chegou forte, me transformando.
Yvelise queria se batizar, eu não. Estava com um projeto político e não queria que as pessoas pudessem, por qualquer motivo, imaginar que eu estava tirando alguma vantagem. Eu tinha essa preocupação. Meu batismo foi no final de 1982 e o interessante foi que eu mudei muito. Eu fumava, bebia, gostava muito de whisky. Parei tudo sem sentir a menor necessidade. Passei a participar mais da igreja, ajudei em alguns setores. Yvelise trabalhou no Reencontro e fomos focando nossa vida no que poderia ajudar no Reino de Deus. Hoje, estamos em uma igreja no Recreio e Deus está conosco.
Neste mês, o senhor comemora mais um ano de vida. O que gostaria de compartilhar de mais alegre e de mais triste nesses anos de participação política, empresarial, cristã e familiar?
Faço 70 anos. Sempre reavalio minha vida e me pergunto quais foram os meus grandes fracassos etc. Mas eu não vejo fracasso na minha vida. Tive momentos em que não compreendi certos acontecimentos, mas a explicação aconteceu mais tarde. Posso dizer que até as coisas que foram desagradáveis para mim
tiveram uma explicação em seguida ou foram uma preparação para um fato, seja espiritual, seja material, seja intelectual, seja o que for. Um fato que realmente me deixou inquieto e que a gente nunca esquece foi que perdi um filho. Essa foi a coisa mais incompreensível pela qual passei. É uma dor que fica e marca porque é a dor da saudade. Minha maior tristeza. Mas me considero uma pessoa vencedora.
Tive uma vida muito intensa, sem rupturas maiores. Obviamente, vou continuar convivendo com incompreensões de terceiros, com invejas, com uma série de coisas da vida. É fato que sempre tivemos a possibilidade, enquanto família, enquanto empresário, enquanto político, de ajudar terceiros, porque não basta ter certas qualidades, como inteligência, saúde etc. Sempre existe algo que pode impedir que você prossiga e, às vezes, para suplantar essa dificuldade, aparece um anjo que Deus coloca na sua vida, de alguma forma, e te ajuda. É a palavra de um amigo, ou mesmo de um desconhecido. Considero que são milagres que Deus faz na vida da gente. E eu sou grato a Deus por tudo o que vivi e ajudei. Fui altamente abençoado.
Entrevista por Enfoque