Pra quem pensa que sabe e pra quem acha que não sabe nada.
Quem pensa que sabe é pior que o que ignora qualquer forma de saber. Então, quando não sabemos é bom que saibamos que sempre alguém sabe. O exemplo de Lucas é interessantíssimo, quando não sabia perguntou a quem testemunhou os fatos de forma visivel (Lucas 1.1-4). Então, ele não inventa nada, reproduz o que ouviu, se torna meio do saber do outro e agora nós sabemos o que ele não sabia e passou a saber por meio do que escreveu. E screveu o mais detalhado registro biográfico do Mestre. Detalhes do nascimento e da morte de Jesus que não estão em nenhum outro evangelho estão no relato de Lucas. Detalhes que foram frutos do não saber lucano. Se ele soubesse, ou conjecturasse, não teria perguntado nada a ninguém, como não sabia perguntou, porque perguntou soube, porque soube escreveu, porque escreveu nós lemos, porque lemos agora sabemos. E tudo começou por não saber.
Conclusão. O não saber nos ajuda a saber e o saber pode nos impedir de sabermos mais.
E sobre a vida? E sobre Deus? Nada sabemos de fato, ainda mais se pensarmos na profundidade de todo saber da vida e, mais ainda, sobre Deus. Nenhuma teologia deixa de ser apenas o saber humano, ainda que se revista de uma aura de revelação divina. Mas, quando surge na teologia do Novo Testamento Paulo falando sobre o nosso saber sobre Deus, limitando todo nosso conhecimento religioso, todo pensamento teologico de séculos e séculos (só de cristianismo são 20), toda experiencia espiritual, todos os dons e toda revelação em: “vemos por um espelho”, o que nos resta? Nos resta é a alegria do não saber. Reflexo é tudo que vemos. Ele é mais do que sabemos, muito mais. Nessa limitação ótica profunda caminhamos. E tudo escuresse ainda mais se esquecermos de quem é a Luz do Mundo.
Se estivermos certos que nossa verdade é a mais pura verdade podemos estar cegos diante da grandeza do não saber. A verdade que sendo conhecida liberta, liberta de tudo que sabemos, ou pensamos que sabemos, nos dando novos paradgmas edificados sobre a luz que iluminda os olhos da alma e faz o coração ver o invisivel. A luz do evangelho. Esse é o contexto do “conhecereis a verdade e ela vos libertará” Jesus falava para religiosos judeus que sabiam demais, segundo seus próprios pensamentos. A verdade os libertaria do seu saber. A verdade nos liberta de nossos saberes.
Na prática o que podemos ver é que não há espaço para arrogancia no coração de quem sabe que não sabe, não há orgulho pra quem sabe que o saber não é total em ninguém e que o Doutor (volto ao exemplo de Lucas) também aprende com a Dona Maria (a esposa de Seu José, a Dona Maria, foi a principal fonte de informações do escritor do terceiro evangelho). E quantos doutores não aprendem com Marias todos os dias? Nossas vovós e vovôs, fontes inestinguíveis do saber da vida, nos fazem concluir que nada sabemos de fato. Então, ao mesmo tempo que nada sabemos, sabemos algo que outros não sabem. A dinâmica da vida permite isso. Nada se repete, ainda que seja parecido. A gente aprende algo e pode consolar o outro com o que já fomos consolados. Ai o coração ansioso se acalma, já que sabe que não sabe e que tem como encontrar quem saiba. Nisso todos se completam, nisso podemos servir uns aos outros em amor e nos considerando mutuamente superiores. Todos nós, juntos ou separados, jamais teremos todas as respostas.
“SENHOR, o meu coração não se elevou nem os meus olhos se levantaram; não me exercito em grandes matérias, nem em coisas muito elevadas para mim.
Certamente que me tenho portado e sossegado como uma criança desmamada de sua mãe; a minha alma está como uma criança desmamada.
Espere Israel no SENHOR, desde agora e para sempre”
Canção do Peregrino,de Davi, Salmo 131
Que nossa alma peregrina se acalme, que o não saber nos leve a dependência do Pai que tudo sabe e que olhemos o saber e o não-saber do próximo com olhos cheios da Graça.
No amor de Jesus, o Lógos
Pr. Fabio Teixeira
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