Existem algumas igrejas locais que repudiam o sistema clerical,
recusando-se a ter o que se poderia chamar de ministério de um só homem. E ainda assim se você tiver que perguntar a vários cristãos destas igrejas por uma defesa escritural sobre sua posição, dificilmente dariam uma resposta. Por que é errado o ministério de um só homem na assembléia local?
A primeira razão é porque isso não é encontrado no Novo Testamento.
As assembléias nos tempos apostólicos consistiam de santos, bispos e diáconos (Fp 1:1). Os bispos, ou anciãos, são sempre citados no plural. Não há um ancião sobre toda a igreja, mas vários anciãos em cada igreja. Os historiadores da Bíblia concordam que o sistema clerical surgiu no segundo século; ele não era encontrado nas igrejas do Novo Testamento.
A segunda razão, é que o sistema clerical geralmente ignora o propósito pelo qual os dons de evangelista, pastor e mestre foram dados à igreja. A função destes dons é para o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo (Ef 4:12). Em outras palavras, o serviço cristão não é uma função de nenhuma classe, mas a responsabilidade de todos os crentes. É somente quando cada um cumpre sua função que o corpo de Cristo se desenvolverá e amadurecerá. A função dos dons listados em Efésios 4:11 é para aperfeiçoar os santos ao ponto em que sejam maduros, membros funcionais do corpo. Por essa razão, estes dons particulares são ajudas temporárias, não pessoas permanentes.
Quando um homem é responsável por todo ensinamento e pregação em uma igreja local, há sempre o perigo das pessoas se juntarem a ele, não ao Senhor. Se um homem é especialmente dotado, as pessoas são atraídas para a sua pregação. Eles comparecem porque ele está lá. Se ele se retira por alguma razão, então eles estão prontos para segui-lo, ou se isso não for possível, eles freqüentemente se ajuntam em outra parte, buscando por outro homem dotado.
Cristo deve ser o Centro do ajuntamento do Seu povo (Mt 18:20). Nós devemos ser atraídos pela Sua presença, não pela de um homem. Quando os crentes vêem isso e agem assim, a assembléia local não necessita ser balada pela partida de algum homem. Uma assembléia onde os cristãos se juntam a Cristo tem força, estabilidade e unidade.
E, naturalmente, existem perigos potenciais quando todo ou a maioria do ensinamento em uma igreja local é dado por um homem. As pessoas tendem a aceitar sua palavra como oficial. Se eles não estão estudando as Escrituras por si mesmos, não estão em uma boa posição para discernir erros. Além do que, nenhum homem está apto para prover a diversidade do ministério que é possível quando o Espírito Santo tem liberdade para falar através de muitos homens. Devemos estar interessados não somente no ministério exato, mas também no ministério que provê uma dieta balanceada para o povo de Deus.
A prescrição escritural é: “Falem dois ou três profetas e os outros julguem” (1Co 14:29). O ministério de um só homem muito freqüentemente reprime o desenvolvimento do dom em uma igreja local. Não há a mesma oportunidade para outros participarem. Alguns ministros insistem em confinar a maioria dos trabalhos a si mesmo; levam a mal quem quer que seja que se intrometa em sua ocupação.
Mas mesmo quando este não é o caso mesmo onde os ministros gostariam de ver outros participando – a verdadeira natureza do sistema clerical desencoraja o assim chamado leigo de desenvolver seus dons dados por Deus. Quando um homem é assalariado pela congregação local como pregador, há freqüentemente a tentação sutil de se enfraquecer a mensagem. Isso pode não ser assim, mas o fato é que por controlar o salário do ministro, a congregação muitas vezes o impede de receber o pleno conselho de Deus.
Ora, reconhecemos que existem muitos grandes homens de Deus no sistema clerical que pregam o evangelho fielmente, ensinam a Palavra, e buscam apascentar o rebanho de Cristo. E Deus os está usando. Também reconhecemos que existem muitos “ministros individuais” que não têm o espírito clerical. Eles têm um desejo sincero de ajudar os santos de todas as forma possíveis, guiar pelo exemplo, e não dominar sobre a herança de Deus.
E nós também reconhecemos que é possível para alguém que não é um clérigo ter o espírito clerical. Na terceira carta de João 9-11, por exemplo, lemos sobre Diótrefes que agiu como um tirano na assembléia local. Mas resta o fato de que o sistema clerical é basicamente errado e não escritural. O mundo nunca será evangelizado da forma que Deus deseja, e a igreja nunca se aperfeiçoará de acordo com o plano divino enquanto a distinção entre clero e leigo for mantida.
Texto extraído do livro
Ao que Devemos ser Leais, de W. Macdonald
também disponível em http://ideiaerevelacao.wordpress.com