Algumas canções de adoração têm muito conteúdo bíblico, mas suas letras parecem não alcançar nossas emoções, musicalmente ou melodicamente. Por outro lado, outras canções podem movê-lo, poderosamente, em termos de disposição e atmosfera ainda que haja a carência de verdade objetiva. Talvez, elas sejam mais subjetivas e algumas vezes centradas no “eu”. Lidar com essas características na música é um grande desafio para os compositores, músicos e artistas comprometidos com Deus e apaixonados pelo que fazem.
Esse dilema nos remete ao que disse John Piper: “Verdade sem emoção produz ortodoxia morta e uma igreja cheia (ou quase-cheia) de admiradores artificiais (como pessoas que escrevem mensagens genéricas de aniversário para ganhar a vida). Por outro lado, emoção sem verdade produz frenesi vazio e cultiva pessoas superficiais que recusam a disciplina de pensamentos rigorosos, mas a verdadeira adoração vem de pessoas que são profundamente sensíveis e que amam uma doutrina profunda e completa. O amor intenso a Deus enraizado na verdade é a essência da adoração bíblica”.
É nesse ponto que está o problema e é bastante provável que tenha dois aspectos distintos.
1 – A necessidade. É muito importante que a adoração tenha, de fato, plenitude da verdade das Escrituras, que nós concordemos com Deus e O proclamemos fielmente, pois Ele também celebra as maravilhas das doutrinas bíblicas. Não há dúvidas desse princípio entre os líderes de louvor. Contudo, cria-se uma enorme necessidade, isto é, a necessidade por tais canções e em grande quantidade para que não continuemos a repetir aquelas mesmas canções favoritas, porém antigas. Portanto, se não formos cuidadosos como compositores, nós podemos nos encontrar “guiados pela necessidade” e tentando escrever músicas para contemplar certas doutrinas, questões ou temas sem necessariamente ter tido tempo para ir àquele lugar em Deus onde nós entendemos a verdade e deixamos que ela impacte nossas emoções.
Tal como foi dito a Ezequiel para comer o rolo de papel, tenha a verdade em seu interior, que ela se torne parte de ti, de modo que você seja afetado ou movido por ela. Caso fizéssemos isso verdadeiramente, ao invés de tratarmos a composição como um exercício intelectual ou acadêmico, apenas tentando encaixar as verdades nas linhas melódicas, descobriríamos uma “nova canção” explodindo em nosso ser com uma característica particular de paixão e de convicção. Mas a necessidade é “impaciente” e, por isso, procuramos pegar atalhos. Como resultado, acho algumas canções muito cerebrais em vez de inatas ou intuitivas.
2 – O artista. O artista/compositor/músico/pessoa criativa está de certo modo ligada [a essa questão]. Isso pode ser nossa força ou nossa fraqueza. Somos muito suscetíveis aos sentimentos e emoções e, se não formos disciplinados, seremos guiados por eles. Nem sempre isso será algo mau, mas sim que, às vezes, por essa razão poderemos ser conduzidos a um quadro de desequilíbrio.
Há um tempo e um lugar definidos na nossa adoração para o tipo de música que diz “Eu preciso mais de Ti, Deus”, o que poderia soar como música centrada no “eu”, mas Davi compôs “Como a corça suspira pelos ribeiros de águas, minha alma anseia por Ti”. Jacó não deixaria Deus ir enquanto não o abençoasse e Jabez clamou “Que Tu me abençoes”. Porém, há períodos em que a nossa motivação real do clamor de nosso coração por “mais de Deus” era por causa de não termos separado um tempo para Ele ou para investir em Sua palavra. Então se pegamos nosso instrumento, pensamos que esse tipo de coisa pode vir. E isso virá de nosso meu interior, com sentimentos e paixão também. Logo se alguém nos sondar, é certo que essa pessoa seria tocada.
Em outras palavras, precisamos deixar que a palavra de Cristo habite ricamente em nós. Dessa maneira, quando estivermos tocando uma música, improvisando ou experimentando, não desejaremos nos direcionar somente pelas idéias musicais que movem nossas emoções, teremos também um tesouro verdadeiramente rico para preencher seu conteúdo. Não apenas isso, mas também, talvez antes mesmo de nos movermos pela nova seqüência de acordes, nós seremos movidos por nosso reconhecimento e entendimento sadio desses grandes temas por termos dedicado tempo meditando e “digerindo-os” em nosso interior.
Artigo extraído do site www.adorando.com.br