II Crônicas 33.1-13
Toda a história de Manassés aponta para a misericórdia de Deus. Até mesmo o nascimento de Manassés aconteceu em meio a um milagre. Em Isaías 38.1-5 nós lemos que o seu pai, Ezequias, havia adoecido de uma enfermidade mortal; contudo, ele orou ao Senhor e Deus lhe concedeu mais 15 anos de vida. E foi exatamente durante esses 15 derradeiros anos de Ezequias que Manassés nasceu. O seu nome muito provavelmente foi dado para fazer menção a esse período da vida de Ezequias. Manassés significa ‘fazendo esquecer-se’. E, certamente, Ezequias, com o nascimento de Manasses, olhou para trás e reconheceu que Deus estava fazendo-o esquecer dos seus períodos de dificuldade, vindos por causa da enfermidade.
Manassés viveu em companhia do seu pai durante doze anos. Durante todo esse período, certamente ele ouviu as muitas histórias que narravam a intervenção de Deus em favor do seu povo. Ele sabia que o seu nascimento só havia sido possível por causa da uma intervenção de Deus, e também que o exército assírio só não havia conseguido conquistar Jerusalém porque Deus impediu que isso acontecesse. Ele conhecia a vida piedosa do seu pai e também todas as bênçãos que o povo de Israel recebia de Deus por causa da fidelidade de Ezequias.
Contudo, Ezequias morreu quando Manassés tinha apenas doze anos de idade, e foi quando ele começou a reinar em Jerusalém. O texto nos diz que Manassés, durante o seu reinado, fez o que era mau perante o Senhor, agindo de maneira oposta a tudo aquilo que o seu pai havia feito. Ezequias havia derrubado os altos de idolatria, e Manassés tornou a edificá-los; tinha destruído os altares aos baalins e os postes-ídolos, e Manassés tornou a levantá-los; havia purificado o Templo de Jerusalém, tirando toda a imundícia, mas Manassés trouxe para o Templo de Jerusalém toda a imundícia. Assim fez Manassés durante praticamente todo o seu período de reinado, andando na contra-mão de seu pai: ele disse ‘não’ a tudo aquilo para que o seu pai havia dito sim, inclusive para Deus.
Apesar de Deus chamá-lo de volta diversas vezes, Manassés não quis dar ouvidos, se endureceu e ficou convenientemente ‘surdo’ à voz de Deus. Então, Deus decidiu falar mais alto. Manassés não queria dar-lhe ouvidos enquanto Deus falava através dos profetas; por isso, Ele decidiu falar através do exército assírio. Os assírios invadiram Jerusalém, prenderam Manassés com ganchos, amarraram-no com cadeias e o levaram à Babilônia. Ali, preso em Babilônia, Manassés se lembrou de Deus, reconheceu o seu erro, se humilhou e orou. E Deus lhe ouviu a oração, fazendo-o voltar para Jerusalém e para o seu reino.
O primeiro aspecto importante dessa história é que Manassés tinha conhecimento de Deus. Em algum momento da sua vida, antes de ter-se desviado, Manassés teve um encontro com Deus. Em II Crônicas 33.12 nós lemos: “Ele, angustiado, suplicou deveras ao Senhor, seu Deus, e muito se humilhou perante o Deus de seus pais.” Esse texto não nos diz que alguém pregou para Manassés enquanto ele estava preso, nem que ele teve o seu primeiro encontro com Deus na prisão. Isso nos faz deduzir que, principalmente baseados na frase “suplicou deveras ao Senhor, seu Deus”, em algum instante da sua vida Manassés recebeu conhecimento de Deus. Assim, por algum motivo, Manassés havia se afastado dos caminhos do Senhor. Essa verdade da Escritura é maravilhosa. Ela nos faz saber que é absolutamente possível que aqueles que um dia tiveram um encontro verdadeiro com Deus, ainda que se desviem, voltem para o Pai. As marcas divinas em seus corações queimam até que eles não possam suportar o fogo, e assim elas retornam para Deus. Essas marcas que Deus coloca no coração das pessoas no instante em que elas se convertem não podem ser apagadas.
Em II Crônicas 33.2 nós lemos: “Fez o que era mau perante o Senhor, segundo as abominações dos gentios que o Senhor expulsara de suas possessões diante dos filhos de Israel.” Quando Manassés se desviou, ele não se desviou “mais ou menos”, vivendo ora no Templo e ora na perversidade. Diz o texto que ele se voltou completamente contra Deus. A idéia é de uma franca e deliberada oposição a Deus e a tudo o que agrada a Ele. Manassés errou conhecendo os caminhos de Deus e sabendo o que era o certo. De acordo com II Crônicas 33.6, Manassés “(…) queimou os seus filhos como oferta no vale do filho de Hinom, adivinhava pelas nuvens, era agoureiro, praticava feitiçarias, tratava com necromantes e feiticeiros e prosseguiu em fazer o que era mau perante o Senhor, para o provocar à ira.” Manassés queria provocar a Deus, como uma criança que toma determinadas atitudes simplesmente para deixar o pai irado.
Contudo, apesar de toda essa rebelião contra Deus, Deus não se rebelou contra Manassés. O filho desobediente e rebelde não deixa de ser filho, e Manassés não deixou de ser filho amado de Deus. Deus não calou a sua boca para com Manassés: “Falou o Senhor a Manassés e ao seu povo (…).” (II Crônicas 33.10) Deus jamais deixa de chamar o seu filho rebelde e convidá-lo para voltar para casa. Mas, como ele permaneceu com o seu coração endurecido, Deus precisou gritar e dar uma ‘sacudida’ nele. Manassés não quis voltar a Deus enquanto as pessoas falavam com ele; por isso, Deus criou uma situação de dor para que Manassés abrisse os seus ouvidos e se corrigisse do seu erro. O amor de Deus para com Manassés levou-O a tomar atitudes drásticas para trazer o filho rebelde de volta para casa. A prisão de Manassés não foi um ato de crueldade de Deus, mas um ato de amor. Deus é capaz de fazer qualquer coisa para trazer os seus filhos de volta para casa. Oséias 2.5-20 narra um episódio que fala do amor de Deus para com Israel e as atitudes que Deus tomou para trazer o seu povo de volta para casa.
Em toda essa história, vemos a manifestação da misericórdia de Deus para com aqueles que são seus filhos. Porque Manassés era filho de Deus, Deus fez todo o necessário para arrancá-lo do pecado e para trazê-lo de volta à vida de santidade e de esperança.