Uma abordagem sobre o vigésimo capítulo do livro de II Reis.
Ezequias reinou 29 anos (II Rs18.2). Foi no 14º ano do seu reinado que Senaqueribe da Assíria subiu contra ele como vemos no capítulo décimo oitavo (v.13).
Como neste 20º capitulo de II Reis é dito que o Senhor lhe acrescentou 15 anos de vida, quando ele estava com uma enfermidade que era para morte (v.1), então podemos concluir que foi exatamente no 14º ano do seu reinado, quando foi cercado pelas tropas da Assíria, que o Senhor lhe dissera através de Isaías, que ele morreria.
E daí podemos entender a afirmação do verso 6 em que o Senhor prometeu livrá-lo das mãos da Assíria, que parece estar deslocada, depois de tudo o que lemos nos capítulos anteriores, porque na verdade, a narrativa deste capítulo, relativo à cura de Ezequias, pertence ao mesmo período da invasão de Judá pelos assírios.
Nós vemos então que Ezequias, em toda a sua fidelidade estava sendo provado duramente em sua fé, não somente pela invasão dos assírios, quanto por uma grave enfermidade, da qual lhe foi dito pelo Senhor, pelo seu profeta, que resultaria na sua morte.
E pela fé ele pôde vencer não somente os assírios, como também a enfermidade, porque argumentou com o Senhor baseado na grande fidelidade que vinha tendo para com Ele, e se firmou nas Suas promessas, em recompensar a obediência aos Seus mandamentos, conforme consta na Sua Palavra, como em Lev 26.3-12, por exemplo.
Ao que tudo indica a palavra que o Senhor deu a Ezequias, através de Isaías, que ele morreria, era realmente para provar a sua fé, assim como havia feito com Abraão, em relação a Isaque no passado, porque Manassés, seu filho, que viria a sucedê-lo, tinha apenas 12 anos quando subiu ao trono (II Crôn 33.1), e assim, ele foi gerado por Ezequias 3 anos depois de ter sido curado pelo Senhor da sua grave enfermidade.
E como poderia o trono de Davi ficar sem sucessor, caso ele tivesse morrido antes de ter gerado Manassés?
Como Josias seria gerado caso viesse a falhar a sucessão da linhagem de Davi ao trono, depois de Ezequias?
Entretanto, poderoso era o Senhor para gerar um filho a Ezequias mesmo no período em que se encontrava enfermo, e assim, tudo isto não passa apenas de cogitações, porque não há impossíveis para Deus.
É interessante observar que mesmo tendo o Senhor prometido uma cura miraculosa a Ezequias, o profeta Isaías ordenou que se fizesse uma pasta de figos para ser colocada sobre o local da enfermidade (v. 7), porque com isto a úlcera seria curada.
Certamente isto tinha em vista colocar à prova a obediência de Ezequias ao profeta, e para auxiliá-lo na sua fé de que seria de fato curado, tal como Jesus havia feito com o lodo que aplicou aos olhos do cego, de modo que não houvesse dúvida no coração do rei, que deveria estar dividido em razão de o mesmo profeta ter-lhe dito antes que ele morreria daquela enfermidade.
E tão dividido ele ainda se encontrava entre os pensamentos sobre uma possível morte e uma possível cura, que pediu ao profeta um sinal de que seria de fato curado.
E este lhe propôs então algo sobrenatural, que somente o Senhor poderia fazer, a saber, que ele escolhesse entre o avançar ou o retroceder da sombra do relógio solar em 10 graus.
Como o avançar é o movimento natural, ainda que o avanço súbito de 10 graus num único instante somente poderia ser efetuado pelo poder sobrenatural do Senhor, governante do universo, então ele pediu que a sombra retrocedesse, em vez de avançar, e isto sucedeu quando Isaías orou pedindo que o Senhor o fizesse como sinal de que o rei seria curado (v. 8 a 11).
Naquela época Babilônia se encontrava debaixo do poder da Assíria (17.24), mas o rei de Babilônia sabendo que Ezequias se encontrava enfermo, enviou-lhe uma embaixada portando cartas e um presente (v. 12), e Ezequias lhes mostrou tudo o que havia em Jerusalém, sem saber que aquilo serviria para despertar a cobiça deles no futuro, em face das grandes riquezas que viram sobretudo no palácio real.
E o Senhor disse a Ezequias, através do profeta Isaías o que os babilônios viriam a fazer em Judá, não somente saqueando os tesouros que Ezequias havia juntado, como também levariam cativos os seus descendentes para Babilônia.
Não podemos pesar os motivos de Ezequias e com que tom ele disse a Isaías que boas eram aquelas palavras que o Senhor pronunciara através dele, porque todo este mal não ocorreria em seus dias.
Entretanto, não podemos afirmar que houve qualquer ironia nelas em face da piedade do rei, e a honra que devotava ao Senhor e ao Seu profeta.
Elas podem sim, ter expressado o seu alívio quando soube que aquele grande mal não ocorreria enquanto estivesse vivendo.
Pr Silvio Dutra