“O Senhor é bom, é fortaleza no dia da angústia e conhece os que nele se refugiam…” (Naum 1.7)
Você já leu este capítulo? Ele é muito terrível – é como o barulho de um rio caudaloso, quando está se aproximando de uma cachoeira. Ele fervilha e flui com força esmagadora, carregando tudo diante de si, mas, bem no meio da inundação crescente, destaca-se, como uma ilha verde, este amável texto confortador e deleitável!
Ouça por um minuto as palavras de terror do profeta: “O Senhor é tardio em irar-se, e grande em poder, e não inocentará o culpado: o Senhor tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés. Ele repreende o mar, e o faz secar, e esgota todos os rios. Basã definha, e o Carmelo, e a flor do Líbano definham. Os montes tremem perante Ele, e os outeiros se derretem, e a terra é devastada diante da Sua Presença, sim, o mundo, e tudo o que nele habita. Quem pode ficar de pé diante da Sua indignação? E quem suportará o ardor da Sua ira? O Seu furor se derramou como um fogo, e as rochas foram por Ele derrubadas.”
Então, assim como há, por vezes, uma pausa e um silêncio prazeroso mesmo no meio de um grande coro de música sacra, assim também, aqui o trovão faz uma pausa, o furacão está parado e nós ouvimos a música doce desta suave voz: “Jeová é bom, uma fortaleza no dia da angústia, e conhece os que confiam nele” – na qual podemos nos reunir já que há sempre um esconderijo para o Seu povo – Seus olhos de amor estão fixados sobre eles, mesmo quando são um pavio fumegante diante dos Seus adversários! Nada lhes fará dano algum, ainda que a terra seja removida e as montanhas sejam lançadas no meio do mar! Eles podem se alegrar na bondade do Senhor, no dia da Sua ardente ira.
I. Analisando o nosso texto, vamos então, primeiro, pensar sobre o próprio Deus – “o Senhor é bom.” É bom para nós, sermos capazes de dizer isto quando o dia da angústia está realmente sobre nós. Uma coisa é sentar-se sob sua videira e figueira e cantar: “O Senhor é bom.” Mas é outra coisa quando a videira e a figueira foram ambas cortadas e todo o seu conforto se foi, e ainda dizer:
“O Senhor é bom.” Você não acha que, se não formos capazes de dizê-lo no segundo caso citado, ele vai olhar como se, afinal de contas, fosse a videira e a figueira que eram boas, e não Deus? Ou, pelo menos, que a nossa visão da bondade de Deus era muito derivada do fato de estarmos em tanto conforto? Esta foi uma acusação que Satanás trouxe contra Jó, que ele amava a Deus pelo que Ele lhe dera – “
Acaso, não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplicaram na terra?” O diabo é muito apto para acusar o povo de Deus de ter um amor egoísta, mas é bom para nós, refutar a acusação, amando, louvando e adorando a Deus quando os confortos falharem, quando a proteção for removida e quando as coisas que recebemos com gratidão são, por fim, em sabedoria, tiradas. Oh, que grande repulsa teve Satanás quando Jó, em seu monturo raspando suas feridas e com seus filhos mortos e os seus bens perdidos, ainda disse: “O Senhor o deu e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor.”
Deus é eterna e imutavelmente bom. Ele não pode ser melhor! Ele não pode ser pior, Ele é absolutamente perfeito. Não pode haver uma melhoria e não pode haver depreciação nEle.
II. Em segundo lugar, Deus é bom para conosco. O que é Ele para nós? “é fortaleza no dia da angústia.” É bom saber que Deus está nas circunstâncias especiais. As circunstâncias especiais aqui mencionadas são, “no dia da angústia.” Lembre-se que é apenas um dia, não é uma semana, nem um mês, e Deus não vai permitir ao diabo que ele adicione uma hora extra àquele dia. É um “dia de angústia.” Há um fim para todas as nossas aflições. Alguém disse bem:
“Quando Deus designa o número dez, nunca pode ser onze.”
E quando Deus dosa o remédio amargo para o Seu povo, não pode ter mais uma gota de fel colocada no cálice.
Mas ele é realmente “o dia da angústia.” Veja como a ênfase é colocada – “uma fortaleza no dia da angústia.” É o dia mais problemático que um homem tem, naquele dia em que as nuvens retornam depois da chuva, naquele dia em que ele parece ter perdido cada conforto, e tristezas vêm uma após a outra, como os mensageiros de Jó, todos trazendo notícias sombrias – cada uma mais sombria do que as que vieram antes – “no dia da angústia.” Não é como um dia que ocorre com as pessoas mais piedosas, mais cedo ou mais tarde, antes de chegarem ao Céu – “no dia da angústia.” Isto parece ser o próprio dia do problema. O problema tem o dia reservado só para ele. Desde o início da manhã até a última hora da noite, é problema, problema, problema – “no dia da angústia.” O que é Deus, então? Ele é um “refúgio”. Esta é uma grande palavra, “uma fortaleza”, isto é, um forte, um castelo, uma torre de defesa – “no dia da angústia.”
De modo que, no tempo de angústia, Deus garante a segurança do Seu povo. Eles moram cercados por baluartes inexpugnáveis! “Como estão os montes ao redor de Jerusalém, assim o Senhor está ao redor do seu povo, desde agora e para sempre.” Problemas são como inimigos que os sitiam, mas Deus é para eles como uma forte torre de defesa na qual estão perfeitamente seguros!
E ademais, eles estão muitas vezes perfeitamente em paz. O inimigo vem e os espia, e prepara suas máquinas de guerra. Mas assim diz o Senhor, como fez com Senaqueribe, “A virgem, a filha de Sião, te tem desprezado e escarnecido e rido de ti. A filha de Jerusalém tem meneado a cabeça contra ti.” Muitas vezes, nos momentos de sua maior angústia, o povo de Deus é encontrado tão resignado, tão submisso à vontade do seu Senhor e, consequentemente, tão calmo, tão corajoso, que a paz não é no mínimo grau afetada.
III. Agora, finalmente, falaremos sobre Deus conosco, “Ele conhece os que confiam nele.”
Claro que o Senhor sabe tudo, mas há um sentido enfático nesta palavra “conhecer”, sempre que ela é aplicada ao povo de Deus. Aqui se refere à Sua íntima familiaridade com eles – suas pessoas, suas condições, suas necessidades, seus sofrimentos, seu passado, seu presente, seu futuro. Ele sabe tudo sobre eles. Nós dizemos, às vezes, a uma pessoa que nós não a conhecemos: “Eu não te conheço.” Mas nunca dizemos isto à nossa querida filha, ou a um amigo com o qual nos preocupamos. Não, nós tentamos conhecer tudo sobre ele, nós queremos saber, a fim de que possamos aliviar e socorrer.
Em um sentido muito maior, a Onisciência concentra toda a sua percepção sobre cada filho de Deus. Seu pai está olhando para você, Amado, com um olhar como se não houvesse mais ninguém no mundo, senão apenas você – sim, e nenhum mundo, qualquer um, mas apenas você. Ele tem prazer em saber tudo sobre você, porque Ele fez você e Ele te fez novo! Você é uma planta da sua lavoura.Ele tem cuidado de você e Ele disse: “Eu vou regá-la a cada momento, para que não sofra qualquer dano, eu vou guardá-la dia e noite.” É com o mais íntimo e intenso conhecimento que o Senhor conhece os que confiam nEle.
Se você é um daqueles que nele confiam, é doce para você ser capaz de dizer: “Deus sabe tudo sobre mim e Ele cuida de mim”. Note uma palavra no texto: “Ele conhece os que confiam nele”, e não aqueles que são perfeitos, e não aqueles que estão fazendo algumas obras, mas: “Ele conhece os que confiam nele.”
Aqueles que confiam no Senhor não são apenas objeto de Seu conhecimento e cuidado, eles também são objeto de Sua aprovação. Não há nada no mundo que Deus aprove mais do que a fé. Confiar em Deus é a maior de todas as obras.” O que vamos fazer”, disseram os judeus a nosso Senhor, “para que possamos realizar as obras de Deus?” Jesus respondeu: “Esta é a obra de Deus, que creiais nAquele que Ele enviou.” Erguer uma série de asilos, ou construir uma catedral – não é isto um grande trabalho? Não, não comparado com a fé em Jesus Cristo, a quem Deus enviou.
Este é o trabalho divino, a maior obra que podemos fazer! Nossa ação não pode agradar a Deus, por mais agradável que possa parecer para nós, mas onde quer que haja fé, Deus está satisfeito. E lembre-se, “sem fé é impossível agradar a Deus.” Então, queridos amigos, se vocês quiserem agradar a Deus, confiem nEle, confiem nEle implicitamente! Confie nEle agora com seu pecado, com o seu sofrimento, com tudo! Quanto mais você confiar nEle, mais agradável você será para Deus. Veja que é uma oportunidade que você tem de agradar a Deus em momentos de grande provação e dificuldade. Se uma pessoa tem um fardo para carregar o qual seja capaz de suportar, a auto-suficiência terá a sua vez. Mas quando tem uma carga sobre si, que não pode carregar, e ela diz: “Ó Deus, se Você me fortalecer, eu vou levá-lo” – então isto é agradável a Deus!
Mais uma vez, queridos amigos, esta palavra, “conhecer”, aqui, significa comunhão amorosa. Nós conhecemos um ao outro por estar unidos, tendo os mesmos pensamentos e sentimentos de um em relação ao outro.
Deus conhece nossas orações e lágrimas, Ele conhece nossos desejos, Ele sabe que não somos o que desejamos ser, mas Ele sabe o que fazemos para ser o que desejamos. Ele conhece nossas aspirações, nossos suspiros, nossos gemidos, nossos aposentos secretos, a nossa própria correção do espírito quando falhamos.
E aqueles que confiam no Senhor terão mais uma coisa. Isto é, Deus irá reconhecê-los como Seus. No último grande dia, Cristo dirá a alguns, “Nunca vos conheci.” Aqueles que não confiam em Cristo, Ele não reconhecerá. Naquela hora terrível quando aquilo que eles mais necessitam é de um Salvador, Ele dirá: “Nunca vos conheci.” Mas se você confia nEle, Ele conhece você agora e vai reconhecê-lo então naquele dia! Jesus Cristo não pode dizer para mim no último dia “Nunca vos conheci.” Ele deve me conhecer, pois Ele sabe como eu tinha me incomodado e me preocupado com Ele! Ele sabe como eu tinha o sangue de Seu coração para lavar meus pecados e as vestes de Sua justiça para me vestir.
Deus te abençoe, por amor de Cristo! Amém.
Tradução, adaptação e redução do sermão de nº 2555 de Charles Haddon Spurgeon, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.