I Pedro 5.8-11
“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo. Ora, o Deus de toda graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. A ele seja o domínio, pelos séculos dos séculos. Amém.” (I Pedro 5.8-11)
Pedro foi um dos discípulos mais próximos de Jesus, além de Tiago e João. Quando escreveu essa carta, Pedro estava na cidade de Roma, chamada de Babilônia (I Pe 5.13). Ele estava vivendo os últimos anos de sua vida; pouco depois de ter escrito essa carta, ele sofreu o martírio, sendo preso, torturado e crucificado por causa da sua fé em Jesus. Contam os historiadores que Pedro morreu durante o reinado do imperador Nero, tendo sido crucificado de cabeça para baixo por se julgar indigno de morrer do mesmo modo que Jesus. Assim, ao lermos essa carta, precisamos ter a consciência de duas realidades acerca do seu autor. Primeiro, ter em mente que o seu autor era alguém que havia conhecido a Jesus, andado com Ele e se dedicado inteiramente ao Reino de Deus. Segundo, saber que Pedro não a escreveu nos primeiros anos de sua vida; ele tinha uma vasta experiência pastoral e sabia como era a vida e quais as lutas do cristão.
Segundo o que lemos em I Pe 1.1, Pedro escreveu essa carta aos cristãos que estavam vivendo na dispersão. Há algum debate em torno dos destinatários dessa carta: alguns afirmam que eles eram judeus que haviam sido expulsos de suas respectivas cidades por causa de perseguições; outros entendem que são os cristãos de um modo geral, tanto judeus como gentios, que têm a consciência de que são peregrinos e forasteiros nessa terra, e que rumam para a sua verdadeira pátria, a cidade celestial. Mas essa discussão em torno dos verdadeiros destinatários da carta não muda a mensagem que Pedro pretendia passar aos seus leitores. Sem dúvida, o sofrimento do cristão é uma das ênfases dessa carta de Pedro.
Pedro estava preocupado com as pessoas que estavam quase abandonando a fé por causa do sofrimento. Essas pessoas estavam sendo tentadas a viver não como cristãos, mas como pagãos. Por isso Pedro escreve essa carta para encorajar os cristãos a darem genuíno testemunho de sua fé em meio ao sofrimento. Os versículos que lemos acima podem ser considerados um resumo da mensagem dessa carta.
I – Pedro diz que o sofrimento pode ser usado pelo diabo contra o cristão
Veja bem: Pedro não está dizendo que o sofrimento é um mal em si mesmo, que só irá trazer prejuízo ao cristão e que o diabo e seus demônios só olham para o cristão quando este está sofrendo, mas que o diabo pode usar uma situação de sofrimento para devorar o cristão incauto. O cristão precisa saber que quando está vivendo uma situação de sofrimento ele é mais intensamente vigiado por Satanás, porque ele sabe que o cristão é mais frágil nessas situações. E à medida que o diabo vai observando, ele também vai rugindo, mostrando seu intento de atacar e devorar o cristão que está mais fraco.
O leão não é um animal que ruge o tempo todo. Existem alguns momentos específicos em que ele ruge; um desses momentos é o da caça. Quando ele vai caçar, ruge para afugentar as presas, notando qual é o animal mais fraco do rebanho. Ele nunca vai atacar o animal mais forte e saudável; isso lhe traria cansaço e talvez até mesmo a frustração por não conseguir alcançar esse animal. Ele sempre ataca o animal mais fraco do rebanho. Mas veja bem: os rugidos não têm o objetivo de assustar, mas de provocar reações nos cristãos.
Esse rugido pode ser, por exemplo, um sussurro nos ouvidos de um cristão que trabalha em uma certa empresa, convidando-o a furtar algum dinheiro. Se esse cristão reagir de modo contrário ao primeiro rugido, o diabo irá, de modo mais sistemático e intenso, sussurrar-lhe outras palavras: a empresa é rica; a quantia é pequena; ninguém notará a falta do dinheiro; ele está precisando; a despensa de casa está vazia, as contas irão vencer, a luz será cortada; a esposa irá ficar triste. O cristão que está mais fragilizado é alguém com muito maior probabilidade de ceder às tentações do diabo. O objetivo final do diabo é destruir (devorar) o cristão. Não podemos pensar que essa destruição vai acontecer repentinamente, mas será um processo que vai levando o cristão a uma destruição gradual e definitiva, quando ele deixa de agir como cristão e passa a viver os padrões estabelecidos pelo mundo.
Pedro sabia dessa astúcia do diabo por experiência própria. Ele mesmo foi peneirado por Satanás naquela sua noite de sofrimento, quando Jesus foi preso. Por isso, Pedro alerta os cristãos a não abandonarem a fé por causa do sofrimento; por detrás disso, Satanás está agindo, procurando afastar as pessoas de Deus. Contudo, as artimanhas e ciladas de Satanás não são a única razão para que os cristãos não abandonem a fé por causa do sofrimento. Pedro apresenta uma outras razões, e veremos isso no próximo estudo.