“Mas digo isto: Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e aquele que semeia em abundância, em abundância também ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria.” (II Corintios 9.6,7)
O texto retrocitado alude a uma oferta que foi levantada pelo apóstolo Paulo entre as igrejas da incircuncisão (gentios), e que foi juntada durante o período aproximado de um ano, para assistir aos crentes pobres e necessitados da incircuncisão, a saber, pertencentes ao povo de Israel. Trata-se portanto, não de um dogma relativo à apresentação de ofertas obrigatórias pelas igrejas, mas de uma decisão específica, para atender a uma necessidade específica, numa ocasião especifica.
A Igreja tem o dever de atender às necessidades dos santos, mas isto não é regulado no período do Novo Testamento, quanto à forma de fazê-lo. Antes de tudo devemos considerar que os dízimos e ofertas alçadas regulados pela Lei de Moisés e conforme são apresentados no Velho Testamento pertenciam exclusivamente ao sistema chamado de Antiga Aliança que vigorou até a instituição da Nova Aliança a partir da morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.
Apesar de terem sido apresentados dízimos antes dos dias de Moisés, todavia não estavam regulados pela lei que fora dada aos israelitas por Deus no Monte Sinai.
Como pode ser observado em diversas passagens bíblicas tanto o dízimo quanto as ofertas fixas tinham por alvo atender às necessidades de manutenção do culto do templo, dos sacerdotes, dos levitas e também para atender os que se encontrassem em necessidade extrema em Israel.
Deve-se ter em conta que a nação de Israel estava debaixo de um governo teocrático e os assuntos de estado eram uma atribuição dos sacerdotes da nação. O dízimo tinha então também o caráter de imposto, para gerir serviços à sociedade como um todo.
Deus teve o cuidado de dar um sentido social à aplicação das ofertas e dízimos que eram apresentados a Ele, para desfazer a ideia religiosa antiga de que Ele necessitava destas ofertas para que a sua ira fosse aplacada ou então para se comprar os seus favores.
As ofertas sangrentas representadas sobretudo nos sacrifícios de animais realizados no templo foram instituídas por Deus desde os dias de Adão, como se infere da oferta apresentada por Abel, já que havia um princípio pedagógico nestes sacrifícios para que ficasse gravada definitivamente a necessidade de um sacrifício cruento – o de Jesus – que foi tipificado até que Ele viesse, por aqueles sacrifícios. Sacrifício este – o de Jesus -que seria oferecido pelo próprio Deus e não por qualquer homem ou anjo. Deus não tem necessidade de qualquer oferta apresentada pelos homens – estes é que necessitam dos seus dons divinos.
Com a revogação da Antiga Aliança, caiu também juntamente com todas as demais ordenanças civis e cerimoniais da Lei de Moisés aquela forma prescrita de se oferecer dízimos e ofertas, até mesmo porque não seria o propósito de Deus incentivar a continuidade de um sistema que tinha sido revogado desde que nosso Senhor inaugurou um Novo Testamento para substituir aquele modo de culto que vigorava no Antigo.
Agora, se os dízimos e ofertas eram de fato bíblicos, naquela forma prescrita, para vigorarem no período de duração da Antiga Aliança, todavia disto se aprende, por princípio, que onde houver a necessidade de manutenção de um ministério regular em igrejas nesta Nova Aliança, para o pagamento de ministros de tempo integral; servidores de manutenção dos locais de adoração; assistência regular de membros etc, é razoável e necessário que haja um sistema também regular de cobertura destes gastos pela membresia, voluntariamente, e conforme a capacidade de cada um em ofertar para a continuidade dos trabalhos ministeriais.
Ninguém, em sã consciência, seria contrário a isto, especialmente quando os trabalhos da Igreja têm em vista alcançar convertidos, quer nas congregações locais, quer nas atividades missionárias; pois isto sempre implica a necessidade de dispêndio financeiro, e bem farão aqueles que forem movidos voluntariamente a contribuir, porque Deus ama a quem dá com alegria, e não somente isto, faz abundar a fazenda daqueles que são generosos em ofertar para atender a necessidades reais relacionadas aos serviços da Igreja.
Agora, fazer da obra de Deus uma ocasião de ganho pessoal, de negócio mundano, para entesourar para fins escusos é uma prática abominável e condenada não somente por Deus, mas pela própria razão natural.
É requerido daqueles que administram os bens e recursos financeiros da Igreja que sejam pessoa sábias, idôneas, de boa reputação e inteiramente honestas, para que se tape a boca do Inimigo e sejam eliminadas quaisquer possibilidades de ruins suspeitas. Tudo deve ser administrado de modo claro e transparente, de conhecimento geral da membresia, para que o nome de Deus seja honrado e glorificado,
Afinal a congregação cristã não é um ambiente de negócios mundanos e seculares.
Por isso vemos nosso Senhor repreendendo a avareza dos escribas e fariseus, que administravam os serviços religiosos em Israel, e cujo enfoque repousava nos dízimos e nas ofertas e não no que era, segundo o Senhor, mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé (Mateus 23.23). Ele estava falando a judeus, ainda debaixo da Antiga Aliança, e por isso afirmou que importava fazer estas coisas (a justiça, a misericórdia e a fé) sem omitir aquelas (os dízimos e as ofertas). Lembremos que o próprio Senhor Jesus cumpriu integralmente a Lei de Moisés, pois importava que assim fizesse para nos resgatar da maldição da lei ao morrer no nosso lugar – o Obediente perfeito da Lei no lugar dos desobedientes.
Por extensão, por similaridade, podemos entender que Ele estava aludindo a que toda oferta pecuniária levantada para o serviço na obra de Deus deve servir de apoio para a pregação da fé, da justiça do evangelho e da misericórdia de Deus pelos pecadores, de modo a que sejam salvos. O que passa disso é negociata secular, como ocorria com os escribas e fariseus no passado.
O texto de Hebreus 7.5-9 é bastante claro quanto à verdade de que o sistema de dízimos e ofertas do Antigo Testamento estava de baixo da lei da Antiga Aliança e não da Nova, porque se diz que o encargo de recolher dízimos era específico dos levitas, e aqueles que estavam obrigados a dizimar eram todas as demais tribos de Israel, sendo que os próprios levitas não estavam desobrigados de apresentarem também o dízimo dos dízimos que recebiam.
Na mesma epístola aos Hebreus é afirmada uma nova lei de administração do culto, porque Jesus não era sumo-sacerdote segundo a ordem de Arão, de quem descendiam os levitas, mas segundo a ordem de Melquisedeque a quem Abraão pagou o dízimo.
Tendo havido mudança de sacerdócio, houve também mudança da lei sacerdotal (Hb 7.12) de modo que se diz que:
“Pois, com efeito, o mandamento anterior é revogado por causa da sua fraqueza e inutilidade
(pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual nos aproximamos de Deus.” (Hebreus 7.18,19).
Finalmente, observe que o profeta Malaquias apresenta os dízimos e ofertas não como a finalidade do culto, mas como uma das evidências da verdadeira fidelidade a Deus nos dias do Velho Testamento, quando era exigido obrigatoriamente dos israelitas determinados tipos de ofertas, bem como o dízimo. Ele cita no primeiro e segundo capítulos a necessidade de santidade de vida para que os dízimos e ofertas fossem aceitos por Deus.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as palavras:
1 – deekate (grego) – dízimo;
2 – apodekatoo (grego)– dizimar;
3 – maasahr (hebraico) – dízimo;
4 – doron (grego) – dom, oferta;
5 – minchah (hebraico) – oferta não sangrenta; relativas ao assunto, acessando o seguinte link:
http://www.recantodasletras.com.br/mensagensreligiosas/5402533
Pr. Silvio Dutra