É impossível discutirmos a fundo as questões da nossa vida financeira e da nossa contribuição ao Senhor sem entendermos o que é a Redenção. No Livro do profeta Malaquias, no clássico texto a respeito dos dízimos, encontramos este nível de abordagem. Ao falar sobre a da retenção dos dízimos e ofertas, Deus chama isto de roubo:
“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda.” (Malaquias 3.8,9)
Uma abordagem do ponto de vista jurídico diria que o assunto abordado por Deus é uma questão de propriedade. Legalmente falando, envolve posse. E não há como falarmos de coisas que dizem respeito à propriedade de Deus, sem antes estudarmos a Lei da Redenção.
ENTENDENDO A REDENÇÃO
Para muitos cristãos, a palavra “redenção” não significa nada mais do que “perdão dos pecados” ou “salvação”. Mas o seu significado vai muito além disto!
A palavra “redenção” significa “resgate” ou “remissão”. Ela retrata o ato de se readquirir uma propriedade perdida. Antes de Deus estabelecer algumas verdades no Novo Testamento, Ele determinou que elas fossem primeiramente ilustradas no Antigo Testamento:
“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem.” (Hebreus 10.1 – TB)
A sombra é diferente do objeto que a projeta. Assim também, o que se via nas ordenanças da Antiga Aliança eram características similares (em ordenanças “literais”) às dos princípios que Deus revelaria nos dias da Nova Aliança (práticas espirituais). Por exemplo, o ato da circuncisão deixou de ser “literal” e passou a ser uma experiência no coração (Rm 2.28,29). A serpente que Moisés levantou no deserto se tornou uma figura da obra redentora de Cristo na Cruz (Jo 3.14). Assim também, outros detalhes da Lei que envolviam comida, bebida e dias de festa, começaram a ser vistos, não como ordenanças “literais” pelas quais quem não as praticasse poderia ser julgado, mas como uma revelação de princípios espirituais, cabíveis na Nova Aliança:
“Ninguém, portanto, vos julgue pelo comer, nem pelo beber, nem a respeito de um dia de festa, ou de lua nova ou de sábado, as quais coisas são sombras das vindouras, mas o corpo é de Cristo.” (Colossenses 2.16,17)
É desta forma que precisamos olhar para a Lei da Redenção no Antigo Testamento. Durante anos Deus fez o povo praticar pela fé uma tipologia do que Ele Mesmo um dia faria conosco. Foi assim com o sacrifício do cordeiro que os israelitas repetiam anualmente em várias cerimônias; por fim, vemos João Batista apontando para Jesus e dizendo:
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1.29)
Paulo se referiu a Jesus como sendo o Cordeiro Pascal (1 Co 5.7). Vemos nestas passagens que as práticas repetidas por centenas e centenas de anos visavam levá-los a entenderem uma figura que só seria revelada posteriormente. Com a Redenção não foi diferente.
O Livro de Rute nos mostra Boaz resgatando (ou redimindo) as propriedades de Noemi. Ele estava readquirindo uma posse perdida.
Toda dívida tinha que ser paga. Se uma pessoa não tivesse recursos para honrar os seus compromissos, ela deveria dar os seus bens em pagamento, e, se também não fossem suficientes, ela deveria dar as suas terras. E, se isto ainda não bastasse para a quitação da sua dívida, o próprio indivíduo (e às vezes até a própria família) deveria ser dado como pagamento. Isto faria dele um escravo!
Lemos em 2 Reis 4.1-7 que uma mulher viúva teria seus filhos transformados em escravos se ela não pagasse a sua dívida. E, quando isto acontecia com alguém, só havia duas formas de esta pessoa sair da condição de escravidão: ou alguém teria que pagar a sua dívida (um redentor), ou ela teria que esperar nesta condição até que o Ano do Jubileu (que se repetia a cada cinqüenta anos; a exceção ocorria quando o escravo também era um judeu – Êx 21.2) chegasse. Veja o que a Lei dizia acerca disto:
“Se teu irmão empobrecer e vender alguma parte das suas possessões, então, virá o seu resgatador, seu parente, e resgatará o que seu irmão vendeu. Se alguém não tiver resgatador, porém vier a tornar-se próspero e achar o bastante com que a remir, então, contará os anos desde a sua venda, e o que ficar restituirá ao homem a quem vendeu, e tornará à sua possessão. Mas, se as suas posses não lhe permitirem reavê-la, então, a que for vendida ficará na mão do comprador até ao Ano do Jubileu; porém, no Ano do Jubileu, sairá do poder deste, e aquele tornará à sua possessão.” (Levítico 25.25-28)
Neste texto, que fala somente da perda da terra, e não da escravidão, vemos que havia três formas de alguém recuperar as suas posses:
• a redenção (o pagamento feito por um parente);
• o perdão da sua dívida, proclamado no Ano do Jubileu;
• a sua própria possibilidade de pagar caso viesse a prosperar (o que não ocorria no caso dos escravos).
Para o escravo, porém, só havia duas formas de ficar livre: o Jubileu (já vimos que a exceção a este prazo ocorria no caso de um hebreu ter sido comprado como escravo por um outro hebreu. Neste caso ele teria que libertá-lo depois de seis anos de servidão – Êx 21.2) ou a Redenção!
A redenção era o pagamento da dívida, feito por um parente próximo. Por meio do pagamento, ele comprava de volta tudo aquilo que se perdera. Assim a pessoa que fora escravizada não mais pertenceria a quem antes ela devia, mas ao que pagava sua dívida. Por exemplo: se eu me endividasse a ponto de perder todas as minhas posses e fosse transformado num escravo, e o meu irmão me resgatasse, eu não deixaria de ser escravo! Eu somente mudaria de amo! Eu passaria a ser escravo do meu irmão, porque ele me comprou!
E qual seria o proveito disto? De que adiantaria ficar livre de um, para se tornar escravo de outro? A diferença era que o novo dono era um parente e ele pagou aquela dívida por amor (uma vez que um escravo normalmente não custava tanto), e, justamente por causa do seu amor, ele trataria o escravo com brandura, com misericórdia.
O QUE CRISTO FEZ POR NÓS
Foi exatamente isto que Jesus fez por nós! Jesus Cristo nos comprou para Deus através da Sua morte na Cruz:
“… porque foste morto e com teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.” (Apocalipse 5.9b,10)
O homem se transformou num escravo de Satanás ao render-se ao pecado no Jardim do Éden. A Bíblia declara que “aquele que é vencido fica escravo do vencedor” (2 Pe 2.19), e foi isto que ocorreu ao primeiro casal. Eles foram separados da glória de Deus e perderam a filiação divina. Adão foi chamado filho de Deus (Lc 3.38), mas esta condição não foi mantida. Quando Jesus veio ao mundo, Ele foi chamado de Filho Único de Deus (Jo 3.16), mas Ele veio mudar esta condição e passou a ser o Primogênito de muitos irmãos (Rm 8.29).
O Diabo se assenhoreou do homem e da Terra, que fora dada ao homem (Sl 115.16), e afirmou isto para Jesus na tentação do deserto (Lc 4.6). Mas Jesus veio pagar a nossa dívida do pecado, e, ao fazê-lo, garantiu a nossa libertação das mãos de Satanás:
“Ele nos resgatou do poder das trevas e nos trasladou para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a nossa redenção, a remissão dos nossos pecados.” (Colossenses 1.13,14 – TB)
Observe o termo “resgatou”, que aparece quando o apóstolo Paulo está falando que fomos transportados do Reino das Trevas e levados ao Reino do Filho de Deus. Depois, ele afirma: “no qual temos a nossa redenção”. Esta redenção foi um ato de compra, efetuado pelo pagamento da dívida do pecado:
“Tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o inteiramente, cravando-o na cruz; e tendo despojado os principados e potestades, os exibiu abertamente, triunfando deles na mesma cruz.” (Colossenses 2.14,15 – TB)
O Texto Sagrado revela que Jesus despojou os príncipes malignos. Segundo o Dicionário Aurélio, “despojar” significa: “privar da posse; espoliar, desapossar”. Isto nos faz questionar o que, exatamente, Jesus tirou destes principados malignos. O que eles possuíam que pudesse interessá-Lo? Nada, a não ser o senhorio sobre as nossas vidas! O despojo somos nós, que fomos comprados por Ele para Deus, e, a partir de então, passamos a ser propriedade de Deus. É exatamente assim que as Escrituras se referem a nós. Somos agora chamados de propriedade de Deus:
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1 Pedro 2.9)
Repetidas vezes encontramos a ênfase de que o Senhor Jesus Cristo nos comprou para Si. E o preço pago foi o Seu próprio sangue!
“Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo.” (1 Pedro 1.18,19)
Portanto, quando Jesus nos comprou, Ele nos livrou da escravidão do Diabo, mas nos fez escravos de Deus! Coisa alguma do que “possuímos” é de fato uma propriedade exclusivamente nossa. Nem as nossas próprias vidas pertencem a nós mesmos! Somos propriedade de Deus! Ele é o nosso Dono! Conseqüentemente, tudo o que nos pertence, é d’Ele também!
Referindo-se ao Espírito Santo em nós, Paulo O chamou de “o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus” (Ef 1.14 – ARC). Observe que o termo “herança” aparece associado aos termos “redenção” e “possessão”, pois é disto que o princípio da redenção sempre trata: o resgate da propriedade!
CELEBRANDO A REDENÇÃO
A consciência da Redenção deve provocar em nós uma atitude de gratidão e de culto a Deus. Paulo falou sobre vivermos uma vida de santidade, que é fruto desta consciência:
“Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” (1 Coríntios 6.18-20 – ARC)
O apóstolo deixa claro, em três frases distintas, a ênfase de que somos propriedade de Deus. Primeiro ele afirma que não somos de nós mesmos. Depois ele declara que fomos comprados – e por um bom preço! E finalmente ele diz que o nosso corpo e o nosso espírito “pertencem” (verbo que indica posse) a Deus.
Portanto, separar-se do pecado e santificar-se para Deus é glorificá-Lo por meio do corpo. Não é um culto de palavras, mas não deixa de ser uma exaltação. É um culto de santidade e boa mordomia! Celebramos a Redenção não só por meio de cânticos, mas também de atitudes. Quando reconhecemos que Deus comprou o nosso corpo e cuidamos dele com a consciência de que ele é de Deus, estamos cultuando ao Senhor.
Da mesma forma, há um culto que é expresso não só por meio de palavras, mas também por nossas atitudes em relação às nossas finanças. Assim como Deus redimiu o nosso corpo, Ele também redimiu os nossos bens. Logo, da mesma forma como o bom uso do corpo (em santidade) glorifica a Deus, assim também o bom uso dos nossos recursos financeiros, que são de Deus, O glorifica!
A SIMBOLOGIA DO QUE JOSÉ FEZ
José comprou para Faraó todo o povo egípcio:
“Findo aquele ano, vieram a José no ano seguinte e disseram-lhe: Não ocultaremos ao meu senhor que o nosso dinheiro está todo gasto; as manadas de gado já pertencem a meu senhor; e nada resta diante de meu senhor, senão o nosso corpo e a nossa terra; por que morreremos diante dos teus olhos, tanto nós como a nossa terra? Compra-nos a nós e a nossa terra em troca de pão, e nós e a nossa terra seremos servos de Faraó; dá-nos também semente, para que vivamos e não morramos, e para que a terra não fique desolada. Então disse José ao povo: Hoje vos tenho comprado a vós e a vossa terra para Faraó; eis aí tendes semente para vós, para que semeeis a terra.” (Gênesis 47.18,19,23)
O que aconteceu com este povo? Deixaram de pertencer a si mesmos e passaram a pertencer a Faraó! O seu gado, as suas casas, as suas terras – tudo pertencia ao rei do Egito! Eles se tornaram servos de Faraó, para cuidarem do que era dele!
O que Cristo fez conosco por meio do Seu sacrifício na Cruz foi algo semelhante. Isto é o que significa “redenção”. Originalmente éramos propriedade de Deus, mas a nossa queda e o nosso pecado nos roubaram isto. Quando Cristo pagou o preço da nossa dívida, Ele nos remiu da mão daquele que havia se tornado o nosso dono, o Diabo. Quando declaramos que somos servos de Deus, estamos reconhecendo que não pertencemos a nós mesmos, e que tudo o que temos na verdade pertence ao Senhor. Somos apenas mordomos de algo que não é nosso! Não nos atolaríamos em dívidas geradas em caprichos e excessos, se andássemos com esta mentalidade. Se sempre tomássemos decisões na área financeira, com a consciência de que os recursos empregados pertencem ao Senhor, cometeríamos menos erros.
Quando José comprou aqueles egípcios para Faraó, tudo o que era deles passou a ser de Faraó; logo, toda a renda deles deveria ir para Faraó. Mas o que fez o rei egípcio com o povo? Ele tomou tudo o que era deles? Não! Ele permitiu que eles usassem a terra e os demais recursos para que vivessem; mas, para que se lembrassem sempre que tudo o que eles tinham não era deles, um quinto da colheita (ou 20% da renda) ia para Faraó:
“Há de ser, porém, que no tempo das colheitas dareis a quinta parte a Faraó, e quatro partes serão vossas, para semente do campo, e para o vosso mantimento e dos que estão nas vossas casas, e para o mantimento de vossos filhinhos.” (Gênesis 47.24)
E o que os egípcios fizeram? Ficaram reclamando e dizendo que era injusto? Claro que não! A reação deles foi justamente o contrário:
“Responderam eles: Tu nos tens conservado a vida! Achemos graça aos olhos de meu senhor, e seremos servos de Faraó.” (Gênesis 47.25)
Viver como servos de Faraó era para eles um privilégio, pois nem vivos estariam, se não fosse a intervenção do rei! Eu vejo nisto um perfeito paralelo do que Deus fez conosco. As nossas vidas e tudo o que tínhamos passaram a pertencer ao Senhor, mas Ele não queria tomar tudo de nós! Ele queria que continuássemos vivendo! Ele queria que vivêssemos melhor do que viveríamos se não fôssemos mordomos Seus. É como se Ele estivesse nos dizendo:
“Vão em frente! Usem o que é Meu para que vocês possam viver as suas vidas e continuar produzindo, mas não quero que vocês se esqueçam que vocês são apenas mordomos do que não pertence a vocês. Então, de toda a sua renda Eu quero um décimo (dízimo) para Mim, além do que vocês me darão espontaneamente!”
E sabe o que muitos crentes ainda dizem?
“Isto não é justo!”
Como isto pode ser algo injusto? Ao invés de nos regozijarmos por pertencermos a Ele e podermos servir Aquele que redimiu as nossas vidas, reclamamos muitas vezes por termos que devolver um pouco do que é d’Ele. Isto é ingratidão! É falta de compreensão do que é a Redenção!
Há pessoas que consideram os dízimos como se Deus quisesse tirar dez por cento do que é nosso. Mas esta não é a perspectiva correta. É Deus que permite que fiquemos com noventa por cento do que é d’Ele! A maioria de nós ainda não conseguiu compreender que a entrega dos dízimos é uma forma de celebrarmos a Redenção. Ao dizimarmos, não só expressamos gratidão pelo que Ele fez por nós e nos mantemos conscientes do nosso lugar em nosso relacionamento com Deus, mas também realizamos um ato profético.
UM ATO PROFÉTICO
A entrega dos dízimos é um ato profético. Semelhantemente aos israelitas que, ao celebrarem a primeira Páscoa praticaram um ato profético, assim também fazemos algo semelhante ao dizimarmos.
Deus advertiu que naquela noite o Anjo da Morte haveria de matar todos os primogênitos dos homens e dos animais no Egito (Êx 12.12). Em todas as pragas anteriores, os hebreus haviam sido poupados, mas, naquela noite, a proteção não seria automática, mas dependeria de um ato profético, com um simbolismo espiritual. Cada um deles deveria aplicar o sangue do cordeiro da Páscoa aos umbrais de suas portas:
“O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito.” (Êxodo 12.13)
O sangue de um animal não tinha o poder de promover em si uma proteção espiritual. Ele era só um sinal, uma mensagem simbólica! Era um ato profético, por meio do qual eles reconheciam a redenção de Deus em suas vidas naquela noite e apontavam para o futuro, quando Cristo viria nos resgatar e nos proteger por meio do Seu sangue vertido na Cruz.
O interessante é que os hebreus não precisavam se proteger. Eles somente precisavam cumprir o sinal que foi estabelecido por Deus. Então, o próprio Deus cuidaria da proteção deles. Mas, se não O obedecessem, não fazendo o sinal de proteção, então a morte dos seus primogênitos seria inevitável:
“Tomai um molho de hissopo, molhai-o no sangue que estiver na bacia e marcai a verga da porta e suas ombreiras com o sangue que estiver na bacia; nenhum de vós saia da porta da sua casa até pela manhã. Porque o Senhor passará para ferir os egípcios; quando vir, porém, o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, passará o Senhor aquela porta e não permitirá ao Destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir.” (Êxodo 12.22,23)
Há algo que precisa ser entendido aqui. Deus diz: “Eu passarei pelas portas… Eu ferirei os primogênitos…” Em primeira instância, parece que é Ele fazendo tudo pessoalmente, mas não é isto o que vemos aqui. Vemos Deus determinando a execução do juízo, mas não exercendo-o sozinho e diretamente. O versículo 23 termina dizendo que Deus não permitiria que o Destruidor entrasse. Logo, quem executava as mortes não era Ele pessoalmente, mas um anjo. Vários textos do Antigo Testamento mostram enfaticamente Deus exercendo este juízo (Nm 33.4; Sl 135.8), mas a forma como Ele executou isto é o que estamos discutindo aqui.
E que anjo era este? Ele foi chamado de “Destruidor”. Curiosamente, este mesmo nome é dado ao Anjo do Abismo, cujo nome em hebraico é “Abadom”, e o nome em grego é “Apoliom” (ambos significam “destruidor”); e a Palavra de Deus declara que ele era o rei sobre os outros anjos que saíram do abismo (Ap 9.11)! No juízo que Deus determinou sobre a cidade de Jerusalém, o Anjo Destruidor também foi enviado (1 Cr 21.15). Satanás executa atos de juízo divino quando ele é liberado para ferir e destruir os que desobedecem. E não tenho medo de dizer que quem de fato exerceu o juízo de Deus naquela noite foi o Diabo, o Anjo da Morte.
As Escrituras dizem que um espírito maligno da parte do Senhor atormentava a Saul (1 Sm 16.14-16). Isto não quer dizer que o espírito maligno era do Céu, mas que ele foi autorizado por Deus para exercer juízo sobre quem se afastou deliberadamente do Senhor!
O sangue naquela noite era um sinal de propriedade. E o Diabo não pode ir além do sangue. Lemos em Apocalipse 12.11 sobre um grupo de fiéis que venceram a Satanás, e o texto revela que eles o venceram pelo sangue do Cordeiro! Satanás não pode tocar no que é de Deus.
Conheci pessoas que foram alcançadas por Jesus e que antes serviam aos demônios. Eu ouvi pessoalmente de algumas delas que, antes da sua conversão, elas tiveram experiências que as fizeram refletir sobre o cuidado de Deus com os Seus. Uma destas pessoas, a irmã Vilma Laudelino de Souza (hoje missionária), quando pertencia à magia negra, tentou matar uma crente com os seus trabalhos, mas o demônio disse que não poderia fazer nada contra tal pessoa, a qual, nas palavras dele mesmo, tinha um “espírito terrível”. Uma outra pessoa, o irmão Carlos (hoje pastor), quando ainda era um bruxo, tentou violar o túmulo de uma cristã, mas a entidade que lhe apareceu materializada no momento do trabalho disse que o Carlos não poderiam tocar naquele corpo, uma vez que ele pertencia a quem o próprio demônio chamou de “O Homem Lá de Cima”! Aleluia! Se até os restos mortais do crente, que sofreram decomposição, estão sob proteção divina, o que não dizer de nós hoje, de nossas famílias e bens?
Quando um hebreu estava colocando o sinal do sangue na porta, ele estava dizendo com aquele gesto que aquilo era propriedade de Deus e não podia ser tocado. E sempre que a Redenção está em questão, Deus decide defender pessoalmente o que é Seu. Foi assim na Páscoa, e é assim com os nossos dízimos hoje. Quando dizimamos, Ele Mesmo repreende o Devorador!
No momento em que o crente entrega os seus dízimos diante de Deus e de todo o reino espiritual, ele está reconhecendo a Redenção e a conseqüência de ter a Deus como seu Dono, bem como de tudo o que lhe pertence. Diante deste reconhecimento, o Senhor mesmo afasta o Devorador e protege o que é d’Ele. E o Diabo não se atreve a tentar tocar no que pertence a Deus!
Mas, quando desobedecemos o mandamento referente aos dízimos, estamos declarando que Deus não é o Dono destas quantias. E não só estamos roubando os dízimos (o que é uma apropriação indébita do que é de Deus), como também estamos nos apropriando dos noventa por cento que ficam. E, ao fazermos isto, o Diabo está de longe, assistindo tudo. Aí então ele diz: “Ah, este dinheiro não é de Deus? O que é de Deus eu não posso tocar, mas o que é seu…”
E é aí que as perdas ocorrem! Devemos fazer dos dízimos um ato de celebração da Redenção. O número dez está ligado à simbologia da Redenção. Mesmo quando ele fala de prova (nos Dez Mandamentos) ou juízo (nas dez pragas), é porque a Redenção está por trás da história. O cordeiro da Páscoa deveria ser escolhido no dia dez do mês de Abib (Êx 12.3). Ao entregarmos os nossos dízimos, devemos ser gratos pela Redenção e compreender que, através deste gesto, redimimos os noventa por cento da renda restantes para administrá-los para o Senhor.
PERDAS E GANHOS
Muitos não entendem a bênção e a maldição mencionadas por Malaquias em sua profecia. Acham que Deus ameaça os Seus filhos, para que O obedeçam por medo, mas não se trata disto!
Vimos que o Diabo não pode tocar no que é de Deus, mas ele pode tocar em nosso dinheiro quando deixamos de reconhecer a Deus como Dono de tudo o que temos. Devido ao nosso pecado de roubarmos o que é de Deus, o Maligno encontra uma brecha para nos tocar. Esta é a razão pela qual a maldição fere os que negligenciam a entrega dos dízimos. As perdas se manifestam em decorrência de uma maldição, a qual, por sua vez, entra em nossas vidas pela desobediência.
Por outro lado, a bênção proveniente da fidelidade nos dízimos também precisa ser entendida. Ela não se trata de uma recompensa por um bom comportamento, mas dos princípios que estão sendo devidamente aplicados pelo cristão. Será que há ganhos para os que dizimam? Claro que sim! Mas eles não devem ser vistos como se Deus estivesse aumentando o nosso patrimônio, e sim como uma forma de Deus aumentar o patrimônio d’Ele, sob nossa mordomia. Jesus nos ensinou um princípio que rege vários aspectos da vida cristã:
“Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito.” (Lucas 16.10)
Se não dizimarmos o pouco que Deus nos confiou, mas O roubarmos, com uma atitude de infidelidade em nossa mordomia, Ele não nos confiará mais, pois continuaríamos sendo injustos no muito. Esta infidelidade impede a bênção financeira sobre quem retém os dízimos!
Por outro lado, quem é fiel no pouco também o será no muito. Se demonstrarmos obediência, dizimando o que já temos, Deus nos confiará mais dos Seus bens. Esta é a prova que determina quem receberá mais do Senhor e quem não receberá!
MANTENDO-NOS CONSCIENTES
Jesus instituiu uma Ceia Memorial para que sempre recordássemos o que Ele fez por nós na Cruz (1 Co 11.24,25). O Senhor conhece a nós, como também a nossa inclinação ao esquecimento do que Ele fez por nós. Portanto, Ele estabeleceu uma forma de nos manter conscientes do que Ele fez. Os dízimos também servem para este mesmo propósito. A sua relação com a Redenção deve nos manter conscientes de que Deus é o nosso Dono e que somos propriedade Sua.
Assim como a Ceia faz parte de um culto de gratidão e anuncia uma mensagem (a morte do Senhor até que Ele venha – 1 Co 11.26), assim também a entrega dos dízimos celebra a Redenção e testemunha à nossa consciência que pertencemos ao Senhor. É interessante observarmos que a primeira menção dos dízimos na Bíblia aparece justamente num contexto de redenção (Abraão resgatando o seu sobrinho Ló), juntamente com a tipologia da Ceia: Melquisedeque (que recebe os dízimos) veio ao encontro de Abraão, trazendo pão e vinho. Quando temos o Culto de Ceia na igreja que eu pastoreio, deixamos para entregar os nossos dízimos no momento em que participamos da Ceia. Assim como celebramos a Ceia, lembrando o que o Senhor fez por nós na Cruz, assim também celebramos a Redenção ao entregarmos os nossos dízimos.
Quando você entregar os seus dízimos em sua igreja local, faça-o com esta consciência. Uma atitude correta com relação ao que você oferece ao Senhor é um passo vital para você desfrutar das Suas bênçãos!
(Extraído do livro “Honrando ao Senhor Com Nossos Bens”, de Luciano Subirá)