Deus julga em equidade, não em soberania. Ele estabeleceu a sua palavra como parâmetro de justiça e a palavra de Deus é perfeita. Deus julga com equidade porque como legislador e juiz se submete à sua palavra “Inclinar-me-ei para o teu santo templo, e louvarei o teu nome pela tua benignidade, e pela tua verdade; pois engrandeceste a tua palavra acima de todo o teu nome” ( Sl 138:2 ).
Li a seguinte premissa que deriva de uma lógica simplista: ‘Por salvar a alguns, Deus não é obrigado a salvar a todos’, e não pude me abster de tecer um comentário.
Tal premissa foi extraída da seguinte argumentação: “Se a salvação é uma questão de justiça, algo que o homem tem o direito de reivindicar perante Deus, já não é mais graça – favor imerecido. Deus não deve nada a ninguém. Não devemos ficar admirados de Deus não salvar a todos, mas de salvar a alguns…” Rev. Antônio Carlos Costa, pastor da Igreja Presbiteriana da Barra. É ardilosa a lógica desta premissa, pois tem aparência verdade, mas é contrária a equidade de Deus.
O que a bíblia diz?
Deus nada deve a ninguém ( Jó 41:11 ), porém, esta verdade não valida a argumentação acima, visto que em Deus os homens existem, bem como tudo é sustentado por Ele e para Ele ( At 17:28 ; Hb 2:10 ).
Antes mesmo de existir o mundo, Deus se obrigou a conceder vida eterna aos homens, embora nada devesse às suas criaturas “Em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos” ( Tt 1:2 ).
Diferente dos homens, Deus é fiel e verdadeiro, pois vela sobre a sua palavra para cumpri-la, ou seja, Deus se obriga a cumprir a sua palavra apesar de sua soberania ( Jr 1:12 ).
Deus anunciou que Abraão teria um filho proveniente de suas entranhas e que a sua descendência seria incontável como as estrelas do céu e, mesmo a esposa de Abraão sendo estéril, ele creu em Deus e isto lhe foi imputado por justiça ( Gn 15:6 ).
Deus não devia nada a Abraão, mas quando prometeu graciosamente conceder-lhe um herdeiro e uma descendência numerosa, Deus se obrigou a cumprir a sua palavra. Abraão nada deu a Deus que merecesse a promessa, porém, a promessa de Deus jamais voltaria atrás ( Rm 11:29 ).
Além de se obrigar a cumprir a sua palavra ( Hb 6:18 ), Deus não faz acepção de pessoas ( Dt 10:17 ).
O apóstolo Pedro quando viu Deus agraciando os gentios com o dom do Espírito chegou a seguinte conclusão: “Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas…” ( At 10:34 ).
Embora ‘Deus não é obrigado a salvar todos’, Ele se obrigou a salvar todos que creem no nome do seu Filho por dois motivos: a) Ele prometeu vida eterna antes dos tempos eternos, e; b) E não faz acepção de pessoas.
Ao ver os gentios sendo agraciados por Deus, o apóstolo Pedro conclui que: “… mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo” ( At 10:35 ).
Deus aceitou o gentio Abraão porque creu e isto lhe foi imputado por justiça, do mesmo modo Deus se obriga a aceitar qualquer pessoa, de qualquer nação, que O teme e faz o que é justo como o crente Abraão! Nele não há acepção de pessoas, pois Deus não julga com dois pesos e duas medidas.
Embora Deus não tenha recebido primeiramente nada de ninguém ( Jó 41:11 ), contudo, por não fazer acepção de pessoas, Ele se obrigou a salvar todos os homens que tiverem a mesma fé que Abraão ( Gl 3:9 ). Deus não deve nada a ninguém, porém, qualquer crente como Abraão é bem aventurado, isto porque Deus não é devedor ao homem, mas à sua palavra.
Para ser dom gratuito, necessariamente a salvação tem que ser incondicional? Quem estabeleceu que para ser um dom de Deus necessariamente a salvação teria de ser incondicional? A condição é patente: “Ouvi, e a vossa alma viverá” ( Is 55:3 ); “Olhai para mim e sereis salvos” ( Is 45:22 ), e nessa condição não há mérito algum. Qual o mérito em ouvir? Qual o mérito em olhar? Não é este o objetivo da palavra da fé, que os homens obedeça a sua palavra? “E pela fé no seu nome fez o seu nome fortalecer a este que vedes e conheceis; sim, a fé que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde” ( At 3:16 ).
O modelo de predestinação que foi proposto na reforma estabelece que Deus escolheu e predestinou alguns homens a serem salvos, o que demandaria Deus velar do homem para salvá-lo, porém, a promessa divina é diferente, pois Deus vela, não do homem, mas da sua palavra para cumprir: “… Eu velo sobre a minha palavra para cumpri-la” ( Jr 1:12 ).
Deus não decretou salvo quem Ele anteviu, e nem por ser Soberano decretou que alguns homens seriam salvos. Por quê? Porque Deus não faz acepção de pessoas! Para Deus nenhum dos homens é diferente: os gerados segundo a carne de Adão são rejeitados, e os gerados de novo, segundo Cristo, são aceitos.
Por não fazer acepção de pessoas Deus, deseja que todos se salvem “Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” ( 1Tm 2:4 );
Por não fazer acepção de pessoas Deus amou o mundo “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” ( Jo 3:16 );
Por não fazer acepção de pessoas, Deus a todos encerrou debaixo da desobediência de Adão para que Ele pudesse usar de misericórdia com todos através da obediência de Cristo, o último Adão “Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes” ( Gl 3:22 ; Rm 11:32 );
Por não fazer acepção de pessoas, Deus não faz distinção entre os membros do corpo de Cristo “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” ( Gl 3:28 ).
A base da salvação não é a eleição e nem a predestinação, antes é a palavra de Deus. Desde Abel a salvação se dá por intermédio da palavra que concede vida aos homens ( Dt 8:3 ). Assim como Deus, na velha aliança, disse que o homem viverá da palavra da Sua boca, na nova aliança quem dá vida é o pão vivo que desceu do céu “Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido” ( Rm 9:33 ).
Por salvar Abraão porque creu na sua palavra, Deus se obriga a salvar a todos que tenham a mesma confiança que teve o crente Abraão. Deus é justo, e a salvação é uma questão de justiça proveniente de um direito “E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna” ( Mt 19:29 ).
Qualquer que deixar casa, irmãos, irmãs, pai e mãe tem o direito a vida eterna, e a aplicabilidade universal da promessa é o que se denomina equidade “Por isso, o SENHOR esperará, para ter misericórdia de vós; e por isso se levantará, para se compadecer de vós, porque o SENHOR é um Deus de equidade; bem-aventurados todos os que nele esperam” ( Is 30:18 ).
Como Deus é Deus de equidade, somente os que nele esperam são bem-aventurados, ou seja, quem ouve e crê na palavra de Deus “Porque assim diz o Senhor DEUS, o Santo de Israel: Voltando e descansando sereis salvos; no sossego e na confiança estaria a vossa força, mas não quisestes” ( Is 30:15 ). Haveria algum mérito por parte do homem em voltar e descansar? Estar sossegado e confiante é meritório? Não! Estar sossegado e descansado é o exercício da confiança na palavra da fé somente.
O erro que a teologia reformada apresenta sobre os temas eleição e predestinação não leva em conta a equidade de Deus, pois fixa, sem critérios, o tratamento que Deus dispensa para com as suas criaturas. Equidade é justiça e igualdade! Deus faz justiça a todos os homens sem distinção alguma.
Deus julga em equidade, não em soberania. Ele estabeleceu a sua palavra como parâmetro de justiça e a palavra de Deus é perfeita.
Deus julga com equidade porque como legislador e juiz se submete à sua palavra “Inclinar-me-ei para o teu santo templo, e louvarei o teu nome pela tua benignidade, e pela tua verdade; pois engrandeceste a tua palavra acima de todo o teu nome” ( Sl 138:2 ).
Não é de se admirar que Deus salva apenas alguns, antes devemos nos admirar pelo fato de Deus possuir todo poder nos céus e na terra e se resignar a desejar que todos os homens se salvem e, sem violar a sua palavra, salvar somente aqueles que creem na sua palavra. Fico admirado de Deus resistir à sua própria vontade, pois não basta Ele querer que todos se salvem, antes é necessário que venham ao conhecimento da verdade para que Ele possa dignificar-se em salvá-los ( 1Tm 2:4 ), porque onde está o Espírito de Deus, ai há liberdade.
Fico admirado também de que Deus tenha providenciado poderosa salvação a todos os homens “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” ( Tt 2:11 ) e, apesar de ser oniponte, roga, por intermédio dos seus embaixadores, que os homens se reconciliem com Ele “De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus” ( 2Co 5:20 ).
Deus não é obrigado a salvar a todos, mas se obrigou a salvar os crentes pela loucura da pregação “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” ( 1Co 1:21 ). É admirável que Deus se obrigue a salvar a todos que n’Ele crê, sem fazer acepção alguma.
Apontar a soberania de Deus para justificar a afirmação de que Deus salva alguns em detrimento de outros, fere a perfeição de Deus pois, apesar de ser soberano:
Deus não nega a si mesmo ( 2Tm 2:13 );
Deus não pode mentir ( Tg 1:12 );
Deus a ninguém oprime ( Jó 37:23);
A ninguém tenta ( Tg 1:13 );
Deus não aceita suborno ( 2Cr 19:7 );
Deus não faz acepção de pessoas ( 2Cr 19:7 );
Deus não pode deixar de fazer justiça, e ( Lc 18:7 );
Deus não atende pedidos que contrarie a sua natureza ( Ex 32:32 ).
Apesar de ter vontade de salvar todos os homens e ser poderoso para fazê-lo, por ser justo e equânime Deus salvará somente os que O amam “E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos” ( Ex 20:6 ).
Basta aprender o significado de “Misericórdia quero, e não sacrifício” ( Mt 9:13 ), que se compreenderá a palavra que diz: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” ( Ex 33:19 ), pois Deus faz misericórdia aos que tem misericórdia ( Os 6:4 -6).
Por causa da promessa de vida eterna que é anterior aos tempos dos séculos, Deus se obrigou a salvar todos quantos creem ( Tt 1:2 ), pois terá misericórdia dos misericordiosos ( Mt 5:7 ).
Fonte: Estudos Gospel