“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, segundo o mandado de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, esperança nossa.
a Timóteo, meu verdadeiro filho na fé: graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.
Como te roguei, quando partia para a Macedônia, que ficasse em Éfeso, para advertires a alguns que não ensinassem doutrina diversa,
nem se preocupassem com fábulas ou genealogias intermináveis, pois que produzem antes discussões que edificação para com Deus, que se funda na fé.
Mas o fim desta admoestação é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência, e de uma fé não fingida; (I Tim 1.1-5)
Façamos um desagravo da honra dos muitos pastores, que fielmente vivem e pregam o evangelho, de modo sacrificial e abnegado, por amor às almas e para a exclusiva glória do Senhor.
Porque nestes dias conturbados têm refletido a luz de Jesus, não como velas ou planetas, mas como estrelas irradiantes do Seu amor pela humanidade.
A estes descendentes espirituais do apóstolo Paulo, queremos dedicar o comentário da sua primeira epístola pastoral dirigida a Timóteo.
Não há em nenhuma parte do livro de Atos dos Apóstolos o registro histórico de ter o apóstolo Paulo deixado Timóteo em Éfeso, quando ele, Paulo, partia para a Macedônia, conforme ele afirmou no terceiro versículo.
Disto podemos concluir que a escrita desta epístola a Timóteo foi posterior à narrativa contida em Atos, que é encerrada com a primeira prisão de Paulo em Roma.
Esta epístola de I Timóteo, foi escrita por Paulo quando se encontrava em liberdade, antes de sofrer sua segunda prisão em Roma, que culminaria com o seu martírio sob o imperador Nero.
A importância do conhecimento destes dados históricos e geográficos está relacionada ao fato de entendermos melhor o cenário em que esta epístola foi escrita, pois havia decorrido tempo suficiente desde que Paulo havia se despedido dos presbíteros de Éfeso, conforme se vê no relato de Atos 20, para que se cumprisse aquilo que ele havia predito quanto à penetração de lobos vorazes na Igreja dos efésios, que não poupariam o rebanho, e que estes líderes desviados da verdade falariam coisas pervertidas com o intuito de afastarem os discípulos da firmeza deles em Cristo, conforme haviam sido ensinados pelo apóstolo, por apontarem a confiança deles não mais na sã doutrina, mas no evangelho falso e pervertido que eles passaram a lhes ensinar.
“ Eu sei que depois da minha partida entrarão no meio de vós lobos cruéis que não pouparão o rebanho,
e que dentre vós mesmos se levantarão homens, falando coisas perversas para atrair os discípulos após si.” (At 20,29,30).
Contra o que geralmente se imagina, não são heresias grosseiras que estes lobos vorazes costumam introduzir na Igreja, de modo que isto seria muito evidente.
Ao contrário isto é feito de maneira sutil, encoberta e dissimuladamente, porque o fazem vestidos de ovelhas, tal como Jesus alertou à Igreja no Sermão do Monte, contra o perigo dos falsos profetas, chamando-os de lobos devoradores, porque furtam as graças e a vida espiritual do rebanho.
Foi a estes que Pedro também se referiu em sua segunda epístola:
“Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.” (II Pe 2.1).
Enquanto viviam os apóstolos, pela autoridade que receberam de Cristo para porem o fundamento da Sua Igreja, eles podiam reconduzir as coisas que necessitavam ser consertadas, valendo-se desta autoridade apostólica.
E é por isso que apesar desta epístola a Timóteo ser uma carta pessoal, no entanto ela seria lida por muitos em Éfeso, e não é portanto sem razão que seja iniciada por Paulo com a afirmação de quem provinha a autoridade do seu apostolado – de Cristo Jesus, pelo mandado de Deus Pai.
Assim, pôde determinar a Timóteo que repreendesse aqueles que estavam ensinando uma doutrina diferente daquela que havia dado a eles para guardarem e praticarem.
E nenhuma doutrina diferente da única e sã doutrina pode produzir edificação dos cristãos, senão discussões e debates inúteis.
Os cristãos devem ser edificados na fé, isto é, na fé objetiva na verdade revelada por Cristo aos apóstolos, e devem também ser exortados a crescerem na graça e no conhecimento de Jesus, melhorando sempre em graus a sua piedade e santificação.
Sem esta fé no evangelho é impossível haver esta edificação em amor.
Daí a necessidade de serem admoestados tanto aqueles que estavam ensinando doutrinas diferentes, quanto aqueles que estavam se deixando influenciar por tal ensino, de maneira que pudessem retornar a uma fé não fingida, e a terem uma boa consciência, bem instruída pela Palavra de Deus, que são coisas básicas e necessárias para que se possa viver no amor de Cristo.
Pastores não são profissionais da fé, mas irmãos mais experimentados e pais para o rebanho de Cristo, para conduzi-lo em amor, se sentindo um com eles, protegendo-os como um pai faz em relação a seus filhos, estando pronto a dar a sua vida pelo bem deles.
E todos os demais ministérios foram dados por Cristo à Igreja para este mesmo propósito da sua edificação em amor.
São familiares achegados uns aos outros, e diligentemente interessados em promover o bem comum.
Por isso a Igreja Primitiva vivia como um só corpo, que de fato era, tendo tudo em comum.
Daí a exortação que Paulo deu a Timóteo no sentido de que os líderes da Igreja de Éfeso não ensinassem doutrinas diferentes, lembrando-lhe que o objetivo daquela exortação visava ao amor que aqueles líderes e a própria Igreja haviam esquecido, e assim, estavam sendo privados de viver no Espírito e no amor de Cristo.
O amor esfria onde não há esta disposição de se obedecer à verdade.
O fato de lobos devoradores estarem ensinando outra doutrina, vestidos dissimuladamente de ovelhas para enganar o rebanho estava impedindo a manifestação da vida do Senhor entre os cristãos de Éfeso.
Por isso Paulo exortou Timóteo a restaurar o reto ensino que é segundo a sã doutrina, de maneira que o amor de Deus pudesse se manifestar no seio da Igreja.
Jesus sempre afirmou que a vivência do amor de Deus está vinculada à prática efetiva da Sua Palavra. E que é esta a única maneira de permanecer nEle e no Seu amor.
São realidades inseparáveis. Não é possível viver no amor de Deus sem uma verdadeira obediência à verdade, e toda obediência à verdade deve visar prioritariamente a este viver no amor de Deus, porque é este o grande objetivo do evangelho, da salvação que obtivemos em Cristo Jesus.
“Como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu amor.” (João 15.9).
“Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.” (João 15.10).