Tradução e adaptação de citações extraídas do sermão de Charles Haddon Spurgeon, elaboradas pelo Pr Silvio Dutra.
“Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” Amós 3:3.
A expressão, “andar juntos”, é comumente usada nas Escrituras como uma representação de comunhão. “Enoque andou com Deus: e já não era; pois Deus o tomou para si.”
Comunhão, em seu sentido completo, implica em atividade. Não é meramente contemplação, é ação, e, portanto, na medida em que andar é um exercício ativo, e andar com um homem é ter comunhão com Ele, comunhão ativa com Ele, vemos como andar vem a ser a imagem da verdadeira comunhão com Cristo.
Um velho puritano, certa vez disse, “Não dizem que Enoque retornou a Deus e depois O deixou, mas que Ele andou com Deus”.
Através de toda essa jornada, Ele teve Deus como companheiro e viveu em perpétua amizade com seu criador.
Há, também, outra ideia contida no termo “andar junto”. Não é apenas atividade, mas continuidade. Logo, a verdadeira comunhão com Cristo não é um mero êxtase, mas é o trabalho do Espírito Santo, e se é desfrutada pela alma saudável, será algo contínuo.
Isso também leva ao progresso, pois, ao andar junto, nós não levantamos nossos pés e os abaixamos no mesmo lugar, mas seguimos adiante cada vez mais próximos do fim da nossa jornada. E aquele que tem verdadeira comunhão com Cristo progride. É verdade que Cristo pôde seguir em direção à excelência, pois Ele já atingiu a perfeição, mas quanto mais próximo chegarmos dessa perfeição, mais amizade temos com Jesus – e a menos que progridamos, a menos que busquemos ser mais semelhantes a uma criança na fé, mais instruídos em sabedoria e mais aplicados em servir – a menos que busquemos ter mais zelo e fervor, perceberemos que, em tal momento de inércia, perdemos a presença do Mestre, pois é somente seguindo ao Senhor que prosseguimos em andar com Ele. Isso, portanto, irá abrir seus olhos para ver como andar com uma pessoa é uma excelente imagem para comunhão com Ele e como o termo, “andar com Deus”, é a melhor expressão para a amizade com Deus.
Consequentemente, nosso texto implica pela sua própria forma, na ideia de que dois não podem andar juntos a menos que concordem. E isso nos ensina, portanto, que a menos que estejamos em concordância com Cristo, não podemos nos ater ao doce estado de comunhão com Ele.
Nós devemos, antes de mais nada, notar o acordo aqui mencionado. Devemos, em segundo lugar, tentar notar a necessidade desse acordo. E então, em terceiro, devemos convidar todos os Cristãos a buscarem esse acordo com Cristo para que possam ter completa comunhão com Ele.
Eu não estou me dirigindo tanto ao mundo exterior quanto ao interior da Igreja. Quando pregamos o evangelho da Salvação, o pregamos ao mundo. Mas a comunhão é com o Santo dos Santos! A salvação, por si só, parece ser o Santo Lugar, mas a comunhão é o Lugar Interior, que é onde há o véu, e em que ninguém a não ser os cristãos tem permissão para entrar.
I. Primeiro, então, vejamos qual é o acordo que deve existir entre o seu Senhor e você antes que possa andar com Ele. Vamos manter a figura e ver que há certas coisas necessárias para que uma pessoa possa andar com outra.
Primeiro, é certo que se quisermos andar com Cristo, devemos andar no mesmo caminho que Ele. Dois homens não podem caminhar juntos se um segue uma direção e o outro segue o caminho oposto. Se um vai para a direita e o outro para a esquerda, eles não podem andar juntos, embora eles possam alcançar o mesmo fim. Por seguir diferentes estradas, Eles não podem caminhar juntos a não ser que andem juntos na mesma estrada.
É fato que Eles podem conversar mesmo estando a jardas de distância, mas se um caminhar de um do lados da estrada, e o outro em outro lado, pensaríamos que a comunhão entre Eles era um tanto distante e o amor um tanto frio. Mas, quanto mais próximo eles caminharem precisamente na mesma estrada, mais Eles serão capazes de manter amizade um com o outro.
Agora, filho de Deus, embora você não possa ser salvo por suas boas obras, e sua salvação não depende de suas obras, lembre-se do que a sua comunhão depende! É impossível ser amigo de Cristo sem ser obediente a Seus mandamentos. Deixe um Cristão errar e Ele será invadido por muitas aflições. Deixe um filho de Deus abandonar o caminho de Deus, permita-lhe, como, ai de nós, muitas vezes fazemos, pulamos a cerca para o prado do Caminho Errado, e ele não terá seu Senhor para pular com ele a cerca para o prado do Caminho Errado!
Se formos obstinados e escolhermos nosso próprio caminho, devemos ir por ele sozinhos. Se, por algum prazer aparente, ou algum ganho fantasioso, ao invés de seguirmos a Coluna de fogo, seguirmos a vontade incerta dos nossos próprios desejos, teremos que ir sós, e nas trevas, também! Cristo irá conosco em qualquer lugar que o dever nos chamar. Se o dever nos chamar à fornalha de fogo, o Filho do Homem estará lá. Se nos levar ao covil dos leões, Ele fechará as bocas dos leões. Ele não teria ido lá com Daniel, se ele tivesse buscado, por negligência do dever, evitar a destruição ameaçadora. O Senhor não teria ido com Sadraque, Mesaque e Abdenego dentro da chama da fornalha feroz, se Eles tivessem se ajoelhado à imagem, Ele não teria ido com eles. “Se você andar contrário à mim”, diz o Senhor, “Eu andarei contrário a você”.
Aqui eu devo ressaltar o que disse, antes que seja mal compreendido. Não disse que Cristo abandona Seu povo a fim de destruí-lo – mas Ele os deixa de modo a tirar sua comunhão com Ele. Pois, novamente, eu repito que, apesar de a salvação não depender de boas obras, a comunhão possui essa dependência – e não pode ser desfrutada entre Cristo e uma alma que está cheia de pecado. Um homem pode ter muitos pecados contra Ele e ainda assim ser salvo. E muitas vezes a fragilidade e a imperfeição fragmentam-nos. Mas se estivermos vivendo em pecado; se estivermos, de qualquer forma, violando os mandamentos de Deus – o âmbito do nosso pecado será o âmbito da separação entre nossas almas e Cristo.
O pecado pode não nos matar, mas nos fará doentes. Tirará a mão direita de Cristo de cima de nossas cabeças. Tome cuidado, portanto, cristão, em andar nos passos do seu Mestre. Empenhe-se em ser obediente à Sua Lei. Viva de forma justa, sóbria e piedosa em meio à uma torta e perversa geração. Seja como Calebe, que seguiu plenamente ao Senhor. Esforce-se em todas as formas para aprender Sua vontade e então fazê-la. Em todos os caminhos apontados pelo Senhor, prossiga em sua jornada. Lembre-se de todas as Suas ordenanças, e pratique todos os Seus preceitos. Não seja o cavalo ou a mula que não tem nenhum entendimento, cuja boca deve ser presa com freios e rédeas para que não chegue próximo a você – mas seja guiado pelo próprio olho do Senhor. Corra no caminhos de Seus mandamentos e encontrará uma estrada de alegria! Esse é o primeiro ponto – aqueles que andam juntos têm que ir pelo mesmo caminho.
Além disso, ao ir pela mesma direção, Eles têm que ir pelo mesmo motivo. Duas pessoas podem estar indo no mesmo caminho, mas suponha-se que estejam indo por razões opostas? Há um advogado andando lado a lado com um homem que vai assaltá-lo. Deixe o pobre homem saber que vai ser roubado no fim da jornada e não haverá nenhuma comunhão entre os dois! Suponha que Eles lutarão entre si – não haverá comunhão alguma entre Eles. Imagine os dois indo à mesma eleição, pretendendo votar em candidatos opostos – Eles não estarão propensos a manter um diálogo amigável um com o outro, apesar de estarem indo no mesmo sentido. Então, é necessário que não devamos ir apenas pela mesma estrada, mas com o mesmo motivo.
Talvez você possa perguntar: “É possível que eu vá com Cristo pela mesma estrada, mas ainda assim não com o mesmo motivo?”. Certamente, é. Pense num homem que aparenta ser tão santo como um cristão. Ele parece ser tão obediente ao Senhor como alguém que realmente O segue. Nas cerimônias, ele é o primeiro a observá-las. Nas ações de moralidade, ele as atende da forma mais escrupulosa. Mas pergunte-lhe o porquê de fazer tudo isso, e ele responde que é porque deseja salvar sua alma através disso. Imediatamente, ele e Cristo estão em desacordo! Cristo compara tal pessoa a um anticristo e eles são inimigos jurados. Você está tentando salvar a si próprio? Então, você quer ser um salvador, enquanto Cristo é o Salvador? Então você e Ele estão em inimizade! Mas se você está viajando na estrada para ser salvo pela graça, desejando manifestar sua gratidão com seus lábios e em sua vida, então você não deseja roubar a função de Rei ou Sacerdote de Cristo de qualquer dignidade. Você não deseja se colocar como outro rei em Sião. Mas se você está andando nessa estrada com uma causa contrária à de Cristo, você não pode manter comunhão com Ele.
Há muita abençoada comunhão com Cristo a ser desfrutada no Banquete do Senhor, mas se alguém vem à Sua mesa meramente com o pensamento de que isso o tornará bom e salvará sua alma, não existe comunhão com Cristo para Ele porque esse não é o objetivo de Cristo. E ocorre o mesmo com o batismo. Essa ordenança é um abençoado meio de comunhão com Cristo em Sua morte e sepultamento, mas se alguém deseja ser batizado, supondo que a observância da ordenança salvará sua alma, então não há comunhão alguma! Se alguém atribui mais valor ao ato (de se batizar) do que Cristo ordenou e, portanto, faz dEle um dever a cumprirmos – o momento em que o homem supõe alguma eficácia na água e no corpo sendo submergido nesse lugar – então a comunhão cessa, pois a menos que venhamos a algo com a causa de Cristo, ou com uma razão que é agradável ao Seu coração, não somos capazes de caminhar com Ele. Dois não podem andar juntos a menos que estejam em concordância, não somente na direção em que andam, mas também no objetivo por que andam nessa direção.
Novamente, duas pessoas podem andar na mesma estrada, elas podem andar com o mesmo propósito e ainda assim não serem capazes de se comunicarem a menos que andem no mesmo ritmo. Se uma pessoa viajar muito rápido, e outra que vive na mesma casa, ir para casa rastejando muito lentamente, talvez elas passem pelas mesmas ruas, contudo não dirão nada uma para a outra porque uma estará em casa bem antes da outra. Então devemos concordar no passo em que viajamos. Por que é que muitos cristãos não possuem amizade alguma com Jesus? É porque Eles viajam para o Céu tão devagar que o Senhor Jesus os deixa para trás! Eles são tão desinteressados, tão frios, tão indiferentes – têm tão pouco zelo, tão pouco amor – têm tão pouco desejo em glorificar a Deus que o coração veloz de Jesus não pode se conter para permanecer com eles.
“Oh” – alguém diz – “eu viajo o mais rápido que eu posso, mas eu só sou uma fraca criatura! Eu geralmente vou devagar quando vejo os outros correndo e, quando eu corro, eu vejo os outros voando”. Amados, Cristo não mede sua caminhada pela velocidade com que você vai. Se o seu desejo é sem interesse, o Senhor Jesus o deixará e viajará na sua frente – e você provavelmente irá sentir o chicote da aflição atrás de você incomodando sua alma para viajar mais rápido! John Bunyan tem um bom exemplo. Ele diz, “Se você enviar um servo para encontrar remédios e Ele for o mais rápido que puder, talvez ele conduza um cavalo ruim que não pode fazê-lo ir mais rápido. Mas se o mestre não medir o passo pelo ritmo em que o cavalo vai, mas por aquele que o servo quer que o cavalo vá, ele dirá: aquele homem iria mais rápido se tivesse um cavalo melhor, e já estaria de volta com os medicamentos.”
Também é assim com nossa pobre carne e sangue. É um ritmo de aflição em que não podemos ir montados sem algo tão triste de ser conduzido – mas o Senhor Jesus mede nosso andar, não pela verdadeira distância percorrida, mas pelos nossos desejos!
Quando Ele nos vê esforçando e estimulando, como se fosse, em oração, puxando a rédea, e trabalhando para tornar nossa pobre carne e sangue em algo elevado com devoção e zelo, Ele aceita a vontade pela ação e continua nos acompanhando, mesmo conosco que somos tão pobres discípulos. Mas deixe nossos desejos serem frios, nos tornarmos preguiçosos, não fazemos nada por Cristo – que maravilhoso se o Senhor Jesus disser: “esse homem não observa às minhas Palavras e não pratica o que eu digo. Eu não vou cear com ele e nem Ele comigo. Eu vou dar conforto suficiente para mantê-lo vivo. Eu lhe darei alimento espiritual suficiente para salvar sua alma da verdadeira fome, mas o porei numa dieta pobre até que ele torne a Mim com pleno propósito de coração. E então o trarei para perto de Mim e lhe mostrarei Meu amor.”
Há mais uma coisa. Imagine duas pessoas viajando em uma mesma estrada, com as mesmas intenções e na mesma passada, mas se ainda assim, não andam juntas para manter amizade uma com a outra porque não gostam uma da outra. Onde não há amor (e que, talvez, seja o sentido completo do texto), não pode haver comunhão. A não ser que dois concordem com o coração, Eles não podem andar juntos. Você conhece alguns dos nossos excelentes amigos hiper-calvinistas. Agora, suponha que um Deles se depare com um arminiano – não se pode pensar por um instante que haverá um diálogo entre os dois sem que um irrite e abuse do outro. Suponha que um bom irmão Batista estrito fale conosco, que temos princípios mais amplos.
Ele nos combaterá com armas pesadas e nos restringirão por nos conduzir ao pecado ao pecado de não estar em comunhão, tanto quanto deveríamos, todos que amam o Senhor Jesus Cristo e dar as boas vindas à mesa do Senhor a todos os que cremos que o Senhor aceitou. Mas, até onde a comunhão é exigida, o nosso irmão seria obrigado a ir para o outro lado da estrada. Deve haver, ele acha, uma pequena distinção e uma pequena diferença mantidas, para a honra de sua própria visão. E sabemos que há alguns irmãos que possuem uma peculiar grosseria de temperamento – eles parecem estar cobertos com cardos e espinhos afiados para furar e incomodar qualquer pessoa que apareça em seu caminho. Você não pode ter comunhão com eles. É impossível andar na mesma estrada com eles – para você seria melhor manter a paz de qualquer forma porque eles dariam má interpretação ao que você diz. É preciso que haja um acordo no coração, um acordo na opinião, de outra forma dois não podem andar juntos.
Oh, cristão, você tem concordância de coração com o Senhor Jesus? Você ama a Cristo e você O considera como algo bom? Você já buscou exaltar e falar bem de Seu nome? Você o considera o chefe de dez mil e totalmente desejável? Acha que Ele também tem uma opinião a seu respeito? Ele já te disse, “você é completamente justo; não há mancha em você”? Ele já falou palavras suaves ao seu coração que te fizeram pensar que Seu coração compassivo te conquistou? Ah, então, a comunhão é fácil entre você e seu Senhor, pois duas almas estão ligadas ao mesmo feixe de vida, e, portanto, é possível para você e Cristo caminharem juntos! Você e Ele têm a mesma opinião?
As palavras de Cristo são sua doutrina? Você já foi ensinado a desistir de toda divindade que não venha de Cristo? Você pode dizer dEle, “Ele é meu único Mestre, meu único Professor na Lei e no Evangelho. Aos pés dele, como fez Maria, eu poderia sentar e receber essas palavras e crer que tudo que Ele proferiu é a Verdade de Deus”? Se sim, a comunhão entre você e Cristo é fácil, pois, quando dois concordam em pensamento, intenção, direção e afeição, podem andar juntos.
II. O segundo ponto deveria ser A NECESSIDADE DO ACORDO.
Primeiro, Cristo não andará conosco a menos que estejamos em concordância com Ele por que se Ele o fizesse, seria um insulto à Sua própria honra. Não, mais que isso, seria uma negação de Sua própria Natureza! Cristo concordaria com o maligno? Deveria Ele fazer-se mais livre e comunicativo com aqueles que se entregam aos desejos da carne e desobedecem Seus mandamentos? Seria um desgosto se o Filho do Rei andasse de braço dado com traidores! Não deveríamos ver como um bom sinal se víssemos o mais exaltado na terra andando com o mais rebaixado. Cristo mantém boa companhia, mas se não tivermos nossos corações purificados pelo Espírito Santo, Ele absolutamente não virá a nós. Ele não permanecerá nem mesmo com Seus próprios filhos, enquanto Eles abrigarem o pecado.
Convide o diabo para a sala de estar do seu coração, e Cristo não virá. Não, seria uma diminuição de Sua própria dignidade, um insulto ao Seu próprio caráter. Entregue o seu coração ao vício de algum desejo ambicioso, e então não poderá insultar o Salvador convidando-O para vir a você. Em nossas casas não convidamos duas pessoas que estão em inimizade, e não seria bem isso se Cristo viesse onde o pecado está reinando, ou sendo mimado, ou satisfeito? Não, irmãos e irmãs, Ele sabe que há pecado no melhor coração humano, mas, à medida que Ele é reprimido e conforme Ele vê que nosso desejo é o de nos desfazermos do pecado, Ele virá. Mas quando Ele vê o pecado sendo estimado e alimentado no lugar que deveria ser Seu próprio palácio; quando Ele vê orgulho e auto-segurança abrigados lá, Ele diz: “não retornarei até que eles tenham se arrependido de seus pecados.”
Existe outra razão pela qual você não pode ter comunhão com Cristo a menos que esteja em acordo com Ele, e é porque você mesmos são incapazes disso. A não ser que sua alma esteja em concordância com Cristo. A menos que, em motivo, objetivo e vontade, você esteja, da forma mais possível, como seu Mestre, você não pode se elevar à dignidade de amizade com Ele! Amizade com Cristo é um grande privilégio – nenhum homem pode alcançá-la enquanto satisfizer propósitos maus, ou desejos baixos. O coração deve ser assimilado à semelhança de Cristo. Deve ser purificado e renovado pelo Espírito Santo, ou Ele perde suas asas e fica incapacitado de subir aos lugares altos da terra onde Cristo mostra a Seu povo o Seu amor.
Cristo não pode e não irá manter doce amizade com Seu povo a menos que estejam em harmonia com Ele. Se os cristãos se desviassem do caminho de Cristo e decaíssem de seus caminhos – e Cristo ainda lhes satisfizesse com festas de amor – eles não perceberiam seus pecados e continuariam neles. Deixe um pai tolerar o filho desviado com toda a ostentação de sua afeição. Deixe-o pôr de lado a correção. Deixe-o nunca usar uma palavra severa, mas tratar o pecador com o mesmo amor para com outro que é respeitador e obediente – como esperar que o filho abandone seus erros?
Se Cristo desse o mesmo amor, as mesmas bênçãos no pecado e depois do pecado, como Ele dá no cumprimento do dever, Seu povo dificilmente reconheceria seus pecados e iria continuar neles. Mas da mesma forma que o Senhor se agrada em causar dor pelos sintomas de doença, assim como uma dor no corpo torna-se um indicador de algo errado conosco, Ele faz da ausência da sua própria amizade o sintoma pelo qual podemos saber que há algo errado com a nossa alma que é hostil a Ele – algo que precisa ser expulso antes que a santa Pomba venha, com asas de conforto, para habitar nos nossos corações. “Podem dois caminhar juntos, sem concordância?”. Não. Isso é impossível.
III. Agora, em terceiro lugar, Eu gostaria de convencer todos os cristãos a buscarem esse acordo com Cristo.
Amados, para que vocês possam estar em acordo com Cristo, devo primeiro lhes lembrar que a perpétua habitação do Espírito Santo deve estar com vocês. A menos que o mesmo Espírito que habita em Cristo habite em vocês, seu acordo não poderá jamais alcançar uma altura de forma a admitir profundidade ou proximidade de união. Tenham cuidado em continuamente buscar a unção que vem do alto, na habitação do Santo de Israel! Na medida em que seu coração for revestido pela influência Divina e batizado pelo santo fogo do Espírito – nessa proporção sua alma estará em concordância com Cristo e sua união será verdadeira, íntima e permanente. Tenham cuidado nisso.
E então, prosseguindo, sob essa Divina influência, observe bem todos os seus motivos. Não procure ter algum objetivo para conseguir glória para si próprio, ou honra para os seus companheiros. Cuide para que tudo que você fizer, seja feito com uma única visão da honra de seu Mestre, pois, a não ser que Sua visão seja única, seu corpo será cheio de trevas. Se você verá o brilho da face de seu Senhor, você deve buscar a glória dEle e somente dEle.
Então, se você vai ter união com Cristo, tome cuidado, por conseguinte, em fazer tudo em dependência dEle, pois se, nos afazeres da sua alma, você trabalhar para si próprio, Cristo estará em inimizade com você. Não busque somente voltar-se para a Ele por direção, mas também por ajuda. E olhe para Ele em suas orações, em sua pregação, no seu ouvir e em tudo, pois então Cristo e sua alma concordarão e você terá amizade com Ele.
E, por último, esteja continuamente querendo mais santidade. Nunca se contente com o que você é. Busque crescimento. Busque ser mais e mais como Cristo! E então, quando esse desejo por santidade for o mais forte, você terá o mesmo desejo que Cristo, pois o desejo dEle é que você seja santo, assim como Ele é. E seu mandamento é, “seja, portanto, perfeito, como seu Pai que está nos Céus é perfeito.” E quando seus desejos forem os de Cristo, então será possível andar com Ele, mas não até então!
Eu desejo ter uma igreja em completo acordo com o Senhor Jesus Cristo, pois essa seria uma igreja contra a qual as portas do inferno não prevaleceriam! Se uma igreja é meramente fundada por um homem, o homem irá morrer e a igreja perecerá.
Se uma doutrina é apenas ensinada por um homem e você a receber em sua própria autoridade, a autoridade dele passará como todas as coisas terrenas. Mas, se for de Deus, ai de quem combatê-la, porque nunca poderão prevalecer contra Ele! Ai daquele que se lançar contra essa pedra, pois será feito em pedaços! E se for rolada sobre ele, o reduzirá a pó! Sejamos claros que uma igreja deve ser uma igreja de Deus em suas doutrinas, em suas ordenanças, em oração e louvor – e nós devemos saber que ela deve ser como a rocha que lemos em Daniel, “cortada do monte sem auxílio das mãos.” Ninguém será capaz de quebrá-la, mas ela fará todos os seus opositores em pedaços e encherá a terra!
Agora há alguns amigos que estão prestes a andar com Cristo rumo ao batistério. Podem dois andar juntos a menos que concordem? Você pode entrar nesse tanque, mas não pode trazer Cristo com você a menos que esteja em acordo com Ele. Se você vier sem acordo com Cristo, estará cometendo um grande erro a respeito disso em sua vida, ou então não andará mais com Ele e estará ofendido com Ele.
Lembrem, irmãos e irmãs, a menos que dois corações estejam em concordância, a menos que Cristo e seu coração sejam feitos um, vocês terminarão a amizade um com outro antes do tempo! Cristo não mais ficará em paz com você, nem você estará em paz com Cristo. Sua profissão de fé não terá duração, afinal, a menos que seja verdadeira e real – a expressão do íntimo do coração. Eu oro para que sua profissão possa ser sincera hoje, que você possa testificar ao mundo um verdadeiro e completo Salvador de acordo com seu Senhor e Mestre.
E se você não estiver em acordo com Cristo, eu te faço uma súplica, que apesar de ter ido tão longe, não vá mais longe! Não entre nesse tanque de batismo até que você verdadeiramente esteja em concordância com Cristo! Eu te ordeno, em nome do Deus vivo, que assim como você terá que permanecer perante Seu tribunal no fim, não seja hipócrita! Seja sincero, pois, se você se entregar de forma não completa a Cristo, você está fazendo como aqueles que vêm indignamente à Ceia do Senhor – que comem e bebem condenação para suas próprias almas – porque aquele que é mergulhado no tanque batismal como um hipócrita, é imerso na sua própria condenação!
Mas, humildes seguidores de Jesus, vocês têm nos testificado sua amizade na fé! Não tenham medo, agora, de confessá-la diante dos homens – e que Deus possa confirmar seus nomes, afinal, entre os seguidores do Cordeiro, pela causa de Seu querido Filho! Amém.