Na carta aos romanos, está escrito: “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12.2).
Em outras palavras, o apóstolo Paulo estava querendo dizer: “Não sigam as regras deste mundo, não ajam de acordo com os ditames desta sociedade corrupta, sejam agentes modificadores dela. Sejam influenciadores e não influenciados!”
Há algum tempo ouvi uma história. Talvez uma daquelas histórias que nos fazem refletir sobre nossas atitudes. Vou compartilhá-la com você.
Todas as noites, uma criança orava fazendo a Deus o seguinte pedido: “Deus, desejo que você transforme o mundo”. Os olhos do pequeno menino não aguentavam mais contemplar tanta violência, miséria e medo. Seu coração clamava por mudanças.
O mesmo pedido continuou a ser feito durante muitos anos. À medida que a criança crescia, o pedido mudava. O garoto percebeu que mudar o mundo era muito complicado. Talvez Deus estivesse ocupado com coisas mais importantes, pensou ele. Então, passou a limitar seu pedido: ”Deus, desejo que você transforme meu país”.
Os anos se passaram, e o menino, agora mais velho e desiludido, pedia: “Deus, desejo que você transforme minha cidade”. O pedido foi se tornando cada vez mais específico: “…meu bairro, minha rua, minha casa”. Depois de muitos anos, o pequeno garoto tornara-se um homem velho e cansado, porém seu coração ainda estava esperançoso. Vendo, porém, que nada havia mudado, ele fez uma última oração: “Deus, desejo que você transforme primeiramente a mim!”
Essa pequena história ilustra de modo prático o que Paulo disse aos romanos. Não adianta mudar o mundo. É preciso mudar as pessoas. É preciso mudar as atitudes, e não se conformar com este mundo.
As palavras de Paulo são o carro chefe do combate ao “evangelho egocêntrico”.
O “evangelho egocêntrico”, empregado aqui, é o antônimo de “evangelho Cristocêntrico”. Quando uma pessoa se utiliza do evangelho esperando alcançar somente bênçãos para si, está caminhando na contramão das palavras de Jesus, de anunciar o evangelho a toda criatura (Marcos 16.15).
Muitos cristãos estão se conformando com o mundo. Esqueceram-se de sua missão. Estão tão à vontade com os ditames da sociedade que só pensam em si mesmos, deixando para trás a pregação da Verdade de Cristo. Estão vivendo um evangelho em causa própria, unicamente para suprir suas necessidades pessoais.
Deus não é um mero facilitador das coisas, nem tampouco está conosco para atender nossas vontades pessoais. O evangelho de Cristo não serve para nos colocar em uma situação confortável. Nosso foco deve ser anunciar a Palavra da Salvação. Uma Igreja deve ter como principal objetivo a visão missionária e não a satisfação pessoal de seus membros. Não permita que o evangelho egocêntrico tome conta da sua comunhão com o Pai.
O evangelho de Cristo fala de uma mudança pessoal. Não se refere a fatores externos. Não espere que o mundo esteja em total harmonia para agir corretamente. Mesmo que os valores da sociedade estejam deturpados, em desacordo com os preceitos bíblicos, os filhos de Deus devem refletir sua divina vontade, agindo com amor e compaixão e não se rendendo ao mundo, tentando adequar-se a ele.
O grande problema de acomodar-se ao mundo é a permissividade que isso traz. Acabamos aceitando práticas e costumes dentro de nossos lares e dentro das igrejas que antes eram fortemente combatidos. Permissividade é permitir em nossas vidas algo que sabemos que está errado. É ser tolerante com algo que sabemos não agradar a Deus. O crente permissivo ou tolerante esquece o padrão do Senhor para determinadas atitudes e se acostuma com suas debilidades. Acaba por ficar cego, não percebendo o que faz, pois para ele tudo está correto.
Em Apocalipse 2.18-20, lemos: “E ao anjo da igreja de Tiatira escreve: Isto diz o Filho de Deus, que tem seus olhos como chama de fogo, e os pés semelhantes ao latão reluzente: eu conheço as tuas obras, e o teu amor, e o teu serviço, e a tua fé, e a tua paciência, e que as tuas últimas obras são mais do que as primeiras. Mas tenho contra ti que toleras Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que se prostituam e comam dos sacrifícios da idolatria”
Quem tolera, ainda admite o pecado. Ou pior, considera-o uma prática lícita aos olhos de Deus. Quando somos tolerantes e nos acostumamos com nossos pecados, começamos a dar mau exemplo. As más atitudes viram uma reação em cadeia, pois começamos a tolerar o pecado não só em nossas vidas, mas também na vida dos outros irmãos em Cristo, pois se você o condena, condena a si mesmo.
Já ouvi algumas pessoas adeptas a essa modalidade de evangelho falarem: “Deus não se importa com meus hábitos, ou com o modo como me visto. Ele não liga pra isso, ele só olha o coração”.
A concepção de que Deus “só olha o coração” pode ser um instrumento usado pelo inimigo para afastar muitas pessoas da presença do Pai. Em um sentido espiritual, nosso coração exerce uma função primordial. É justamente por Deus “olhar o coração” que as atitudes e os comportamentos exteriores são tão importantes.
Nosso corpo fala e se expressa de acordo com nossos sentimentos, de acordo com o estado emocional e espiritual em que estamos. Falar que Deus não liga para nosso exterior, não liga para o modo que nos apresentamos à sociedade é aceitar a teologia da permissividade, em que pequenas coisas passam a fazer parte do cotidiano do cristão. É um caminho, uma pequena brecha que o inimigo usa para roubar nossa intimidade com o Pai.
O Senhor concedeu ao homem liberdade de escolha. Infelizmente, o sentimento de liberdade exacerbada tem levado aos lares cristãos verdadeira degeneração, tendo, por conseguinte, reflexos na igreja, que é constituída de famílias, o grande núcleo celular em que Deus age.
Desse modo, os princípios bíblicos são vistos sob o prisma da relatividade, em que tudo é maleável e adaptável a novas situações, oriundas da “evolução” da sociedade (comportamento e linguagem, principalmente).
Quando tudo se torna relativo, não há princípios prontos e acabados, mas construídos diariamente a partir das experiências pessoais. E isso é preocupante e muito perigoso. O homem está tentando reescrever os preceitos divinos e adaptá-los consoante seus próprios interesses.
O Senhor é um Deus de misericórdia e amor, porém não é complacente com o pecado. Ele não aceitou o pecado antes e não o aceita agora. Sua Palavra é imutável. O grande erro do homem é pensar que Deus se adapta às necessidades humanas no decorrer da história.
Deus não muda seus preceitos de acordo com as mudanças sociais ou com a modernidade do homem. O que era pecado ontem, continua sendo pecado hoje e ainda continuará sendo até o final dos tempos.
A inobservância dos princípios divinos leva o homem ao caos moral, perceptível em nossos dias em que filhos se revoltam contra seus pais, chegando até a agressão física, estágio em que as ofensas verbais são constantes. Não há temor, somente indiferença à voz de Deus.
A salvação do homem depende somente da sua disposição em receber a graça de Deus. Entenda que Deus nos concedeu o livre arbítrio para que tenhamos responsabilidade. Somos os próprios responsáveis pelas nossas atitudes, pois a liberdade pressupõe esse encargo.
Por: Renato Collyer
Fonte: IRCVB