“Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos”. 1 Jo 4:9
A parte final da parábola do filho pródigo contém uma pergunta intrigante e, no mínimo, digna de reflexão. O filho que não exigiu seus bens, que não os gastou insensatamente e que ficou ao lado de seu pai em todos os momentos, inclusive no difícil ocasionado por uma traumática despedida, toma conhecimento do retorno do pródigo irmão e lança uma pergunta capaz de nos fazer parar qualquer coisa e vasculhar uma resposta plausível. Não é um pouco difícil de entender o posicionamento daquele pai e o seu tratamento para com os dois filhos? Por que o filho mesquinho e egocêntrico teve tal tratamento? Que lógica é essa?
A surpresa que envolve essa pergunta começa se desfazer quando entendemos pelo menos duas coisas que envolvem essa parábola: a quem Jesus a estava propondo e que ensinamentos ele estava transmitindo com ela. Os primeiros versículos dizem que fariseus, escribas, publicanos e pecadores estavam ouvindo Jesus. De um lado, a religiosidade, a autojustiça, a soberba e a separação; do outro, pecadores marginalizados, esquecidos e condenados pelo padrão religioso da época. Para essas duas classes de pessoas, Jesus tinha algo a dizer.
O que aconteceria se o anel, as novas vestes, as sandálias e a grandiosa festa fossem entregues ao filho que não cometeu o grande erro? Essa atitude seria um culto às boas obras e à autojustiça. O amor gratuito do pai que recebe o filho arrependido e perdido, sua maravilhosa compaixão e poder de restauração seriam esquecidos. Se esse fosse o desfecho, teríamos fariseus e escribas ainda mais confiantes em si e publicanos e pecadores já resignados quanto à sua condenação e separação. Mas não foi isso que Jesus quis ensinar.
Nessa parábola, Jesus destila graça e nos apresenta Deus se importando com o pecador, com o perdido. Ele joga por terra qualquer possibilidade de Seu amor por nós ser proporcional à nossas boas obras, às nossas virtudes. O homem tentando se achegar a Deus por suas obras falhou desde a queda de adão até ali. Agora está tudo centralizado no amor de Deus por nós. Esse amor que enviou a Jesus para nossa salvação, que nos encontrou ainda mortos em nossos pecados, sim, esse amor é a fonte de nossa vida com Ele. E as nossas obras? “Não vem delas, para que ninguém se glorie”. Como aquele pai e o filho pródigo, Deus nos atrai a ele novamente sem exigir uma explicação sequer pelo nosso terrível passado, nos restaura à nossa posição de filhos e entrega-nos uma recepção digna de rei. “Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende”. Mas isso tudo começou em nós? Não. “Ele nos amou primeiro”.
Nessa parábola está sintetizado o que é o Evangelho, as boas novas de salvação. O perdido é achado, o morto recebe vida, o que estava caído é restaurado; onde havia choro há alegria, onde havia condenação há salvação, onde havia separação há uma comunhão inquebrável, inviolável e imutável baseada em Cristo e no que ele fez. Nada além disso. Em suma, é Deus conosco. “O povo que andava em trevas viu uma grande luz e sobre os que habitavam na região da sombra e da morte sobre eles raiou a luz”. Por quê? “Porque um Menino nos nasceu e um Filho se nos deu”.
Costumamos tropeçar, principalmente em momentos de dificuldades, porque nos esquecemos dos fundamentos que Cristo nos deixou em sua palavra. Como fomos salvos é apenas um deles. Existem outras maravilhosas garantias que devem estar solidificadas em nós. É minha oração – e eu sempre escrevo isso aqui – que Deus nos faça cada vez mais compreender as verdades da sua palavra para que tenhamos um relacionamento com ele cada vez mais firme e saudável. Um relacionamento inteiramente baseado em Cristo. Que o Espírito Santo encontre lugar em nós para nos comunicar tudo o que somos e o que o Pai é. Na próxima eu continuo, querendo Deus, nesse texto para comentar sobre o arrependimento do filho, que é também um ensinamento que Jesus enfatizou nessa parábola e em todo seu ministério.
“Te amo, Senhor, não com o meu amor,
Pois nada tenho para dar;
Te amo, Senhor; mas todo o amor vem de Ti,
Pois eu vivo pelo Teu amor.
Nada sou, e me alegro em ser
esvaziado, perdido, e consumido em Ti”.