“E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga. E, se teu pé te faz tropeçar, corta-o; é melhor entrares na vida aleijado do que, tendo os dois pés, seres lançado no inferno onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga. E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é melhor entrares no reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois seres lançado no inferno, onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.” (Marcos 9.43-48)
Com este ensino, nosso Senhor Jesus Cristo enfatizou a vital importância da salvação da alma, pela demonstração que caso fosse necessário para obtê-la, deveríamos amputar partes importantes do nosso corpo físico, que por suposição, fossem a causa de nos manterem aprisionados ao pecado.
É evidente que Ele não está recomendando uma prática de mutilações literais, porque nos é ordenado também por Deus o cuidado com a preservação do nosso corpo físico.
Mas, para ilustrar que em não raros casos, a salvação será obtida por renúncias a práticas pecaminosas, que serão dolorosas para nós, e muitas vezes, que até mesmo colocarão em risco a nossa integridade física – quantos não foram e que têm ainda sido martirizados por conta da fé que abraçaram, ainda que não tivessem tropeçado, dando causa a isto – todavia, sofreram com paciência e voluntariamente o martírio sabendo que havia uma vida muito melhor e eterna lhes aguardando, a qual, na verdade, já estavam experimentando desde que se converteram a Cristo.
O ensino de nosso Senhor alude à mortificação do pecado, que deve ser feita por todos os cristãos. Este é um dever que deverão operar para a sua santificação, pelo corte de afeições pecaminosas e todo o tipo de inclinações carnais que os levem a pecar. Os que se entregam a este trabalho evidenciam em si mesmos que entraram no reino de Deus, e por conseguinte, jamais serão lançados no inferno eterno.
A ilustração da amputação dos membros indica portanto que o trabalho de mortificação do pecado não é algo nocional, ou de mero caráter intelectual, mas algo que será realizado em nossa própria vida, atingindo o âmago do nosso ser, pelo despojamento do velho homem, da natureza terrena decaída no pecado que foi crucificada juntamente com Cristo, recebendo a necessária sentença de morte para que possamos viver em novidade de vida.
Nosso Senhor não fez portanto, uma aplicação relativa a um suposto castigo de pecados cometidos, mas uma alusão à remoção necessária do pecado, para que possamos entrar no reino de Deus.
Assim, as concupiscências que combatem contra a alma devem ser removidas.
Esta amputação de caráter espiritual não é para morte, assim como na ilustração apresentada por nosso Senhor não foi indicada a amputação de qualquer órgão vital. É uma remoção para vida e não para morte. Assim como quem amputa um órgão gangrenado para continuar vivendo, neste caso apresentado a retirada das inclinações e dos hábitos pecaminosos visam mais do que permitir que continuemos vivendo esta vida natural, senão que obtenhamos a vida espiritual eterna.
Outra parte importante do ensino de Jesus é o de que a alma embora esteja morta com suas partes gangrenadas pelo pecado, ela pode ainda ser recuperada, desde que nos apresentemos a Ele para a realização deste trabalho de remoção daquelas coisas que são para nós a causa do nosso tropeço, e que impedem a nossa entrada no reino de Deus.
Assim, aqueles que carregam este corpo de morte do pecado em sua jornada terrena, mas do qual vão se despojando ao longo de sua caminhada, haverão de ter a sua entrada no reino de Deus, amplamente suprida.