No mês de julho de 2003, o meu filho Israel, na época com cinco anos de idade, nos deu a alegria de demonstrar que ele havia entendido a lei bíblica do dar e receber. Havíamos começado naqueles dias a dar alguns trocados a ele com a intenção de ensiná-lo a poupar o seu dinheiro. Até então nunca havíamos lhe dado dinheiro, só os presentes e as coisas que ele pedia ou precisava, mas achamos que já era hora do aprendizado. Ele ficou tão empolgado com o seu estojinho cheio de moedas que acabou decidindo levá-lo consigo à igreja, ao invés de levar algum brinquedo. Eu estava pregando fora neste domingo e não assisti à cena. Foi a minha esposa que me contou o ocorrido por telefone, mesmo antes de eu chegar em casa.
Quando o culto estava para começar, o Israel se aproximou da mãe e foi logo pedindo a costumeira oferta que ele tanto gostava de entregar ao Senhor. Contudo, reparando no estojinho de moedas que ele trazia em sua mão, a Kelly achou que também era hora de ensinar-lhe um outro princípio, e disse-lhe que desta vez ela não lhe daria dinheiro para ofertar. Ela lhe explicou que agora, diferentemente de todas as outras vezes, ele tinha o seu próprio dinheiro, e era tempo de ele aprender a dar a Deus do seu próprio dinheiro. O menino retrucou na hora: “Mas mãe, se eu der do meu dinheiro, eu vou ficar com menos!” Então, sabiamente, a minha esposa lhe explicou como Deus é a Pessoa mais importante das nossas vidas, a importância de agradá-Lo, a gratidão que devemos manifestar de tantas formas (inclusive com as nossas ofertas) e jogou a “batata-quente” nas mãos dele. Ela também lhe disse que se ele quisesse ofertar naquele dia, seria do dinheiro dele, mas que ela não o forçaria a nada! Seria ele que decidiria se ele daria ou não!
No momento das ofertas, ele foi sozinho à frente, enquanto a sua mãe atuava na equipe do louvor, e, de longe, ele lhe mostrou o dinheiro em sua mão, como quem diz: “Resolvi dar, mamãe!” E estava todo contente! No final do culto, a Kelly o abraçou e alegremente disse-lhe: “A mamãe está muito feliz por você ter decidido ofertar do seu dinheiro a Deus. Isto que você fez hoje é uma coisa muito importante!” Sem pestanejar, ele rebateu na hora: “Mas mãe, veja bem, eu sou esperto! Eu sei que Deus vai me abençoar!” E emendou a pergunta: “Quando Deus me abençoar, como vai acontecer? Vai cair dinheiro do céu, vai para o banco, como é que é?” A minha esposa lhe explicou que, normalmente, o Senhor usa pessoas para nos abençoar, que o dinheiro não cai do céu, e que a bênção não é só recebermos dinheiro de volta. Ele disse que havia entendido e afirmou que tinha certeza que Deus o abençoaria. E afirmou: “Já que Deus vai me abençoar, mãe, eu já pedi um tênis novo para Ele. Eu já falei até a cor que eu quero.”
A Kelly me contou tudo pelo telefone, e oramos que Deus usasse este momento para ensinar-lhe este princípio bíblico. Dois dias depois, na terça-feira, a Teresinha, uma irmã da nossa igreja, telefonou à Kelly, perguntando o número que o Israel calçava, e disse que estava com uma vontade muito grande de comprar um par de tênis para ele. A minha esposa lhe deu a informação e não disse nada ao meu filho. Na sexta-feira, a nossa amiga apareceu em casa com o presente, e a Kelly, depois de dar-lhe as boas-vindas, chamou o dono do presente para recebê-lo. Com os olhinhos brilhando, o Israel logo abriu o embrulho, e, ao pegar o tênis, foi logo dizendo: “Eu sabia! Da minha cor predileta! Do jeitinho que eu pedi para Deus me abençoar!” E, virando-se para a nossa amiga, disparou: “Teresinha, não foi você que me deu este presente! Foi Deus que tocou em seu coração para me abençoar, pois eu dei uma oferta do meu dinheiro no domingo, lá na igreja, e como eu sabia que Deus me abençoaria, orei para Ele me dar um tênis novo, da cor que eu mais gosto!” Quando a irmã Teresinha foi embora, ele confessou à sua mãe: “Mãe, quando abri aquela caixa e vi o meu tênis novo, eu quase chorei!” Ele quase chorou, mas todos nós choramos! Choramos pela fidelidade de Deus e pela lição que ele aprendeu, e que também, ao mesmo tempo, ensinou a todos nós!
Há um princípio poderoso na área financeira que Paulo chama de “dar e receber”. Escrevendo à Igreja em Filipos, o apóstolo agradece a ajuda financeira por eles enviada, e usa um termo interessante para falar do relacionamento entre aquela igreja e ele: “associar”.
“Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha tribulação.” (Filipenses 4.14)
Depois de reconhecer a parceria estabelecida, ele define o gênero desta associação estabelecida entre eles, e é aí que ele nos apresenta este poderoso princípio:
“E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas necessidades.” (Filipenses 4.15,16)
Dar e receber! Há uma lei instituída por Deus, segundo a qual o princípio para se receber é dar. Quando Paulo agradece pelo que recebeu daqueles irmãos, ele explica que, através daquele ato deles, eles estavam criando um espaço legal para a intervenção divina em suas vidas, para que eles pudessem receber de Deus. O receber não existe sem o dar! Ao estimulá-los na prática do dar, o apóstolo Paulo explica que ele não os ensinava com a intenção de ser beneficiado pelas dádivas que ele estava recebendo deles, mas por causa do princípio que faria com que eles recebessem mais:
“Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito.” (Filipenses 4.17)
O apóstolo é claro em dizer que ele não estava atrás dos donativos destes irmãos, mas que o que ele na verdade queria era que o crédito deles aumentasse diante de Deus através das doações deles. Ele não estava focando só o dar, mas a inevitável conseqüência do receber.
O QUE JESUS ENSINOU
Jesus ensinou sobre “a Lei do Dar e Receber”. E revelou que ela não funciona somente em relação ao aspecto financeiro, mas também em todas as áreas das nossas vidas:
“Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.” (Mateus 7.1,2)
Quem dá julgamento, recebe julgamento. Quem mede as pessoas, é medido na proporção com que mede os outros. Não há mistérios na interpretação deste princípio, pois ele é muito claro e objetivo! Foi falando destas coisas que o Senhor Jesus nos ensinou a Lei do Dar e Receber de uma forma tão explícita assim:
“Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.” (Lucas 6.37,38)
Quem condena, recebe condenação! Quem perdoa, recebe perdão! Quem dá, recebe dádivas de volta! Ao resumir a Lei e os Profetas, Jesus falou não somente acerca do amor, mas, em Sua expressão, Ele também incluiu a Lei do Dar e Receber:
“Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas.” (Mateus 7.12)
Tenho me dedicado a viver este princípio. O que eu quero que façam a mim eu também o faço aos outros. Por que? Porque tudo o que eu dou a alguém também receberei de volta! Veja o que Provérbios diz sobre isto:
“A quem dá liberalmente, ainda se lhe acrescenta mais e mais; ao que retém mais do que é justo, ser-lhe-á em pura perda. A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado.” (Provérbios 11.24,25)
Ao que dá, o retorno é um acréscimo. Ao que deixa de dar (retém), o retorno é uma perda. A nossa generosidade faz com que prosperemos (através das nossas dádivas), e o que semeamos (como saciar a sede de alguém, por exemplo) colhemos (a nossa sede será saciada depois). Já falamos sobre a Lei da Semeadura e Ceifa no capítulo anterior, e o Princípio do Dar e Receber está ligado a esta lei.
SUPRINDO PARA SER SUPRIDO
Um dos textos mais citados pelos crentes ao se referirem à provisão divina é Filipenses 4:19, que declara que Deus suprirá, em Cristo Jesus, cada uma das nossas necessidades, segundo as Suas riquezas em glória. Mas muitos não conseguem enxergar o fato de que este texto não foi citado isoladamente, mas dentro de um contexto bem específico – a Lei do Dar e Receber! Paulo disse àqueles irmãos filipenses que, por terem suprido as suas necessidades através dos donativos enviados, Deus certamente supriria as necessidades deles:
“Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus. E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades.” (Filipenses 4.18,19)
Se quisermos ter as nossas necessidades supridas, devemos ser instrumentos de suprimento a outros. Muitos de nós impedimos que Deus nos dê por não praticarmos a lei que Ele mesmo estabeleceu para que Ele pudesse dar a nós. Recusamo-nos a suprir a Casa de Deus e as necessidades de outros, por meio da contribuição, e depois não entendemos porque não somos supridos pela intervenção divina!
ENTENDENDO A BEM-AVENTURANÇA
Ao falar com os presbíteros de Éfeso, Paulo citou uma afirmação do Senhor Jesus, aprendida diretamente de Cristo, que nos revela um princípio do reino espiritual:
“Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber.” (Atos 20.35)
Em outras palavras, o Senhor Jesus disse que é melhor dar do que receber. Acredito que este versículo expressa uma profunda verdade, que interessa não somente aos pugilistas, mas também a cada um de nós. Normalmente pensamos que dar significa perda, e receber significa lucro, pois, através do dar, deixamos de ter algo, e, através do receber, ganhamos algo.
Mas a bem-aventurança do dar não é só uma virtude espiritual, que nos proporcionará um galardão futuro lá na glória. Dar é melhor do que receber já aqui, nesta terra! Se só recebemos algo de alguém, a coisa termina por aí mesmo, para nós, e não se torna progressiva. Somente a outra pessoa fica com um crédito espiritual. Mas, se damos, acionamos uma lei espiritual que nos levará a recebermos mais do que o que demos (Lc 6.38). Portanto, dar é melhor do que receber, pois, ao recebermos, a nossa bênção está limitada somente ao que recebemos, e nada mais! Porém, através do dar, geramos um ciclo da liberação divina que sempre nos leva a termos mais do que tínhamos antes de darmos.
QUEBRANDO O EGOÍSMO
Somos extremamente egoístas – a ponto de pensarmos em dar a alguém só para recebermos mais em troca. Porém, o sistema segundo o qual Deus trabalha conosco na Lei do Dar e Receber é justamente uma forma de se quebrar o egoísmo. Ele nos ensina a darmos porque Ele não quer que estejamos presos a nada. E, quando nos desprendemos, Ele sabe que estamos demonstrando maturidade para recebermos mais.
Para muitos crentes hoje, o fato de serem abençoados financeiramente não significaria uma bênção tão grande assim, pois, devido ao seu egoísmo e imaturidade, prejuízos poderiam ocorrer até mesmo com a entrada de recursos financeiros.
O Filho Pródigo que o diga! Ele não tinha maturidade alguma para receber o que recebeu. Assim sendo, dissipou tudo! Através do nosso dar, da nossa liberação sincera e despretensiosa, acionamos um princípio pelo qual podemos receber de Deus. Mas a dádiva egocêntrica não se enquadra no todo das leis divinas quanto ao dar e receber. É o caso da filantropia espírita que mencionamos anteriormente.
Vemos pessoas na Bíblia que deram sem ser abençoadas, como Ananias e Safira, por exemplo. O ato de dar não pode ser visto isoladamente. Assim como falamos da semente que precisa morrer para germinar e frutificar, assim também, na Lei do Dar e Receber, o dar tem que ser uma entrega que quebre o egoísmo.
Não negamos que o próprio Deus instituiu a Lei do Dar e Receber, mas isto não quer dizer que barganhar com Ele seja a forma de se receber algo. Dar é melhor do que receber porque é uma ajuda no processo de se quebrar o egoísmo e nos prepara para recebermos com uma atitude melhor.
EXEMPLOS BÍBLICOS
Há uma diversidade de exemplos bíblicos que demonstram o funcionamento da Lei do Dar e Receber. Muitas vezes concluímos erroneamente que os relatos bíblicos são uma mera descrição histórica. Mas, por trás de cada episódio, há uma lição a ser aprendida:
“Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.” (Romanos 15.4)
Paulo citou este fato aos coríntios, mostrando a razão pela qual os registros históricos de Israel chegaram até nós: para nos servir de exemplo e advertência.
“Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado.” (1 Coríntios 10.11)
Portanto, gostaríamos de examinar vários destes exemplos e aprender com eles. Creio que o Antigo Testamento ilustra o Novo, enquanto que o Novo, por sua vez, explica o Antigo Testamento.
O EXEMPLO DE ELIAS
Há uma lição a ser aprendida com um ocorrido na vida do profeta Elias. Depois de ter profetizado acerca da seca em Israel, Deus o escondeu da perseguição de Acabe e o sustentou durante um certo período de forma sobrenatural:
“Veio-lhe a palavra do Senhor, dizendo: Retira-te daqui, vai para o lado oriental e esconde-te junto à torrente de Querite, fronteira ao Jordão. Beberás da torrente; e ordenei aos corvos que ali mesmo te sustentem. Foi, pois, e fez segundo a palavra do Senhor; retirou-se e habitou junto à torrente de Querite, fronteira ao Jordão. Os corvos lhe traziam pela manhã pão e carne, como também pão e carne ao anoitecer; e bebia da torrente.” (1 Reis 17.2-6)
Mas, num dado momento, a direção de Deus para Elias tornou-se diferente. Ao invés de continuar a sustentá-lo como vinha fazendo, o Senhor lhe deu uma nova direção:
“Mas, passados dias, a torrente secou, porque não chovia sobre a terra. Então, lhe veio a palavra do Senhor, dizendo: Dispõe-te, e vai a Sarepta, que pertence a Sidom, e demora-te ali, onde ordenei a uma mulher viúva que te dê comida.” (1 Reis 17.7-9)
O profeta Elias se encontrava sendo sustentado de forma sobrenatural por meio daqueles corvos. Não seria um problema para o nosso Deus Onipotente trazer o seu suprimento de água também de forma sobrenatural, mas creio que o Senhor não tinha só Elias em mente, pois Ele mencionou uma viúva em cuja vida Ele decidira intervir. Como o profeta já tinha um sustento sobrenatural e poderia continuar a tê-lo, e a mulher, por sua vez, estava diante da sua última refeição, sou levado a crer que o verdadeiro propósito do milagre era a mulher viúva. Este texto não diz que Elias foi enviado até lá por causa dela, mas é desta forma que entendo este acontecimento, pois Jesus o apresentou nestes termos:
“Na verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, reinando grande fome em toda a terra; e a nenhuma delas foi Elias enviado, senão a uma viúva de Sarepta de Sidom.” (Lucas 4.25,26)
Cristo disse que Elias foi enviado a uma viúva gentílica (para abençoá-la), e não a uma israelita. Isto mostra que o profeta não foi enviado apenas para receber algo, mas principalmente para liberar uma bênção sobre aquela mulher! Elias era o meio através do qual ela praticaria a Lei do Dar e Receber. O texto a seguir nos mostra de forma implícita esta lei:
“Então, ele se levantou e se foi a Sarepta; chegando à porta da cidade, estava ali uma mulher viúva apanhando lenha; ele a chamou e lhe disse: Traze-me, peço-te, uma vasilha de água para eu beber. Indo ela a buscá-la, ele a chamou e lhe disse: Traze-me também um bocado de pão na tua mão. Porém ela respondeu: Tão certo como vive o Senhor, teu Deus, nada tenho cozido; há somente um punhado de farinha numa panela e um pouco de azeite numa botija; e, vês aqui, apanhei dois cavacos e vou preparar esse resto de comida para mim e para o meu filho; comê-lo-emos e morreremos. Elias lhe disse: Não temas; vai e faze o que disseste; mas primeiro faze dele para mim um bolo pequeno e traze-mo aqui fora; depois, farás para ti mesma e para teu filho. Porque assim diz o Senhor, Deus de Israel: A farinha da tua panela não se acabará, e o azeite da tua botija não faltará, até ao dia em que o Senhor fizer chover sobre a terra. Foi ela e fez segundo a palavra de Elias; assim, comeram ele, ela e a sua casa muitos dias. Da panela a farinha não se acabou, e da botija o azeite não faltou, segundo a palavra do Senhor, por intermédio de Elias.” (1 Reis 17.10-17)
Se aquela mulher tivesse comido a sua última refeição, ela não teria mais como acionar a Lei do Dar e Receber. Há muitos anos atrás, li num estudo bíblico do irmão Dave Roberson uma aplicação deste exemplo. Ele dizia que é nos momentos de maior necessidade que devemos nos abrir para darmos.
Muitos crentes, na hora do aperto financeiro, cortam do seu orçamento justamente o que jamais deveria ser cortado: a Lei do Dar (e Receber). Eu passei então a seguir o conselho do irmão Roberson e eu tenho dado nas horas em que menos tenho para dar. Tenho vivido isto, e sempre vejo a provisão de Deus! Ainda que nem sempre ela seja instantânea, todavia nunca falha! Nas horas de dificuldades financeiras, precisamos estar atentos porque Deus sempre cria oportunidades para que possamos dar do pouco que temos. Precisamos estar atentos às oportunidades divinas que talvez não venham de forma tão clara como achamos que viriam.
Por exemplo, a Bíblia diz que alguns hospedaram anjos sem saberem (Hb 13.2). Por que será que Deus mandaria anjos sem que eles revelassem que eram anjos? Certamente não é porque os anjos precisem de coisa alguma, pois eles não necessitam de comida, nem de roupa, nem de hospedagem. Talvez Deus os envie só para nos testar se supriríamos as suas necessidades ou não, pois, se soubéssemos que se tratava de anjos, talvez o fizéssemos por motivos diferentes. E o envio de anjos para receber a hospitalidade reforça o que estamos dizendo, pois, embora os anjos não precisem da hospitalidade recebida, certamente a hospitalidade praticada produzirá bênçãos sobre a vida de quem a exerceu!
Há momentos em que precisamos discernir as oportunidades. Pessoas com necessidades podem estar diante de nós em momentos em que também estamos precisando de provisão. Se o nosso coração nos der um indício de que devemos ajudar, e se isto estiver ao nosso alcance, então devemos ajudar! Já ofertei na vida de pessoas simplesmente porque na hora senti o desejo de fazê-lo (mesmo sem poder), e só depois percebi que isto acabou sendo algo que Deus usou, não apenas para suprir estas pessoas, mas também para me impedir de comer uma “semente” (como se fosse “pão”), e, assim sendo, desperdiçá-la!
O EXEMPLO DE JESUS NO BARCO DE PEDRO
Numa certa ocasião, Jesus precisou usar o barco de Pedro, e ele o disponibilizou ao Senhor:
“Aconteceu que, ao apertá-lo a multidão para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré; e viu dois barcos junto à praia do lago; mas os pescadores, havendo desembarcado, lavavam as redes. Entrando em um dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia; e, assentando-se, ensinava do barco as multidões.” (Lucas 5.1-4)
O pescador aceitou, e apesar da frustração de nada ter pescado à noite (e da necessidade de voltar ao trabalho), cedeu o barco a Jesus, e, por trás da gentileza praticada, acionou (ainda que inconscientemente) a Lei do Dar e Receber.
“Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar. Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes. Isto fazendo, apanharam grande quantidade de peixes; e rompiam-se-lhes as redes. Então, fizeram sinais aos companheiros do outro barco, para que fossem ajudá-los. E foram e encheram ambos os barcos, a ponto de quase irem a pique.” (Lucas 5.4-7)
Ele recebeu de volta por seus préstimos uma quantia de peixes que não poderia ter pescado por si só. Quando damos alguma coisa a Deus, sempre recebemos muito mais de volta!
Nunca ninguém, em ocasião alguma, jamais conseguirá vencer a Deus no dar! Tudo o que damos sempre nos voltará em boa medida, recalcada, sacudida e transbordante. Foi o que aconteceu com Pedro nesta ocasião e é também um princípio válido para nós hoje!
O EXEMPLO DE ABRAÃO
Depois de pedir a Abraão o seu filho amado (ainda que não foi necessário ele chegar às últimas conseqüências deste ato), Deus renovou com o patriarca a Sua aliança de abençoar as famílias da terra por seu intermédio (Gn 22.15-18). O patriarca foi inserido em promessas que envolviam o ato redentor de Deus para com a humanidade.
Pelo fato de que Abraão deu o seu filho ao Senhor, ele fortaleceu o direito de receber de Deus a entrega do Seu Filho como um canal de redenção a todas as famílias da Terra. A Lei do Dar e Receber não é algo que Deus impôs somente a nós, mas é também algo que Ele próprio utiliza.
O EXEMPLO DE ANA
Um belo exemplo bíblico da Lei do Dar e Receber pode ser visto na vida de Ana, a mãe do profeta Samuel. As Escrituras Sagradas afirmam que ela não podia gerar filhos, pois ela era estéril (1 Sm 1.5,6), mas, ainda assim, ela ofereceu ao Senhor Deus o filho que ela teria, caso viesse a experimentar um milagre:
“E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, e lhe deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha.” (1 Samuel 1.11)
Depois que Samuel nasceu e ela o desmamou, Ana cumpriu o voto dela, e, para dedicá-lo a Deus, ela o levou ao Templo, onde o deixou aos cuidados de Eli, o sacerdote que antes a teve por embriagada (1 Sm 1.24-28). E o que aconteceu com Ana? A lei do receber funcionou para aquela que deu:
“Eli abençoava a Elcana e a sua mulher e dizia: O Senhor te dê filhos desta mulher, em lugar do filho que devolveu ao Senhor. E voltavam para a sua casa. Abençoou, pois, o Senhor a Ana, e ela concebeu e teve três filhos e duas filhas; e o jovem Samuel crescia diante do Senhor.” (1 Samuel 2.20,21)
Ninguém vence a Deus no dar! Ele sempre nos devolve muito mais do que Lhe damos! Ana ainda não tinha nenhum filho, mas, ao dá-lo a Deus, recebeu outros cinco. E o interessante é que ela deu antes de ter para dar. Podemos dizer que foi uma dádiva de fé.
Já fiz isto algumas vezes. Já orei ao Senhor, consagrando a Ele recursos que eu ainda não tinha! Em minhas orações eu Lhe disse o que eu gostaria de ofertar, mas que antes eu precisaria receber d’Ele, para então poder devolver-Lhe. Fiz isto mesmo não tendo nada para dar nestas ocasiões, e, quando as respostas a estas orações vieram, cumpri a promessa e entreguei imediatamente o que eu havia me comprometido ofertar ao Senhor.
A Lei do Dar e Receber é tão forte que até o que votamos ao Senhor, mesmo antes de termos, já gera resultados.
O EXEMPLO DA SUNAMITA
Temos ainda uma outra lição bíblica do Antigo Testa-mento a ser examinada. Uma mulher sunamita, cujo nome não é mencionado, tratou com muita hospitalidade o profeta:
“Certo dia, passou Eliseu por Suném, onde se achava uma mulher rica, a qual o constrangeu a comer pão. Daí, todas as vezes que passava por lá, entrava para comer. Ela disse a seu marido: Vejo que este que passa sempre por nós é santo homem de Deus. Façamos-lhe, pois, em cima, um pequeno quarto, obra de pedreiro, e ponhamos-lhe nele uma cama, uma mesa, uma cadeira e um candeeiro; quando ele vier à nossa casa, retirar-se-á para ali.” (2 Reis 4.8-10)
Diante da hospitalidade praticada, Eliseu sentiu-se movido a abençoar aquela família:
“Um dia, vindo ele para ali, retirou-se para o quarto e se deitou. Então, disse ao seu moço Geazi: Chama esta sunamita. Chamando-a ele, ela se pôs diante do profeta. Este dissera ao seu moço: Dize-lhe: Eis que tu nos tens tratado com muita abnegação; que se há de fazer por ti? Haverá alguma coisa de que se fale a teu favor ao rei ou ao comandante do exército? Ela respondeu: Habito no meio do meu povo. Então, disse o profeta: Que se há de fazer por ela? Geazi respondeu: Ora, ela não tem filho, e seu marido é velho. Disse Eliseu: Chama-a. Chamando-a ele, ela se pôs à porta. Disse-lhe o profeta: Por este tempo, daqui a um ano, abraçarás um filho. Ela disse: Não, meu senhor, homem de Deus, não mintas à tua serva. Concebeu a mulher e deu à luz um filho, no tempo determinado, quando fez um ano, segundo Eliseu lhe dissera.” (2 Reis 4.11-17)
Eliseu não operava milagres como e quando ele bem entendia. Ele era um profeta guiado pelo Espírito de Deus, e, em meu entendimento, se há uma razão descrita para que ele se sentisse incomodado a abençoá-la, é justamente porque ele percebeu que ela tinha este direito; esta mulher havia acionado a Lei do Dar e Receber!
Este texto não é apenas mais uma “coincidência bíblica”, e sim mais uma parte de um quebra-cabeças repleto de figuras e exemplos de que quem dá recebe!
MUITAS VEZES MAIS
Certa vez o apóstolo Pedro lembrou a Jesus de tudo o que eles, os discípulos, haviam deixado por Ele, e perguntou-Lhe qual seria a recompensa deles:
“Então, lhe falou Pedro: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos; que será, pois, de nós? Jesus lhes respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe ou mulher, ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna.” (Mateus 19.27-29)
A resposta do Senhor Jesus Cristo ao apóstolo Pedro permite que entendamos alguns princípios ligados à Lei do Dar e Receber.
Em primeiro lugar, vemos que a recompensa de tudo o que fazemos (incluindo as nossas dádivas) não é meramente terrena! Sempre há o aspecto celestial, o aspecto do galardão! O Senhor fala de uma dimensão de honra na eternidade, na glória celestial. Além do que provamos no reino natural ao darmos, a Lei do Dar e Receber também se estende ao reino espiritual.
Em segundo lugar, Ele fala que receberemos muitas vezes mais do que deixamos para trás por causa d’Ele: as coisas terrenas! E é esta forma de recebermos que precisa ser entendida mais profundamente.
Jesus falou que receberíamos de volta algumas coisas que deixamos por amor a Ele, mas nem sempre recebemos coisas com as mesmas características da nossa entrega. Por exemplo, ao deixar casas e campos, não preciso recebê-los de volta “de papel passado”, mas posso me enquadrar na posição de receber, simplesmente por estarem à minha disposição!
Há momentos em que, na forma de recebermos o que damos, Deus nos poupa de nos centrarmos em nós mesmos.
Já afirmamos que uma das razões pelas quais Deus estabeleceu a Lei do Dar e Receber foi para quebrar o nosso egoísmo, uma vez que somos tremendamente centralizados em nós mesmos. Logo, não podemos usar esta lei só por causa do nosso egoísmo, com a intenção de darmos para recebermos algo melhor em troca. Quando damos visando só o nosso benefício próprio, quebramos um outro princípio bíblico e somos impedidos de recebermos. Observe o que diz a Palavra de Deus:
“Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres.” (Tiago 4.2b,3)
Depois de mostrar que muitos não recebem por não pedirem – o que indica que uma das formas de recebermos de Deus é pela oração e súplica – Tiago denuncia que alguns, mesmo usando a oração, não alcançam nada de Deus! E a razão de não receberem de Deus é porque estão voltados só a si mesmos! Deus não pode alimentar o nosso egoísmo! Jesus Cristo nos incluiu em Sua morte na Cruz exatamente para aniquilar este nosso egoísmo. Aí então Ele estabeleceu uma lei espiritual onde o nosso egoísmo cancela o funcionamento de outros princípios do reino espiritual. Isto se aplica com relação à oração e também com relação à Lei do Dar e Receber. No entanto, Deus não nos impede de sairmos do enquadramento da Cruz! Precisamos aprender a dar, pelo ato de dar em si, e não somente por causa da reciprocidade do receber.
A contribuição não pode ser considerada como uma espécie de título de capitalização, que eu invisto hoje só para receber amanhã. Outros princípios se somam a Lei de Dar e Receber e deve haver um funcionamento em conjunto de todos estes princípios para que vejamos os resultados.
No próximo (e último) capítulo deste livro, ensinaremos acerca do princípio do discernimento do Corpo de Cristo. Mostraremos que devemos saber discernir a oportunidade de servirmos a Deus através do nosso dar. Se não rechearmos as nossas dádivas com os sentimentos corretos, não usufruiremos de tudo o que o Senhor nos disponibilizou na Lei do Dar e Receber.