Embora não exista na Bíblia o termo “Trindade”, é empregado como uma denominação teológica para o mistério do Pai, Filho e Espírito Santo como um só Deus mas, em três distintas pessoas (Mt 28.19). Gosto deste termo, pois não nos deixa fugir da idéia que é um só Deus. Não consigo entender com minha mente a profundidade deste assunto, mas aceito de todo coração a verdade bíblica a seu respeito. Sei que “agora vemos como que por espelho, em enigma, mas então [na glória] veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido” (1 Co 13.12).
Vemos nas Escrituras uma ação conjunta dos membros da Trindade. Nenhum deles trabalha isoladamente, antes, interagem. Observemos, por exemplo, a conjugação de verbos no plural, em textos onde Deus está falando:
“E disse Deus: FAÇAMOS o homem à NOSSA imagem, conforme a NOSSA semelhança…” (Gênesis 1.26)
“Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem irá por NÓS?” (Isaías 6.8)
Em ambos os textos, vemos a forma plural, que indica haver uma espécie de “conselho” entre o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. Basta olhar a ordem de conjugação nas duas perguntas ouvidas pelo profeta:
1. “A quem [eu] enviarei” – singular: uma pessoa por trás.
2. “E quem irá por nós?” – plural: mais de uma pessoa por trás.
Diante disto podemos compreender duas verdades básicas:
1. O profeta seria enviado para representar a Trindade: O Pai, o Filho, e o Espírito Santo.
2. Embora como mensageiro fosse representar a Trindade, só um deles teria a responsabilidade de enviar.
INTERAÇÃO NA CRIAÇÃO
Na criação descrita em Gênesis foi assim. Vemos que o Pai está por trás dos planos; em Provérbios 8.30 temos a sabedoria falando e revelando que, na criação, “estava ao seu lado como arquiteto”; houve, portanto, planejamento, e isto está ligado ao Pai.
Mas após o planejamento, vem as etapas de execução na seguinte ordem: em primeiro lugar Deus fala, e em segundo acontece. Por trás da fala está Jesus, o verbo (Jo 1.1-3). Cada vez que se lê em Gênesis, “disse Deus”, vemos Jesus presente, pois Ele é a Palavra! E: “pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus”(Hb 11.3).
Troque o termo “palavra” por “Jesus”, e verá a concordância com outros textos, como por exemplo Hebreus 1.2 que, falando de Jesus, mostra que papel ocupou na criação: “por quem fez também o mundo”. Jesus Cristo é a palavra de ordem em operação; sem Ele, nada do que foi feito se fez.
Temos, portanto, uma progressão; depois do planejamento, veio a fala, a ordem para que fosse feito. E então, após a fala, veio a execução, onde tudo acontece. E quem está por trás do papel de “fazer acontecer”? É o Espírito Santo, que “pairava” sobre a face das águas (Gn 1.2).
Alguns comentaristas da Bíblia dizem que a palavra traduzida do hebraico para “pairava”, está ligada ao ato da galinha de “chocar” seus ovos. Não é de se pensar, portanto, que o Espírito Santo estivesse brincando na água; apenas aguardava a palavra de ordem para realizar a obra! E à medida que a voz se fazia ouvir, Ele a executava.
Numa obra de construção civil, vemos pelo menos três tipos de pessoas (e trabalhos) envolvidas na construção de qualquer edifício:
1) arquiteto – responsável pelo planejamento.
2) mestre de obras – responsável por dar as ordens de execução do plano do arquiteto.
3) o pedreiro – aquele que executa a ordem do mestre de obras.
Na criação ocorreu algo semelhante: o Pai planejou, Jesus deu as ordens e o Espírito Santo as executou. Isto é interação!
INTERAÇÃO AO GERAR O CORPO DE JESUS
Como Deus, Jesus Cristo é pré-existente, mas seu corpo precisou ser formado, e nesta ocasião também vemos a interação da Trindade. A formação do corpo de Jesus é atribuída a Deus Pai, como declarou o autor da epístola aos hebreus: “pelo que, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas um corpo me preparaste” (Hb 10.5).
A participação de Deus Pai foi o planejamento, uma vez que a execução não foi realizada diretamente por Ele. Há um texto que descreve a participação do Filho e do Espírito Santo nesta interação:
“Respondeu-lhe o anjo: Virá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; por isso o que há de nascer será chamado santo, filho de Deus. Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.” (Lucas 1.35 e 38)
Em segundo lugar (como na ordem da criação), temos a Palavra em ação. Maria reconhece que o anjo é só um mensageiro e que as palavras não são suas, mas de Deus; e reconhecendo o poder criativo da Palavra, diz: “cumpra-se em mim segundo a tua palavra”. Aqui é o Verbo em ação.
Mas em terceiro lugar é que vem a execução: “Virá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra”. A semente é a Palavra trazida pelo anjo mas, é o Espírito Santo quem vai faze-la gerar!
INTERAÇÃO NO TRABALHO NA IGREJA
No que diz respeito ao agir de Deus na igreja, também vemos esta interação da Trindade:
“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.” (1 Coríntios 12.4-6)
Fico entristecido quando alguns pregadores “atropelam” este ensino de Paulo, e tudo o que enxergam e ensinam em termos do agir de Deus na Igreja acaba sendo genericamente intitulado como “dons espirituais”. Já tenho lido algumas listas onde foram relacionados quase 30 dons do Espírito Santo. Chamam tudo de dom do Espírito, mas não é assim; não podemos bater tudo num liquidificador para depois tomar o “milk-shake” seja lá qual gosto que venha a ter… O texto fala sobre três coisas distintas: dons, ministérios e operações.
Os dons são nove (1 Co 12.8-10), e quem está por trás desta manifestação é o Espírito Santo. Os ministérios são cinco (Ef 4.11), e quem está por trás deles é Jesus; o termo “Senhor” usado por Paulo, refere-se a Cristo, como o é em todo o Novo Testamento. As operações tem Deus por trás de si, e isto é uma referência ao Pai; aliás, sempre que o termo “Deus” aparece de forma genérica sem a especificação de qual membro da Trindade está em evidência, ela está apontando para o Pai. Socorros, governos, exortação, misericórdia, etc… são operações (1 Co 12.28-30 e Rm 12.6-8); para facilitar, tudo o que não estiver na relação dos nove dons e dos cinco ministérios, se enquadra nas operações de Deus na Igreja.
Mas qual a importância de examinarmos tão detalhadamente esta interação?
Primeiramente é demonstrar um princípio, uma doutrina bíblica. Depois é tentar deixar mais claro o papel do Espírito Santo em nossas vidas hoje. E para isto consideremos mais um exemplo desta interação da Trindade: a redenção. E é aqui onde eu realmente queria chegar: no papel do Espírito Santo de aplicar em nós a obra da redenção.
INTERAÇÃO NA REDENÇÃO
Na redenção do homem caído, deturpado pelo pecado, os membros da Trindade mostram a mesma DISTRIBUIÇÃO DE TAREFAS encontradas nas demais áreas de interação que examinamos. Novamente, o Pai está por trás dos planos; Efésios 1.3-5 nos revela isto ao declarar que o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus nos elegeu e predestinou em Cristo para sermos filhos de adoção.
Predestinar é destinar de antemão, é traçar um plano, um alvo. É aqui que começou a redenção com o Pai, na eternidade; não foi na cruz. A cruz foi parte do cumprimento do plano; Paulo diz a Timóteo que Deus nos salvou segundo o seu próprio propósito e graça antes dos tempos eternos, mas a salvação só chegou aos homens após o aparecimento de nosso Senhor Jesus (2 Tm 1.9,10).
Jesus colocou-se como voluntário para encarnar como homem e morrer por cada um de nós. Esta voluntariedade é atestada pelo próprio Jesus quando afirmava que Ele mesmo dava sua vida (Jo 10.17,18) e por Paulo que afirmou acerca do Mestre bendito: “o qual se deu a si mesmo por nós” (Gl 1.4).
A parte de Jesus se resume na encarnação, morte, ressurreição, ascensão e sacerdócio (Hb 7.25).
O Pai planejou a redenção. O Filho pagou o preço e tornou-a disponível. Mas quem fará com que tudo isto se torne realidade na individualidade de cada ser humano?
É o Espírito Santo! Sem Ele, a obra da redenção não é completa.
O PAPEL DO ESPÍRITO SANTO NA REDENÇÃO
O arrependimento começa no homem por uma ação divina. Sabemos disto porque Paulo disse aos romanos que é a bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento (Rm 2.4). E quem está por trás disto? É o Espírito Santo; Jesus disse: “quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça, e do juízo” (Jo 16.8). Após o arrependimento, quando o homem exerce a fé em Jesus e na obra da cruz, é o Espírito Santo quem faz com que isto se torne realidade nele.
Por isso se diz que ao nascer de novo, o homem é nascido do Espírito (Jo 3.6). E na carta a Tito lemos acerca do lavar da regeneração do Espírito Santo (Tt 3.5), o que mais uma vez aponta para a atuação do Espírito na aplicação da redenção no homem.
Mas isto é apenas o começo. O reino de Deus tem três etapas básicas pelas quais o homem deve passar: porta, caminho, e alvo. A porta é a entrada por meio de Jesus Cristo. O alvo é a chegada à estatura do varão perfeito e à glória celestial.
E entre a porta e o alvo, o que restou é o caminho. O Espírito Santo não apenas nos faz passar a porta, mas é quem leva-nos até o alvo, e para isto usa o caminho.
O caminho é o período onde experimentaremos o tratamento de Deus em nós na vida cristã; é o meio pelo qual se vai ao alvo. E tudo isto é responsabilidade do Espírito Santo; é Ele quem nos transforma de glória em glória na imagem do Senhor (2 Co 3.18), produz em nós seu fruto (Gl 5.22,23), e nos leva a andar e viver n’Ele (Gl 5.25).
A Nova Aliança é chamada por Paulo de o ministério do Espírito (2 Co 3.8), mostrando-nos seu papel de produzir em nós a obra de Deus. O Espírito Santo veio concluir a obra da redenção; é por isso que Ele está em nós.
Estes princípios devem nos levar a uma comunhão mais íntima com Deus, uma vez que entendemos a necessidade de se entregar plenamente ao Espírito Santo em nosso andar em Deus.