Conta-se que durante um congresso que visava determinar qual foi a primeira profissão do mundo, um médico defendendo o seu lado foi logo dizendo: Quem você acha que fez aquela delicada cirurgia de transplante de costela? Um arquiteto logo se levantou e vociferou: Pois saiba que a criação do mundo foi a mais linda obra de arquitetura já feita. Um economista presente, em tom amargo, admitiu: Nós chegamos antes, quando tudo se transformou em um caos. Ora, nós sabemos as causas primeiras dos desastres humanos, pois “por um só homem que entrou o pecado no mundo e pelo pecado, a morte” (Rm 5.12). Cada um de nós tem a sua parcela de responsabilidade na criação das crises.
Ainda ouço pessoas comentando que a crise jamais chegará ao Brasil, mas precisamos admitir que ela já chegou. Estamos em pleno processo, ainda em doses homeopáticas, é claro, mas surtirá seus efeitos. Na esteira destes acontecimentos teremos mais oportunidade de crescimento, pois em meio a desastres existenciais, as pessoas procuram soluções, quem mais, além de nós, como cristãos tem condições de apontar o norte. Um avivamento em torno da busca de princípios bíblicos poderá ser atiçado. Temos a faca e o queijo na mão, mas nem sempre oferecemos material de boa qualidade.
Muitas crises são fabricadas pela indústria das “falsas soluções”, mas não precisamos fazer nada neste sentido, pois nosso chamado não é para inventar, mas trazer soluções antigas para problemas novos. Líderes carismáticos precisam de problemas para sobreviver, igrejas especulativas crescem em meio a crises, mas a literatura e a Igreja cristã, como um todo, deve permanecer isenta, se quiser crescer diante de Deus.
Talvez vejamos o cumprimento final de uma era apocalíptica, pois o anticristo se mostrará um excelente administrador de crises que ele e seus aliados criaram o ainda criarão. É sempre bom lembrar que, o mercado de almas é especulativo e não sabemos o que passa na cabeça das pessoas que estão dando as cartas. A moderação nesse momento é o melhor remédio. Moderação diante dos vaticínios, das previsões, das ofertas que este mercado, onde almas se transformaram em moeda de troca, oferece a um povo carente de direção.
Seremos tentados a surfar nesta onda, mas se comer a gordura do altar e alimentar o nosso próprio ventre é tudo o que temos para fazer, quem somos então? Está na hora de fazer a diferença e divulgar caminhos e soluções divinas, coisa que o mundo ainda não conhece. Cuidado com a tentação de absorver “soluções” empacotadas, liturgias ocas, declarações mágicas e pirotecnia litúrgica, que dão IBOP, mas não funcionam de verdade. A ascensão da teologia utilitária tirou de nós a sede da santificação, tudo o que precisamos para ver a Deus.
Ubirajara Crespo