“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem” Mt 7: 13- 14.
Após demonstrar no que consiste as leis e os profetas (Mt 7: 12), Jesus aponta a necessidade de entrar pela porta estreita. Em seguida Ele dá o motivo porque é necessário entrar pela porta estreita:”Pois larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição..”.
Diante da necessidade exposta, surgem as perguntas: O que é a porta estreita? Como entrar nesta porta? Por que a necessidade de entrar na porta estreita é apresentada como única saída para livrar-se da porta larga e do caminho que conduz a perdição?
O versículo 12 encerra uma exposição que teve início no capítulo 5, verso 17, quando Jesus diz:”Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o vós também a eles, pois esta é a lei e os profetas” (Mt 7: 12), Ele encerra a exposição que teve início com este versículo: “Não penseis que vim destruir os profetas; não vim para destruí-los, mas para cumpri-los” (Mt 5: 17).
Após apresentar as bem-aventuranças aos seus discípulos (Mt 5: 1- 12), e demonstrar a condição deles perante os homens (Mt 5: 13- 16). Jesus esclarece alguns aspectos importantes para se entender sua missão:
a) Não veio destruir e nem descumprir a lei e os profetas (v. 17);
b) Era impossível aos seus ouvintes entrarem no reino dos céus seguindo o caminho dos escribas e fariseus (v. 20);
c) Demonstra exemplos práticos de como lhes era impossível entrar no reino dos céus através do cumprimento da lei, seguindo o caminho dos escribas e fariseus (Mt 5: 21 à 7: 11);
d) Demonstra também que a lei e os profetas resume-se em um só mandamento: amar o próximo como a si mesmo (v. 12).
As exposições de Jesus não são palavras soltas, ou idéias desconexas. Perceba que o verso 13 é a resposta à impossibilidade apresentada por Jesus no verso 20. Somente aquele que entra pela porta estreita é que alcança justiça superior a dos escribas e fariseus.
A mensagem que o Senhor Jesus trás é una, concisa e precisa no que propõe, porém ele a expõe de muitas maneiras, para que, tanto o leigo (sermão do monte), quanto o erudito (Nicodemos), recebam a mesma mensagem de forma que possam entender. Ora, tudo o que foi demonstrado no Sermão do Monte, Jesus também revelou a Nicodemos, conforme o registrado pelo apóstolo João no seu Evangelho:
a)Era impossível a Nicodemos entrar no reino dos céus, embora representasse o melhor da religião, do comportamento, e da moral humana;
b)Jesus demonstra que o caminho seguido por Nicodemos não o conduziria à salvação, antes, era necessário nascer de novo;
c) Da mesma forma que é necessário nascer de novo, também é necessário entrar pela porta estreita, ou seja, a figura do novo nascimento equivale a figura da porta estreita.
Isto demonstra que a entrada pela porta estreita é o novo nascimento. Não há outro meio de acesso à porta estreita, a não ser através do novo nascimento pela fé em Cristo (Jo 3: 16).
Por que é preciso nascer de novo? Para escapar do caminho que leva à perdição (Jo 3: 16), ou seja, para deixar o espaçoso caminho que leva à perdição (Mt 7: 13).
Quando Jesus disse a Nicodemos que era necessário nascer de novo, ele estava demonstrando que era impossível alcançar a vida eterna seguindo o caminho que estava trilhando. O problema maior de Nicodemos não estava na prática da lei, o caminho que ele pensava dar acesso a Deus. O maior problema do mestre em Israel estava na porta que ele havia entrado, quando nasceu.
Ou seja, é o nascimento que faz o homem entrar pelas portas, tanto para a porta larga, quanto para a porta estreita.O homem entra pela porta larga quando vem ao mundo, quando nascem da semente de Adão (semente corruptível). E entra pela porta estreita quando nasce da Palavra de Deus (a semente incorruptível) (l Pe 1 :23).
Nicodemos precisava nascer de novo, uma vez que era nascido segundo Adão, e era, portanto, filho da ira e da desobediência. Por mais que procura-se seguir os quesitos da lei, o seu caminho era de perdição, pois a porta que Nicodemos entrara era larga, e como “muitos”, ele seguia para a perdição.
Porém, após ouvir a mensagem do evangelho, e crer em Cristo (o enviado de Deus), Nicodemos nasceria de novo, da semente incorruptível (que é a palavra de Deus), tendo acesso à porta estreita, e que “poucos” a encontram.
Verifica-se então que a parábola dos “dois caminhos” refere-se à necessidade do novo nascimento, e que o cumprimento da lei diz respeito ao amor ao próximo, e não à salvação, como pensavam. Se a lei fosse para a salvação, não seria preciso Moisés clamar ao povo logo após a entrega da lei:”Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz”(Dt 10: 16).
Observe que o cumprimento da lei real somente tem valor após a obediência ao mandamento divino, que é: “Ora, o seu mandamento é este, que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo…” (I Jo 3: 23), ou seja, amar o próximo, somente é válido “…segundo o mandamento que nos ordenou” (v. 23)”Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis” (Tg 2: 8).
O discurso de Jesus e Paulo em momento algum destoa, visto que &l
dquo;entrar pela porta estreita” é o mesmo que “viver em Espírito”, ou seja, “o novo nascimento”. Andar no caminho apertado que conduz a vida é o mesmo que “andar em Espírito”, ou seja, andar como filhos da Luz (Gl 5: 25; Ef 5: 8).
Espero que esta exposição faça com que, você leitor, repense as questões sobre a necessidade de se entrar pela porta estreita.
Claudio Crispim